Em entrevista coletiva, presidente declarou que se Trump “taxar os produtos brasileiros, haverá reciprocidade no Brasil em taxar os produtos que são importados dos EUA”
Ao ser perguntado, em entrevista na manhã desta quinta-feira (30), se os cortes já anunciados pelo governo seriam suficientes para atender ao que o mercado espera ou se haverá novas medidas fiscais, Lula respondeu dizendo que não vai discutir “o que meia dúzia de pessoas querem”.
“Se depender de mim não tem outra medida fiscal, o que nós vamos agora é pensar é no desenvolvimento sustentável do país”, prosseguiu. “A gente quer responsabilidade fiscal e a gente quer fazer o menor déficit possível, porque a gente quer que esse país dê certo. O que quero é gerar emprego, gerar renda e construir um país de classe média”, afirmou o presidente.
“Nós vamos continuar crescendo. As políticas de inclusão vão continuar se fortalecendo. A massa salarial vai continuar crescendo. O salário mínimo vai continuar sendo reajustado acima da inflação. E isso sem problemas na chamada estabilidade fiscal”, acrescentou Lula, lembrando que somente dois presidentes se ampliaram as conquistas sociais na história do Brasil, desde a proclamação da República. “Só o Getúlio e eu”, disse ele. “Diziam que Getúlio era ditador, mas foi ele que criou a CLT e tirou os trabalhadores da escravidão”, arrematou.
Sobre a elevação da taxa de juros, ele afirmou que a alta da taxa Selic, anunciada pelo Banco Central (BC), já era esperada e que “não esperava milagres”. “Em um país do tamanho do Brasil, com a responsabilidade do Brasil, o presidente do Banco Central não pode dar um cavalo-de-pau em um mar revolto, de uma hora para outra. Já estava praticamente demarcada a necessidade de subida dos juros pelo outro presidente, e o Galípolo fez aquilo que ele entendeu que deveria fazer”, afirmou. A fala do presidente confirma que a política monetária do BC deverá continuar restritiva.
Questionado qual seria a reação do Brasil em caso de se concretizarem as ameaças de Donald Trump de taxar os produtos brasileiros exportados para aquele país, Lula respondeu que se os Estados Unidos taxarem o Brasil, vai ter reciprocidade. “Se ele taxar os produtos brasileiros, haverá reciprocidade no Brasil em taxar os produtos que são importados dos EUA”, afirmou. “Ele só tem que respeitar a soberania dos outros países. Ele foi eleito para governar EUA. Outros presidentes eleitos para governar com outros países”, prosseguiu.
Sobre um possível contato telefônico de Lula com Donald Trump, o presidente afirmou que não há previsão de conversar diretamente com o novo presidente dos Estados Unidos. “Não há nenhum interesse agora, acho que nem meu, nem dele. Essas conversas só acontecem quando você tem interesse, quando tem alguma coisa para tratar. Eu mandei uma carta para o governo americano dando os parabéns pela vitória, e é isso”, disse Lula.
“Se a gente não tiver oportunidade de se encontrar, porque ele não participa dos Brics… Se eu for convidado para o G7, a gente tem chance de se encontrar. Se não, a gente vai se encontrar na ONU – se ele não desistir da ONU também”, ironizou. “Obviamente, eu acho que esse negócio de descumprir o Acordo de Paris, que não vai dar dinheiro à OMS é uma regressão à civilização humana”, completou.
Durante a entrevista, Lula também comentou sobre o preço do diesel e possíveis reações dos caminhoneiros. Ele negou que tenha autorizado aumento do combustível e explicou que a Petrobrás tem autonomia para definir reajustes. “Desde o meu primeiro mandato, eu aprendi que quem autoriza o aumento do petróleo e derivados de petróleo é a Petrobrás, e não o presidente da República”, disse. Esta é mais uma declaração de Lula que aponta no sentido de que os preços vão subir.
Segundo ele, qualquer reajuste não levaria em conta a inflação de 2023 e 2024 e ainda manteria o preço abaixo do praticado em dezembro de 2022. “Quem está aumentando é o Confaz, que está reajustando o ICMS. Esse é o aumento. O que nós estamos fazendo, se a Petrobrás decidiu fazer, é um reajuste que ainda assim vai garantir que o preço do diesel fique abaixo daquilo que era em dezembro de 2022”, explicou, admitindo que haverá reajuste do diesel.
Sobre as pesquisas, Lula disse que elas avaliam o momento. “Eu dizia ao [ex-ministro Paulo] Pimenta ‘não se preocupe com pesquisa’. Porque o povo tem razão, a gente não tá entregando aquilo que a gente prometeu. Então, como o povo vai falar bem do governo se a gente não tá entregando? É preciso ter muita paciência”, declarou.
Lula mencionou que o primeiro ano de um novo governo envolve “muita expectativa” e que depois a população passa a “saber se a expectativa que tinha está sendo cumprida”.