Função do ‘coach’ no bando era capturar e-mails para alimentar golpes e estelionatos. Ele usava codinome “Delegado Federal”. “Tira essa porra daí”, repreendeu o chefe da quadrilha. Veja a íntegra das conversas abaixo
Áudios do processo na 11ª Vara da Justiça Federal de Goiânia, em poder da Polícia Federal, comprovando a ligação de Pablo Marçal com a quadrilha de fraudes bancárias em Goiás, já chegaram às mãos do site de notícias UOL e dão detalhes da prisão e da condenação do ‘coach quadrilheiro’ que agora disputa a eleição da prefeitura de São Paulo.
O Ministério Público Federal denunciou Marçal pelos crimes de furto qualificado, associação criminosa e quebra de sigilo indevido de instituições financeiras. Ele foi condenado em 2010 por furto qualificado.
Num dos áudios, Marçal conversa com o chefe da quadrilha, Danilo Oliveira, que também era pastor de uma igreja evangélica. Os bandidos falam em captura de e-mails para que golpistas pudesse agir. No áudio, o chefe da quadrilha repreende Marçal pelo uso do apelido “Delegado Federal” em conversas de MSN Messenger. “Tira essa porra daí”, diz o chefe do bando ao novo integrante da quadrilha.
As gravações obtidas também indicam que Pablo Marçal ficou apavorado com as primeiras prisões que atingiram o grupo criminoso, na Operação Pégasus, deflagrada em agosto de 2005.
Em 31 de agosto de 2005, Marçal foi preso em casa pela Polícia Federal e condenado em primeira instância a quatro anos e cinco meses de prisão por furto qualificado, em abril de 2010. Durante a prisão, ele dedurou seus comparsas.
Na cadeia, Marçal explicou como funcionava o esquema criminoso. O coach captava endereços de e-mail para que a quadrilha enviasse mensagens com o intuito de capturar os dados bancários dos usuários.
O chefe do bando, Danilo Oliveira explicou ao novo integrante da quadrilha como funcionariam as fraudes. Marçal capturava e-mails e os repassava para Danilo. Este iria fazer programas invasores (SPAM), que simulariam páginas de instituições bancárias para com isso capturar os dados dos correntistas. E, assim vários golpes foram dados na praça fazendo centenas de vítimas.
Em seu depoimento, o chefe da quadrilha também entregou Pablo Marçal. “Eu não cheguei a fazer [captura de e-mails]. Eu tinha uma pessoa, que é o Pablo, que tá sendo indiciado, que fazia pra mim. Ele capturava e-mails. Isso aí é bom falar mesmo, porque quando eles me prometeram vender o programa, falou ‘ó, cê vai capturando e-mails aí, que quando você tiver uma lista boa de e-mails, eu vou mandar um programa pra você’”, confessou.
No começo, Pablo Marçal tentou se safar de seus crimes, mas as provas eram robustas contra ele, e ele acabou confessando. Depois, o próprio Pablo diante da polícia, se confundiu e acabou se entregando, quando disse que, a partir de uma senha, outro integrante da quadrilha passou a ter acesso “a todas as contas bancárias que seriam fraudadas por Danilo e Nenê”.
Danilo também seguiu comprometendo Pablo Marçal em seu depoimento à Polícia Federal . Ele abriu o esquema criminoso e deu o nome de Pablo Marçal. “Então eu peguei, coloquei dois computadores na [casa na rua] Pouso Alto e pus o Pablo para capturar pra mim, que ele tinha maior conhecimento de informática”, afirmou.
TRANSCRIÇÃO DOS ÁUDIOS ENTRE OS BANDIDOS
Em 3 de agosto, Danilo Oliveira, apontado como chefe do esquema e pastor de uma igreja, liga para a casa de Pablo Marçal o procurando.
Priscila: Alô.
Danilo: Quem fala?
Priscila: É a Priscila.
Danilo: Cadê o Pablo?
Priscila: O Pablo tá trabalhando lá no Danilo. Quem é?
Danilo: Danilo (risos).
Priscila: Ah, é você? Ah, ele não tá aqui, não.
Danilo: Ele tá com outro celular lá, não?
Priscila: Ele deixou o celular aqui ontem para carregar.
Danilo: Sei. Então tá bom. Ele tá sem celular, né?
Priscila: Tá.
Danilo: Tá bom, obrigado.
Em 16 de agosto, Marçal pede dinheiro a Danilo.
Danilo: Alô?
Marçal: Fala, pastor!
Danilo: E aí, garoto?
Marçal: Bom? Tá longe?
Danilo: Não, tô chegando em casa pra almoçar.
Marçal: Posso passar aí?
Danilo: Tô até meio sem dinheiro, do que você precisa?
Marçal: Ah, de uns 40 conto tá bom.
Danilo: Oi?
Marçal: Uns 40 conto tá bom.
Danilo: Só uns 40? 40 é muito… Tem que ser só uns 20…
Marçal: Então só arruma 30 e aí nós fica feliz.
Danilo: Chega aí pra nós ver o que que faz.
Marçal: Falou, então.
Em 19 de agosto, Danilo chama Marçal para ‘trabalhar’ na sua casa.
Danilo: Garoto, preciso de você urgente.
Marçal: Pó falar.
Danilo: Não, trabalhar, ué. Cê tá onde?
Marçal: Tô em casa.
Danilo: Então desce aqui para minha casa urgente.
Marçal: Então falou.
Danilo: Para nós organizar uns trem ali. Porque eu vou viajar domingo e preciso organizar uns trem e conversar com você.
TIRO NA BARRIGA
Em 20 de agosto, Marçal conta para a namorada que estava ‘brincando’ com um revólver.
Marçal: Eu estava brincando agorinha de atirar com revólver.
Namorada: Ah, é? Que brincadeira sem graça.
Marçal: Ele colocou o revólver em mim, e eu com colete. Aí ele tava fingindo um assalto. E eu fui tirar minha carteira, e ele pensou que eu estava dando uma de bobo. E eu arrumei a mão no revólver. Ele meteu bala. Ele pegou lá dentro da igreja. Aí eu fui atirar nele. Ele pensou que era esperto demais, né? Na hora que ele deu qualquer movimento, eu meti um tiro na barriga dele. Aí ele caiu para trás, porque é pesado levar um tiro no colete. Foi massa. Os meninos ficou doidinho.
CAPTURANDO E-MAILS
Diálogo de 21 de agosto de 2005 entre Marçal e Danilo.
Marçal: Tô capturando aqui, chefe. Negócio tá bom. Negócio aqui em casa tá bom. Capturei hoje o dia inteiro.
Danilo: Mas tem que prestar atenção nas listas. Você vê, aquela lista que você fez, com o JC (software) aqui em casa, muito ruim. A minha que eu fiz, muito boa, tudo bom, quase tudo bom, entendeu? Tem que prestar atenção nisso aí, ver como que tá fazendo. O que é e tal. O segredo é olhar os webmail direitinho.
Após algumas prisões de integrantes do grupo, as interceptações telefônicas mostram como Marçal reagiu.
Ainda em 21 de agosto, Marçal é cobrado pela qualidade dos e-mails que está ‘capturando’.
Danilo: Quero ver a produção de e-mail capturado. Aquele e-mail que você capturou no primeiro dia não tava bom, não.
Marçal: Da primeira vez?
Danilo: É.
Marçal: Os que eu tô pegando não tem como eu enviar de lá, não?
Danilo: É mais para capturar, filho.
Marçal: Então tá.
‘PRIMOCORRERIA’
Diálogo de 24 de agosto de 2005 entre Marçal e Danilo.
Marçal: Faz o seguinte, eu coloco os que eu for enviar pra depois você entrar e enviar depois… Você fez dois e-mails, não fez? Eu entro no seu e-mail, com a senha daquele ‘primocorreria’, mando dele pro meu, só que fica salvo dentro do seu. Aí esse ‘primocorreria’ é o que eu vou mandar. Agora os que eu for mandar pro ‘primocorreria2’ é pra você enviar. Entendeu?
Danilo: Beleza. Então se for mandar hoje já manda pro ‘primocorreria2’.
Marçal: Eu vou mandar agora pro ‘primocorreria2’.
BRONCA DO CHEFE
O usuário de Pablo no MSN Messenger era “Delegado Federal”, o que provoca uma discussão entre ele e Danilo em uma das conversas.
Diálogo também de 24 de agosto de 2005 entre Marçal e Danilo sobre o nickname.
Marçal: Tô mandando seu trem aqui agora. Zipado, aqui. (…) Os capturados. (…)
Danilo: Tira essa porra de ‘Delegado Federal’ aí, pô.
Marçal: Ué, por causa de quê?
Danilo: Cê é doido.
Marçal: Vou tirar aqui, só por sua causa, então.
Danilo: Eu chego aqui e vejo essa porra de ‘Delegado Federal’ no meu MSN, rapaz.
Já em outra ocasião, Marçal é censurado por Danilo por ter enviado uma lista de e-mails que o chefe do grupo considerou ruim, o que quer dizer que o envio para esses endereços teria sido mal-sucedido ao coletar dados de vítimas.
CADÊ O CHEFE?
Em 25 de agosto de 2005, Marçal conversa com a mulher de Danilo sobre prisões efetuadas pela PF.
Vaneska: Tá sabendo de alguma coisa?
Marçal: Tô sabendo… que foi preso um monte de gente.
Vaneska: É?
Marçal: É.
Vaneska: O Jony tá no meio?
Marçal: Não tô sabendo, não.
Vaneska: Me falaram agora que o Jony tá. Me ligaram aqui pra não ir embora pra casa, a mulher do Nené.
Marçal: O Danilo tá bem?
Vaneska: Não sei, o celular dele tá cortado.
Ainda em 25 de agosto, Pablo conversa com pessoa não identificada sobre a ação da PF.
Interlocutor: Cê sabe da bomba, né?
Marçal: Não.
Interlocutor: A Polícia Federal arrombou a porta do apartamento lá.
Marçal: Mesmo?
Interlocutor: Mesmo.
Marçal: Nó.
Também em 25 de agosto, Danilo diz a Marçal que foi ruim o ‘estouro’ do apartamento dele.
Danilo: E aí, meu filho. Tá de boa?
Marçal: De boa, nada.
Danilo: Por quê?
Marçal: Cê não tá sabendo, não?
Danilo: Lógico que eu tô. Mas e aí? Por que que não é de boa?
Marçal: Uai, lá no Centro. Cê ficou sabendo?
Danilo: Mas fazer o quê? Tem que dar graças a Deus que não tem envolvimento. Entendeu?
Caramba esse n podemos deixar passar já tem o presidente que era presidiário e tá no poder, agora também querem colocar outro na prefeitura de SP