
Investigação apurou aparelhamento da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) durante o governo do ex-presidente para espionar adversários políticos
A PF (Polícia Federal) concluiu, nesta terça-feira (17), inquérito sobre o aparelhamento da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) para a espionagem de opositores e adversários políticos durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). Desde as investigações, o caso é conhecido como “Abin paralela”.
Segundo o site UOL, foram indiciados Carlos Bolsonaro, o filho “02” de Jair Bolsonaro, e mais 35 investigados, entre eles o ex-diretor-geral da Abin Alexandre Ramagem (PL).
De acordo com o UOL, a PF apontou indícios de autoria e materialidade de Jair Bolsonaro nos fatos, mas entendeu que ele já foi indiciado por organização criminosa no caso do golpe e, por isso, não poderia ser novamente indiciado neste caso.
Segundo o inquérito, a Abin foi aparelhada por esquema de espionagem ilegal para atender a interesses políticos e pessoais de Bolsonaro e integrantes da família dele.
OPERAÇÃO ÚLTIMA MILHA
Em outubro de 2023, foi deflagrada pela PF a Operação Última Milha. O nome da operação faz referência ao software “espião” FirstMile. Segundo a investigação, o programa foi utilizado 60 mil vezes pela Abin, entre 2019 e 2023, com pico de acessos em 2020, ano de eleições municipais.
Em janeiro de 2024, os endereços de Alexandre Ramagem foram alvos de busca e apreensão na Operação Vigilância Aproximada.
EIS OS FATOS
A investigação da PF sobre o uso irregular da Abin aponta que a chamada “estrutura paralela” operava com conhecimento e comando direto do então presidente Jair Bolsonaro, e com suporte do então diretor da agência, Alexandre Ramagem.
Entre os alvos do inquérito, estão figuras da atual gestão da Abin, como o diretor-geral Luiz Fernando Corrêa, o chefe de gabinete Luiz Carlos Nóbrega e o corregedor-geral José Fernando Chuy. Todos são delegados da PF e foram nomeados aos respectivos cargos durante o governo de Lula (PT).
De acordo com a PF, essa estrutura clandestina dentro da Abin elaborou relatórios sigilosos e operou rede de desinformação contra autoridades do Judiciário, Legislativo, servidores públicos, jornalistas e até um ex-candidato à Presidência.
O grupo também teria monitorado, sem autorização judicial, a localização de milhares de cidadãos por meio de ferramenta capaz de rastrear celulares, a partir das antenas de telefonia.
MONITORADOS
Os monitoramentos, segundo o inquérito da PF, miravam diretamente ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), como Luís Roberto Barroso, Alexandre de Moraes, Luiz Fux e Dias Toffoli; e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).
Até o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia; e o ex-governador de São Paulo, João Doria, pré-candidato à Presidência em 2022, foram monitorados.
Além de Ramagem, foram indiciados o policial federal Marcelo Bormevet e o subtenente do Exército Giancarlo Gomes Rodrigues, que também integravam a cúpula da agência de inteligência à época. Eles negam qualquer participação em operações de espionagem.
CONEXÕES
O relatório da PF ainda traça conexões entre o funcionamento da “Abin paralela” e a trama golpista articulada no fim do governo Bolsonaro.
A PGR (Procuradoria-Geral da República) já havia indicado o uso de estrutura clandestina dentro da Abin com o objetivo de sabotar o sistema eleitoral e fomentar instabilidade institucional.
A PF afirma que Ramagem orientou Bolsonaro a desacreditar as urnas eletrônicas e adotar discurso mais agressivo contra o que chamavam de “sistema”.
Documentos que corroboram essa tese foram localizados em e-mails interceptados durante a investigação, o que reforçou o elo entre a espionagem ilegal e o plano para manter Bolsonaro no poder, mesmo após o resultado das eleições, por meio de golpe de Estado.