Encontro extraordinário convocado para debater “migração, unidade latino-americana e caribenha e meio ambiente” foi inviabilizado por inexistir o consenso determinado pelo regimento do órgão entre os 33 países membros. Governo argentino agiu ao lado do paraguaio e salvadorenho
O presidente da Argentina, Javier Milei, sabotou a reunião extraordinária da Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), agendada para esta quarta-feira (29), convocada pelo presidente da Colômbia, Gustavo Petro, para discutir a deportação massiva dos EUA – e passando por cima dos direitos humanos – de migrantes latino-americanos
O encontro foi cancelado pois existe a necessidade de consenso entre os 33 países-membros. A falta de unanimidade também foi comprometida pelo posicionamento subserviente dos presidentes do Paraguai, Santiago Peña, e El Salvador, Nayib Bukele, além de Milei, submetidos aos ditames de Trump.
A decisão foi anunciada pela presidente de Honduras, Xiomara Castro, atual líder da Celac, frisando que a ausência de acordo impossibilitou o evento, de grande transcendência.
“Honduras lamenta que, no caso do Haiti e nesta crise humanitária dos migrantes, tenha recebido novamente a oposição sistemática de países membros que privilegiaram outros princípios e interesses diferentes da unidade da região latino-americana e caribenha como Comunidade”, apontou.
A posição do governo hondurenho é clara, sublinhou: “Os migrantes e seus direitos, tanto no trânsito para o país receptor como dentro das leis dos Estados Unidos, quanto os efeitos e o impacto social e econômico em toda a região que vai ocasionar as deportações massivas anunciadas, constituem uma preocupação comum que deve ser abordada com objetividade e responsabilidade”.
Brasil, México e Colômbia também destacaram a relevância da Celac, que reúne 33 nações, como estratégico fórum de diálogo político e cooperação, independentemente das diferenças ideológicas entre os países-membros, reforçando o equilíbrio entre a unidade e a diversidade política, econômica, social e cultural dos 663 milhões de habitantes da América Latina e do Caribe.
A presidente do México, Claudia Sheinbaum, reforçou que “nossa posição sempre será de unidade na América Latina e no Caribe”. Em relação ao fato da reunião ter sido desmarcada, ela disse “não acreditar que seja por represálias dos EUA”.
SERVIÇAL DE TRUMP, MILEI COGITA ATÉ SAIR DO MERCOSUL
Milei compareceu à posse de Trump e tem defendido um acordo bilateral de livre comércio com os Estados Unidos, cogitando até mesmo a saída do Mercosul caso seja necessário para fortalecer as relações com Washington.
Conforme o Palácio do Planalto, o presidente Lula faria um pronunciamento em defesa dos direitos humanos dos imigrantes deportados, denunciando os maus-tratos e voos em condições precárias, como o que trouxe recentemente 88 brasileiros de regresso ao país.
O governo brasileiro disse reconhecer o direito dos EUA de deportar imigrantes ilegais, mas reafirmou que não permitirá que brasileiros sejam mantidos algemados em território nacional. Ao mesmo tempo, frisou que continuará negociando para garantir condições dignas aos deportados, incluindo acesso à água, alimentação e sanitário durante os voos de repatriação.
Além do atual problema do tratamento desumano aos imigrantes, encontram-se entre as questões de interesse da região no âmbito da Celac: a luta pela unidade latino-americana, contra as alterações climáticas, a integração energética, a mitigação de desastres e seu financiamento, a nova abordagem ao problema das drogas, alimentação e igualdade de género.