
Multidão marchou pelas ruas de Londres até a embaixada norte-americana contra o sinistro plano de Trump de expulsar mais de dois milhões de Gaza e criar o que chamou de “Riviera do Oriente Médio” sobre os cadáveres dos palestinos
Milhares de pessoas marcharam até a Embaixada dos Estados Unidos em Londres no sábado para protestar contra o plano de limpeza étnica do presidente Donald Trump em Gaza, a ilegal e monstruosa proposta que foi repelida pela ONU, Liga Árabe e palestinos, sob a solidariedade da imensa maioria dos países do mundo e das entidades populares. A marcha também defendeu a preservação do cessar-fogo, que vem sendo sabotado pelo regime Netanyahu e pela Casa Branca.
Em violação dos mais comezinhos direitos internacionais e da jurisprudência herdada de Nuremberg, Trump prometeu que os EUA iriam “assumir” Gaza, reconstruí-la como um resort de luxo, uma ‘Riviera do Oriente Médio’, nas palavras dele, e que seus 2,2 milhões de habitantes seriam expulsos para países vizinhos, numa Nakba (Catástrofe) do século 21.
“Pense nisso como um grande local imobiliário, e os Estados Unidos vão possuí-lo”, atreveu-se a dizer Trump, como se os escombros em Gaza não fossem a outra face do genocídio perpetrado com bombas de 1 tonelada fornecida pelos EUA, com gás letal como subproduto, e o crime não estivesse sob investigação da Corte Internacional de Justiça da Haia, e com mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional expedido para Netanyahu e seu ex-ministro Gallant.
Stephen Kapos, um sobrevivente do Holocausto de 87 anos, disse à AFP no sábado que a proposta de Trump é “completamente imoral e ilegal, e também impraticável e absurda”.
“Isso não vai acontecer”, acrescentou Kapos, “mas causa muitos danos simplesmente afirmando isso como um final de jogo”.
A manifestação massiva em Londres, organizada pela Campanha de Solidariedade à Palestina e outras organizações, saudou a notícia de que o cessar-fogo se manteve e que ocorreu a sexta troca de presos, três israelenses por 369 palestinos, inclusive 24 líderes palestinos condenados à prisão perpétua por sua participação na Intifada a “Revolução das Pedras” contra a ocupação israelense de Gaza e Cisjordânia.
O impasse na troca de presos se deu porque o regime de apartheid vem descumprindo compromissos assumidos para a primeira fase do acordo.
Desde a entrega apenas de metade do combustível necessário para fazer os hospitais voltarem a operar e até a recusa à entrada das tendas e casas portáteis necessárias para a população que voltou para o norte e que está ao relento e frio. As violações incluíram, ainda, 95 palestinos mortos durante a trégua e mais de 800 feridos.
Segundo as autoridades de Saúde de Gaza, mais de 48 mil palestinos foram mortos pelos bombardeios israelenses, na maioria, crianças, mulheres e idosos, e quase 112 mil ficaram feridos. Estudo da mais respeitada revista médica do mundo, The Lancet, que já fez análises no caso do Iraque e do Afeganistão, estimou que o genocídio beira os 200 mil, quando incluídas as mortes pela falta de assistência, fome e escassez de medicamentos.
PELO CESSAR-FOGO E CONTRA O GENOCÍDIO
No encerramento da cúpula da União Africana em Adis Abeba no domingo (16), os líderes africanos voltaram a expressar seu apoio aos palestinos e sua luta de libertação nacional e a denunciar o genocídio perpetrado pelo regime de apartheid israelense em Gaza.
“Israel está cometendo genocídio contra os palestinos e deve ser processado internacionalmente”, disse o comunicado. “Pedimos o fim da cooperação e normalização com Israel até que termine sua ocupação e agressão contra a Palestina”.
A Autoridade Palestina saudou as “posições honrosas” dos líderes africanos e a “rejeição da cúpula aos planos de deslocamento e anexação”.
Na sexta-feira, o Grupo Árabe na ONU e embaixadores da Organização de Cooperação Islâmica e do Movimento dos Países Não Alinhados repeliram a ameaça de Trump de limpeza étnica em Gaza.
“O deslocamento de palestinos em Gaza deve ser rejeitado inequivocamente. O Arab Group rejeita categoricamente tal deslocamento, que constitui uma clara violação do Artigo 49 da Quarta Convenção de Genebra”, disse o enviado do Kuwait à ONU, Tareq Al Banai, como presidente do Arab Group em uma entrevista coletiva na sede da ONU em Nova York.
Al Banai delineou uma visão para o futuro de Gaza, dizendo: “Nós, os países árabes, queremos ver uma Riviera, uma Riviera Palestina de Gaza no Estado independente e internacionalmente reconhecido da Palestina”.
O enviado da Palestina na ONU, Riyad Mansour, chamou a “abrir portas para a paz. O que precisamos é de um horizonte político. O que precisamos é pôr fim a essa ocupação ilegal o mais rápido possível. Nós amamos a Palestina, reconstruiremos a Faixa de Gaza. Nós reconstruiremos a Palestina”.