O embaixador Vasily Nebenzya afirmou na reunião do Conselho de Segurança da ONU que os EUA estão “jogando gasolina no fogo” ao realizar ataques a países da região. Em paralelo, o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, pediu uma “desescalada”, advertindo que o Oriente Médio é “uma caldeira que pode explodir”.
Os ataques aéreos dos EUA – os “maiores desde 2003” – contra o Iraque e a Síria “visam deliberadamente atiçar ainda mais o conflito” no Oriente Médio, disse o representante permanente da Rússia na ONU, Vasily Nebenzya, durante reunião em caráter de urgência do Conselho de Segurança convocada a pedido de Moscou após os ataques aéreos perpetrados pelos EUA.
“Atacando recentemente, quase sem pausa, instalações supostamente de grupos pró-iranianos no Iraque e na Síria, os Estados Unidos estão tentando atrair propositalmente os maiores países do Oriente Médio para um conflito regional”, advertiu Nebenzya.
“Pedimos à comunidade internacional que condene inequivocamente as ações imprudentes de Washington e seus aliados no Oriente Médio que violam a soberania do Iraque e da Síria”, disse o diplomata russo.
“A maior operação aérea dos EUA na região desde 2003, apresentada por Joe Biden como um ato de retaliação a um ataque de UAV de origem não identificada a uma base americana localizada ilegalmente na Síria, não tem justificativa”, sublinhou Nebenzya, se referindo a Al Tanf, que sustenta a ocupação de um terço do território sírio pelos EUA e a pilhagem de petróleo e trigo.
“Os ataques em grande escala da Força Aérea dos EUA, que resultaram na morte de civis e militares, arruinando e danificando dezenas de instalações, demonstraram mais uma vez a essência agressiva da política dos Estados Unidos no Oriente Médio e a completa negligência das normas de direito internacional por Washington”.
“As ações dos anglo-americanos representam uma ameaça direta à paz e segurança internacionais e minam a ordem mundial que se baseia na supremacia do direito internacional universal e no papel central das Nações Unidas”, disse o diplomata russo.
O diplomata russo argumentou que os EUA estão “jogando gasolina no fogo” ao realizar ataques que representam “uma ameaça direta à paz e à segurança internacionais” e minam “o papel central da ONU”. Ele reiterou que as bases americanas na Síria são “ilegais” porque a presença militar americana não foi autorizada por Damasco.
“A maior operação aérea dos EUA na região desde 2003 (…) não pode ser justificada”, continuou Nebenzya. “Washington, acreditando na sua impunidade, continua a causar destruição e destruição no Oriente. A Rússia condena ações dos EUA e Reino Unido no Oriente Médio como ameaças à paz e à segurança”.
Nebenzia também se dirigiu à secretária-geral adjunta Rosemary DiCarlo, que introduziu a reunião do CS, enfatizando não ter ouvido dela “o mais importante: a condenação incondicional das violações do direito internacional por parte dos Estados Unidos e do Reino Unido”.
Ele também disse que a participação do Reino Unido em ataques dos Estados Unidos “não deve criar a ilusão de uma certa coalizão internacional para ninguém”.
Em seu pronunciamento, o representante norte-americano, Robert Wood, asseverou que os ataques foram “necessários e proporcionais, consistentes com o direito internacional e no exercício do direito inerente dos Estados Unidos à autodefesa”.
No ataque ao complexo de Al Tanf, três soldados norte-americanos foram mortos e 40 ficaram feridos, segundo o Pentágono.
BOCA DE URNA DE BIDEN
Nebenzia também fez referência a uma das motivações do governo Biden para a escalada no Oriente Médio, no momento em que ele vai mal nas pesquisas sobre a reeleição e em que uma parcela ponderável da juventude norte-americana se afasta por sua cumplicidade com o genocídio que Israel comete em Gaza.
“Vemos principalmente nestas tentativas de flexibilizar os músculos a aspiração de influenciar o cenário político interno na América, o desejo de de alguma forma consertar a imagem fracassada do atual governo dos EUA no cenário internacional à luz da campanha presidencial pré-eleitoral ganhando impulso”, disse o diplomata.
Em seu pronunciamento sobre o ataque, Biden fez questão de nomear a Guarda Revolucionária Iraniana como alvo. Ele também frisou que a escalada irá continuar.
CUMPLICIDADE COM NETANYAHU
Registre-se que os ataques ao Iraque e Síria ocorreram em paralelo aos bombardeios ao Iêmen e à perseguição à agência da ONU de assistência aos refugiados Palestinos, cujo financiamento foi cortado por ordem de Biden, pouco mais de 24 horas da decisão da Corte Internacional de Justiça de prosseguir com a investigação sobre o genocídio em Gaza, tendo como base uma acusação não comprovada do regime Netanyahu de que 12 entre 30.000 funcionários da UNRWA teriam “envolvimento” com o ataque do Hamas contra a ocupação de 7 de outubro, e uma semana após a ONU advertir que a população de Gaza está diante de uma “fome catastrófica”.
Uma canalhice que nem mesmo o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, se sentiu em condição de subscrever, dando como exemplo que se em um hospital europeu alguns funcionários cometessem crimes, ninguém pensaria em fechar o sistema de saúde por causa disso. Embora haja sido subscrita caninamente por Berlim e Paris.
Noruega, Espanha e Bélgica anunciaram que manterão o financiamento da UNRWA e instaram os demais doadores a reverem seu corte.
“CALDEIRA QUE PODE EXPLODIR”
Borrell também reagiu à escalada advertindo que o Oriente Médio “é uma caldeira que pode explodir”. “Pedimos a todos que tentem evitar uma escalada. Estamos vivendo uma situação crítica no Oriente Médio, em toda a região”, enfatizou.
Para deixar evidente o caráter de escalada, Biden enviou bombardeiros B1 estratégicos decolarem do Texas para bombardear o Iraque e a Síria, quando dispunha de muitos ativos já plantados na região, onde os EUA mantém várias bases e dezenas de milhares de soldados, e onde está operando um grupo naval capitaneado por um porta-aviões nuclear.
Enquanto isso, o regime Netanyahu ameaça invadir o Líbano para “esmagar o Hezzbolah”, continua cometendo genocídio em Gaza e advoga abertamente o fechamento da agência da ONU de assistência aos refugiados palestinos, instituída em 1949 pela Assembleia Geral da ONU, após a Nakba, e a qual acusa de “perpetuar a questão palestina”.
Já são 100 mil as vítimas palestinas da agressão colonial punitiva de Israel em Gaza, entre mortos (27 mil), feridos (66 mil) e desaparecidos (7 mil).
Os bombardeios norte-americanos à Síria e ao Iraque provocaram cerca de 39 mortos, segundo avaliações iniciais, inclusive de civis, e, segundo Washington, atingiram “85 alvos”.
“OUTRO ERRO AVENTUREIRO E ESTRATÉGICO DOS EUA”
O Irã reagiu ao ataque norte-americano aos dois países árabes classificando-o de “outro erro aventureiro e estratégico dos Estados Unidos que resultará apenas no aumento da tensão e na instabilidade na região” e instando o CS da ONU a prevenir “ataques ilegais e unilaterais dos EUA na região”.
Antes das provocações dos EUA de sexta-feira passada, o presidente iraniano, Ebrahim Raisi, dissera que o Irã não iniciaria uma guerra, mas que “responderia fortemente a qualquer um que tentasse intimidá-lo”.
A Síria condenou a “flagrante violação americana” e rejeitou categoricamente “todos os pretextos e mentiras promovidos pelos EUA para justificar este ataque”. Damasco também acusou Washington de atacar as forças sírias encarregadas de conter os remanescentes do Estado Islâmico. Acrescentou, ainda, que está determinada a libertar todo o território sírio de todo o terrorismo e ocupação, incluindo a ocupação dos EUA, que “não pode persistir”.
O porta-voz das Forças Armadas do Iraque, Yahya Rasool, chamou os ataques norte-americanos de “violação da soberania iraquiana”, que poderá “arrastar o Iraque e a região para consequências indesejáveis, os resultados serão terríveis para a segurança e estabilidade no Iraque e na região”.
IÊMEN: ENCERREM O CERCO DE ISRAEL A GAZA
No sábado (3), EUA e Reino Unido voltaram a bombardear o Iêmen, tendo perpetrado mais de 35 ataques contra 13 cidades iemenitas, inclusive Sanaa, a capital, segundo o canal libanês Al-Mayadeen. “A continuação dos ataques americanos e britânicos contra o Iêmen não alcançará nenhum objetivo para os agressores, mas aumentará os seus dilemas e problemas a nível regional”, afirmou o porta-voz dos revolucionários do movimento Ansarallah, Muhamad Abdel Salam no domingo (4).
Dirigindo-se aos governos dos EUA e do Reino Unido, Abdel Salam recomendou que em vez de criar tensões e abrir uma nova frente na região, prestem atenção à opinião pública internacional, que exige a cessação imediata da agressão israelense, o levantamento do cerco de Gaza e não proteger Israel à custa do povo palestino.
Diante do cerco total israelense que está matando os palestinos de Gaza de fome e os bombardeios inclementes e expulsão dos palestinos de seus lares, o Iêmen decidira bloquear a passagem no Mar Vermelho às embarcações israelenses ou transportando cargas para Israel, o que vem fazendo desde novembro, e que só foi ampliado para embarcações norte-americanas e inglesas quando Washington e Londres começaram a bombardear o país.
As capacidades militares do Iêmen – advertiu o porta-voz – não podem ser facilmente destruídas, uma vez que foram reconstruídas durante anos de uma guerra dura.