
Na última quarta-feira (12), o vice-prefeito de São Paulo, Ricardo Mello Araújo (PL), afirmou que a concentração de dependentes químicos no bairro do Belém, na zona leste da cidade, é “culpa” do padre Júlio Lancellotti, que “está fazendo um desserviço” na região. O padre repercutiu a declaração do vice-prefeito, afirmando estar “perplexo”.

O comentário foi feito por Mello Araújo numa publicação no perfil dele no Instagram. A captura de tela da declaração circulou nas redes sociais na última quinta-feira (13). O vice-prefeito disse ter se baseado em relatos de moradores do Belém.
O comentário foi realizado em uma publicação em que Mello Araújo mostra um imóvel invadido na rua dos Gusmões que será demolido para a construção de habitações sociais.
Uma seguidora do vice-prefeito convidou-o para visitar a “nova Cracolândia” do bairro do Belém. Ao que o vice-prefeito responde: “culpa do Lancelot (sic), está fazendo um desserviço”.
O bolsonarista é ex-comandante da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), a tropa de elite da Polícia Militar. Ele foi indicado por Jair Bolsonaro (PL) ao cargo em meio a uma costura pelo apoio do ex-presidente à chapa, que terminou a eleição vitoriosa.
A região da Luz ainda concentra o maior “fluxo” da Cracolândia, como é conhecida a concentração de dependentes químicos, mas outros bairros da capital paulista, como o Belém, têm registrado o aumento de “fluxos” locais.
O padre Júlio Lancellotti rebateu o comentário em uma publicação no Instagram nesta quinta. “Perplexo com comentário do vice-prefeito de São Paulo @melloaraujo10 que me coloca em situação de risco”, escreveu.
REAÇÕES
Lideranças políticas e populares se solidarizaram com o padre e repudiaram o ataque do vice-prefeito.
ATAQUES
Júlio Lancellotti tem sofrido ataques por parte de políticos bolsonaristas. Em 2024 o vereador Rubinho Nunes (União), tentou aprovar duas Comissões Parlamentar de Inquérito (CPIs) na Câmara Municipal que miravam o trabalho filantrópico do padre.
A iniciativa, que chegou a ter 25 assinaturas de seus pares, virou alvo de repúdio quando o vereador passou a citar o nome de Lancellotti publicamente. O requerimento inicial não citava o pároco.
“Existe uma chamada máfia da miséria para obter ganhos por meio da boa-fé da população e isso não é ético e nem moral. O padre Júlio é o verdadeiro cafetão de miséria em São Paulo”, disse na época.
Já em março, uma nova CPI foi proposta. Desta vez, para investigar abuso sexual contra moradores de rua da cidade de São Paulo. Apesar de não citar novamente Júlio Lancellotti, o vereador voltou a fazer associações.
A CPI não andou, houve uma desistência por parte de alguns dos políticos que antes apoiaram a proposta e a Polícia Civil de São Paulo instaurou um inquérito contra o vereador Rubinho Nunes por suposto abuso de autoridade. Segundo a associação, o vereador tentou abrir uma comissão sem ter indício de conduta criminosa por parte do religioso, o que caracterizaria abuso de autoridade.