
Homem mais rico do planeta e virtualmente número 2 do governo Trump, Elon Musk começa a colher as tempestades que semeou ao encabeçar uma caçada impiedosa ao serviço público nos EUA, chamar a previdência social de “esquema ponzi”, se gabar de que comprou com US$ 300 milhões a eleição de Donald Trump, saudar minions com um “Sieg Heil” e até aconselhar os alemães a terem orgulho de seu passado nazista.
Como demonstram cartazes em protestos pelo país inteiro com os dizeres “Ninguém elegeu Musk” e a crescente hostilidade a tudo que leva sua marca, como a Tesla. Segundo um dono de veículo Tesla, dirigir um agora “é como usar um boné vermelho MAGA”.
O que já afeta onde Musk mais sente, isto é, no bolso. Na segunda-feira, a pior queda, na derrubada das bolsas que se seguiu ao comentário de Trump sobre possível recessão, foi exatamente a da Tesla: 7% (o índice de alta tecnologia Nasdaq encolheu 4%).
“Envie Musk para Marte”, clamaram centenas de manifestantes que se reuniram no sábado do lado de fora de uma loja Tesla em Manhattan, Nova Iorque. E também “oligarcas desistam, a democracia entra”. A manifestação, de acordo com o New York Times, durou duas horas, durante as quais os manifestantes bloquearam a loja e seis pessoas foram presas.
O senador estadual de Nova York, Holman Siegel, um democrata que representa o distrito onde a loja da Tesla está localizada, disse que os manifestantes estão se reunindo lá há semanas, e que os protestos se tornam maiores a cada fim de semana.
Para Siegel, nada há de surpreendente e o que é preciso é que Musk e Trump “reconheçam que colocar o governo federal de joelhos prejudicaria muitas pessoas”. Cerca de dois milhões de servidores públicos, segundo as ameaças de que Musk se fez o principal porta-voz, mais seus garotos da “eficiência”, alocados no mafuá que denominou de DOGE.
FORA MUSK, ABAIXO A TESLA
Segundo o Washington Post, desde que Trump foi reeleito presidente dos EUA, houve mais de uma dúzia de incidentes contra instalações da Tesla nos Estados Unidos.
No mesmo dia, dezenas de manifestantes se aglomeraram na Flórida, em Delray Beach, a 2 mil quilômetros de Manhattan, diante de uma loja local, com cartazes como “a democracia não é um plano de negócios” e “abaixo o fascismo”.
Segundo a WPEC News, uma subsidiária da CBS, o evento foi parte do movimento “Tesla Takedown”, que visa convocar as pessoas a vender ações e carros da Tesla.
“Tomamos uma atitude na loja Testa para mostrar que não podemos tolerar os negócios e produtos de Musk em nossas comunidades”, escreveram os organizadores do evento no anúncio. “Eles são símbolos do nazismo, da supremacia branca e da violência contra imigrantes, pessoas transgênero e a classe trabalhadora.”
Na tarde de 9 de março, o protesto foi em Vancouver, a quarta maior cidade do estado de Washington, na costa oeste. “Acredito que a Tesla fabrica ótimos produtos e não temos intenção de interferir em seus negócios, mas eles são um símbolo de Elon Musk, e é por isso que estamos aqui: para lutar contra um símbolo que controla nosso governo e mina a democracia”, disse Alan Yunell, um dos manifestantes e membro da organização “Indivisible Greater Vancouver”, à KGW, uma emissora de TV afiliada à NBC.
Trump disse que “a era dos burocratas não eleitos acabou, então ele pode começar com Musk”, exigiu outro manifestante, Bill Whipple.
Sintomático da crescente ojeriza a Musk, também se multiplicaram os incidentes de vandalismo contra a Tesla. A ponto de, no final do mês passado, a polícia do Colorado ter prendido uma mulher de 42 anos, acusada de ter ido à loja da Tesla em Loveland, Colorado, várias vezes jogar coquetéis molotov no estacionamento e pichar a palavra “nazista” sob a placa de entrada.
“COMPREI ANTES DE MUSK ENLOUQUECER”
Alguns proprietários de Tesla estão optando por vender seus carros. “Duas semanas atrás, fui chamada de nazista no estacionamento do Kroger”, disse a democrata Jennifer Treib ao The New York Times. “Fui para casa e disse ao meu marido: ‘Já chega.'”
Com vergonha de ser vista dirigindo um Tesla, ela antes chegara a colocar no carro um adesivo que dizia: “comprei antes de Elon enlouquecer”. Adesivo que agora é muito popular entre os proprietários de Tesla. Ela vendeu seu Tesla no final de fevereiro.
Em 14 de fevereiro, a cantora americana Sheryl Crow anunciou nas redes sociais que havia vendido seu Tesla e doado o dinheiro para a National Public Radio (NPR), que foi ameaçada pelo “presidente Musk”.
Um executivo de televisão de Los Angeles, Garth Ancier, disse ao The Wall Street Journal que estava planejando vender seu Model X de quatro anos. “Se não fosse por Elon Musk, eu provavelmente continuaria dirigindo um Tesla.”
NAS PÁGINAS POLICIAIS
Para The New York Times, “Teslas estão aparecendo cada vez mais em registros policiais em todo o país”. Em 3 de março, uma loja da Tesla em Maryland foi encontrada pichada com o slogan “Não a Musk” e marcada com um símbolo nazista. No dia seguinte, a polícia de Littleton, Massachusetts, relatou que sete estações de carregamento locais da Tesla foram deliberadamente incendiadas.
Em 6 de março, um homem de 39 anos foi acusado de danificar vários carros da Tesla em Brookline, um subúrbio de Boston, nos quais ele havia colado adesivos de Musk. No mesmo dia, a polícia de Portland, Oregon, relatou que uma loja local da Tesla foi baleada pelo menos sete vezes, causando a quebra de janelas e danos a três carros.
MÁSCARA CAIU
A percepção da identidade política de extrema-direita de Musk, ao invés de um inovador da alta tecnologia e um gênio dos negócios, como aparentava antes, “pode colocar em risco seu império empresarial”, destacou a MSNBC.
Desde que Trump assumiu o cargo, o preço das ações da Tesla caiu por sete semanas consecutivas, a maior sequência de perdas em 15 anos; o preço das ações caiu quase 35% este ano, e o valor de mercado evaporou em mais de US$ 800 bilhões.
No ano passado, apesar de um aumento de 25% nas vendas globais de veículos elétricos, a Tesla sofreu seu primeiro declínio anual nas vendas em mais de uma década. Em 2024, as entregas globais de veículos da Tesla caíram cerca de 1%.
Após o endosso de Musk à extrema-direita na Europa, o mercado sofreu um revés. Em fevereiro deste ano, os registros de carros novos da Tesla na Alemanha despencaram 76,3% e na França caíram 26%.
O Wall Street Journal disse que em 2022, antes de Musk se envolver na política, a empresa de consultoria automotiva Strategic Vision descobriu que 22% dos entrevistados disseram que “definitivamente considerariam” a Tesla para sua próxima compra de carro, mas no verão de 2024, essa proporção caiu para 7% e permaneceu nesse nível.
DECLÍNIO RARO NA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA
Alexander Edwards, presidente da Strategic Vision, disse que um declínio tão acentuado é raro na indústria automotiva, “e não vemos nenhum sinal de recuperação”. Na opinião de Edwards, a Tesla costumava ser atraente para compradores de carros com consciência ambiental, mas agora a posição política de Musk é “de direita”, o que é contraditório.
Para Musk, é tudo culpa de outro oligarca, George Soros, que perdeu seus esquemas na Usaid, e dos democratas, a quem culpa por uma suposta “Operação Azul” para derrubá-lo.