
Badar Khan Suri cursa doutorado na Universidade Georgetown e foi preso por agentes federais sem mandato judicial
Nos Estados Unidos, uma decisão da juíza distrital Patricia Giles, do estado da Virgínia, proibiu o governo de deportar Badar Khan Suri, um estudante de pós-doutorado indiano da Universidade Georgetown, em Washington, acusado pelo Departamento de Segurança Interna de ter “laços com o Hamas” e de espalhar propaganda do grupo palestino e de mensagens antissemitas nas redes sociais.
A prisão foi realizada sem provas nem apresentação de mandato judicial.
Segundo o advogado de Suri, o governo dos Estados Unidos está tentando deportá-lo sob alegação de “prejudicar a política externa do país”. A ordem emitida pela juíza Patricia Giles pode ser revogada por um tribunal, mas, por enquanto, Suri está protegido de ser expulso.
Suri mora nos EUA com visto de estudante e é casado com uma cidadã norte-americana, de acordo com seu advogado. Ele está detido e aguarda uma data para audiência no tribunal de imigração, ainda segundo o seu representante.
Agentes federais o prenderam do lado de fora de sua casa em Rosslyn, Virgínia, na noite de segunda-feira (17).
A prisão do pesquisador ocorre no momento em que Mahmoud Khalil, ativista pró-Palestina, graduado na Universidade Columbia e que lá cursa doutorado, também foi preso, e crescem as evidencias de que a liberdade de pesquisa e expressão no país esteja sendo ameaçada, dois meses após o início do novo mandato do presidente Donald Trump.
OBJETIVO É SILENCIAR OU CERCEAR OPINIÕES DE APOIO À PALESTINA
O advogado de Suri afirmou que o objetivo da prisão é “silenciar, ou, ao menos, restringir e cercear suas opiniões”, bem como as de outras pessoas que “expressam seu apoio aos direitos dos palestinos”.
Segundo o advogado, o estudante indiano aguarda uma audiência no tribunal de imigração. A decisão da juíza Patricia Giles garante a proteção temporária de Suri contra a deportação, enquanto sua situação legal nos Estados Unidos é avaliada.
O posicionamento da juíza destaca a importância do devido processo legal e do respeito aos direitos civis dos imigrantes, independentemente de suas origens ou nacionalidades.
Suri é acadêmico na Escola de Relações Exteriores da universidade administrada pelos jesuítas, onde está ministrando um curso neste semestre. Ele é pesquisador na área de estudos sobre conflitos, com especialização em questões relacionadas ao Iraque e ao Afeganistão.
Um porta-voz da instituição católica disse ao National Catholic Reporter, na quinta-feira última, que os administradores da universidade não receberam nenhuma justificativa para sua detenção e desconhecem qualquer atividade ilegal de Suri.
“Apoiamos o direito de nossos membros da comunidade à investigação livre e aberta, à deliberação e ao debate, mesmo que as ideias em questão sejam difíceis, controversas ou questionáveis”, afirmou o porta-voz da Georgetown em um e-mail em 20 de março. “Esperamos que o sistema judicial julgue este caso de forma justa”, assinalou.
Após sua prisão, Suri foi levado para uma instalação de detenção no centro da Virgínia antes de ser transferido para Alexandria, no Estado de Louisiana, onde agora aguarda uma audiência no tribunal de imigração, informou a revista Politico, do estado da Virginia.
ACLU: “ISSO É CLARAMENTE INCONSTITUCIONAL”
“Arrancar alguém do seu lar e da sua família, retirar seu status migratório e deter essa pessoa apenas por sua opinião política é uma tentativa clara do presidente Trump de silenciar a dissidência”, expressou a advogada de direitos dos imigrantes da União Americana pelas Liberdades Civis (Aclu), Sophia Gregg. “Isso é claramente inconstitucional”, frisou.
“O doutor Khan Suri é um cidadão indiano que recebeu o visto para entrar nos Estados Unidos” para “continuar sua pesquisa de doutorado sobre a consolidação da paz no Iraque e no Afeganistão”, informou a Universidade de Georgetown. “Não temos conhecimento de que ele tenha participado de qualquer atividade ilegal, e não recebemos nenhuma informação sobre o motivo da sua prisão”, afirmou a instituição.
Suri, doutorou-se em estudos de paz e conflito em uma universidade indiana, é pesquisador do Centro Alwaleed Bin Talal para o Entendimento Muçulmano-Cristão da Universidade de Washington, DC, de acordo com sua página no sítio da Georgetown, revisada pela revista Politicoantes de ser removida.
Ele está ministrando neste semestre uma disciplina sobre “Majoritarismo e Direitos das Minorias noSul da Ásia”, conforme indicado por uma petição judicial por sua libertação e pelo diretório da universidade.