
A Coordenação das entidades sindicais específicas da Educação Municipal de São Paulo – Coeduc –, formada pelo Sedin, Sinpeem e Sinesp, participou de uma audiência pública nesta quinta-feira (5) na Comissão de Educação, Cultura e Esportes da Câmara Municipal. O encontro, conduzido pelos vereadores Celso Giannazi (PSOL), Eliseu Gabriel (PSB) e Luna Zarattini (PT) — integrantes do colegiado e autores do requerimento que motivou a audiência — teve como foco debater os ataques da gestão Ricardo Nunes (MDB) contra a educação pública da capital.
Entre os principais pontos de crítica estão o afastamento de diretores escolares e o avanço da proposta de privatização de unidades da rede municipal, anunciada na semana passada pelo secretário de Educação, Fernando Padula. Durante a sessão, parlamentares, estudantes, pais e diretores presentes expressaram duras críticas ao programa Juntos pela Aprendizagem, ao qual a Secretaria pretende submeter os gestores afastados.
A proposta consiste em afastar diretores de suas funções para que participem de formações nas diretorias regionais de ensino — medida considerada autoritária e desrespeitosa com os profissionais da educação. Para as entidades sindicais e a comunidade escolar, a iniciativa representa um ataque direto à autonomia da gestão escolar, compromete o funcionamento das unidades e aprofunda o processo de desvalorização da rede pública municipal.
“É um assunto extremamente importante que é esse afastamento, que agora eles voltaram atrás. Mas, é um afastamento de diretores concursados que têm trabalhos belíssimos em suas escolas, que são localizadas em comunidades vulneráveis. A desculpa é que tem essa nota do Ideb, que significa que essa escola é boa ou não. Isso não tem cabimento. O que nós vimos aqui, essa manifestação de mães, alunos, que mostraram vínculo e muito amor pela escola”, afirmou o vereador Eliseu Gabriel (PSB).

Durante a audiência, a diretora afastada da EMEF Saturnino Braga, na Cidade Tiradentes, repudiou a medida e contestou a legitimidade dos dados do Ideb usados pela gestão como justificativa para as intervenções. “Nós classificamos como absurdo e ilegal esse afastamento. O dado que eles estão utilizando, que é o dado do Ideb, é mentiroso”, denuncia Rute Rodrigues.
“Porque essas escolas relacionadas não são as escolas com o maior problema de Ideb da cidade de São Paulo. Nós não concordamos que a avaliação institucional de larga escala seja elemento para intervenção em escola nenhuma porque os dados servem, imediatamente, para nós pensarmos a realidade de cada unidade e não para intervenção como está sendo proposto”, completou Rute.
Durante a audiência, os diretores atingidos pela medida destacaram a importância do vínculo que mantém com a comunidade escolar e seu papel essencial na articulação entre escola e território. “Uma característica que tem todos esses diretores e diretoras é o vínculo com a sua comunidade. É um trabalho que é feito para além da missão institucional ou do seu dever institucional. São diretores que se envolvem com os problemas da comunidade. É disso que eu estou falando”, afirmou diretor da EMEF Espaço de Bitita, Cláudio Marques Neto.
A vice-presidente do Sinesp, Letícia Grisolio, criticou o afastamento de diretores para uma formação considerada inadequada e sem transparência. “Nós não somos contrários a processos formativos”, ressalvou. “Porém, afastar para uma formação que não é transparente, que não atende critérios que sejam objetivos ou que respeitem as especificidades das unidades educacionais é uma grande falácia e somos contrários a isso: afastar diretores de suas atribuições, de suas atividades, para uma formação que não irá garantir a aprendizagem dos estudantes”.
A diretora do Simpeem, Michele Rosa, ressaltou que o prefeito Ricardo Nunes tem tratado os servidores municipais como inimigos do governo, impondo medidas arbitrárias. Primeiro, com a reforma previdenciária, que elevou a idade mínima das mulheres; depois, alterou o período aquisitivo para férias, reduziu o número de faltas abonadas e, agora, afasta 25 diretores de escolas. Todas essas mudanças foram implementadas por meio de legislações aprovadas pela Câmara Municipal”, destaca.
Por isso, “precisamos eleger trabalhador para defender trabalhador, posto que somos desrespeitados reiteradamente por esta Casa”, defende. “Somos contra o ranqueamento de escolas, que vem sendo utilizado como forma de punição, com a retirada dos gestores de suas escolas. É o aprofundamento da privatização, tendo em vista que mais de três mil unidades de educação infantil já estão nas mãos da rede parceira”, alertou Michele.

Presença aguardada no debate, a ausência da SME foi criticada pelos participantes. “É lamentável a ausência porque quem deveria estar aqui para ouvir é o secretário municipal de Educação, Fernando Padula. Ouvir as declarações das mães, dos alunos, dos diretores, entender o contexto dessas escolas. Infelizmente, de uma forma covarde ele não veio, mas nós vamos até ele.”, disse o vereador Celso Gianazzi (PSOL).
Em nota, a pasta alegou que já se reuniu por várias ocasiões com as entidades envolvidas para tratar do assunto. “Considerando que o diálogo com os atores institucionais pertinentes foi recentemente estabelecido, a SME não participará da referida audiência. Reiteramos, no entanto, nossa disposição em manter um diálogo institucional e democrático com esta Comissão […]”, disse a nota da SME.
A vereadora Luna Zarattini (PT) também criticou a estratégia da secretaria, mas avaliou que a audiência foi “um sucesso de público”. “Estávamos aguardando para que ele (Padula) prestasse esclarecimentos sobre os projetos que estão sendo encaminhados. O projeto de privatização das escolas, o projeto de intervenção nas escolas, o motivo que estão afastando os diretores das escolas, como isso vai ser continuado. Nós cobramos essas respostas, mas até agora só tivemos o silêncio da Prefeitura”.
“Mas, nós seguiremos em luta, nós levaremos todas as reivindicações por meio de requerimentos na Comissão de Educação, nós tentaremos mais uma vez o diálogo com o secretário de Educação para que a gente consiga ter respostas porque a privatização das escolas vai piorar muito a qualidade”, completou Luna.
Em sua fala, o também vereador Hélio Rodrigues (PT), vinculou o entreguismo de Nunes ao bolsonarismo e a interesses eleitoreiros. “Ele tá entregando tudo aquilo que ele pode entregar, para convencer os bolsonaristas mais radicais, que ele é tão liberal quanto eles. É isso que tá colocado nessa disputa (eleições em 2026) e ele vai entregar tudo. Nós vamos ter que cerrar fileiras, professor Toninho Vespoli, que tanto milita na educação”, defendeu Hélio.
O presidente da União Estudantil Democrática Paulo Freire, da EMEF Rui Bloem, Vinicius Alves, informou que tem se reunido com representantes de outros grêmios que também se opõem à “política injusta, arbitrária” de Ricardo Nunes. “Hoje eu vim aqui, em nome de todo grêmio, de toda escola e de outras escolas onde eu estive reunido nos últimos dias para reforçar que nós somos contra a privatização das escolas, contra essa terceirização, essa política de autoritarismo e que nós precisamos que os diretores voltem para suas escolas e não sejam colocados interventores”.
“A gente tem uma escola super completa com horta, onde as crianças plantam e colhem, tem vários projetos, reforço de inglês, projeto de teatro, imprensa jovem, esporte, campeonato de xadrez, futebol e sabemos que a privatização prejudica tudo isso”, apontou Karen Cristina, mãe de três alunos da EMEF Ibraim Nobre.
Divulgado em portaria no último dia 22, o afastamento de 25 diretores tem gerado forte resistência do movimento sindical e de diversos setores da sociedade. Desde então, a Coeduc tem organizado protestos nas 13 diretorias regionais de educação do Município de SP, com a presença de alunos, famílias, professores, parlamentares, entre outros, o que fez a SME recuar temporariamente, mas a ideia não foi sepultada.
Em sua página eletrônica, o Sinpeem critica a postura do prefeito por responsabilizar injustamente diretores por baixos índices do Ideb, pretexto usado pela secretaria para atacar os diretores, ignorando as condições precárias e desigualdades enfrentadas pelas escolas. “Escolas que enfrentam problemas de toda ordem, dentro da unidade e em seu entorno: falta de infraestrutura física e material, módulos docente e do Quadro de Apoio incompletos, falta de recursos para atender às necessidades básicas da unidade, desigualdade social e digital, desvalorização dos profissionais de educação e até mesmo atendimentos a casos de violência doméstica”.