
Com juros nas alturas “por um longo período”, como defende o presidente do BC, novos investimentos são adiados
As consultas por novos empréstimos junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) sofreram uma queda de 12%, de janeiro a março deste ano, em relação ao mesmo período de 2024.
Uma redução de R$ 60,0 bilhões no ano passado para R$ 53 bilhões neste ano. Apenas em março, as consultas somaram R$ 8,2 bilhões, menos 54% dos R$ 17,7 bilhões no mesmo mês de 2024, e o menor valor desde abril de 2022.
O recuo mais expressivo ocorreu com a indústria, tendo as consultas no trimestre sofrido uma queda de 32%, de R$ 23,9 bilhões em 2024 para R$ 16,2 bilhões em 2025. O agronegócio veio a seguir com queda nas consultas em 28%. Infraestrutura e Comércio e Serviços tiveram resultados positivos de 17% e 12% respectivamente.
Conforme dirigentes de entidades da indústria, ouvidas pelo Valor Econômico, a queda nas consultas é um sinal do arrefecimento dos investimentos e, consequentemente, da demanda por crédito. O cenário deve continuar no segundo semestre principalmente devido a continuidade do exorbitante patamar da Selic, taxa de juros básicos da economia, em 14,75% ao ano.
Para o diretor de economia da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Mario Sergio Telles, citado na reportagem, além de tornar o crédito mais caro para as empresas, a abusiva taxa Selic afeta o consumo.
“Se há uma perspectiva de demanda menor, os projetos de investimento podem ser adiados porque não faz sentido para a empresa realizar um determinado investimento, aumentar a sua capacidade de produção, sendo que a perspectiva é de redução do consumo”, enfatiza Telles.
A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), pela sua diretora de competitividade, economia e estatística, Cristina Zanella, lembra que a taxa final dos empréstimos contratados pelo setor são superiores à Selic devido ao spread bancário e outras taxas.
“A TLP, por exemplo, atingiu cerca de 20% ao ano. São taxas que vão muito acima do retorno dos investimentos das empresas”, diz a diretora da Abimaq.
Desde 2018, o BNDES tem empréstimos atrelados à Taxa de Longo Prazo (TLP), com taxas equiparadas às do mercado, em substituição à TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), que era definida pelo governo com juros mais baixos para empréstimos junto ao banco de fomento.
Apesar de registrar alta de 15,2% em receita no primeiro trimestre de 2025, a Abimaq está projetando para os próximos meses uma desaceleração dos negócios do setor, basicamente devido ao nível da Selic.
Como se vê, seja pelos investimentos, seja pelo consumo, as maléficas altas taxas dos juros impostas pelo Banco Central contaminam toda a economia, jogando para baixo suas atividades.
Nesta quarta-feira (18), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central vai anunciar o novo patamar da taxa básica de juros (Selic).
Conforme já anunciou o presidente do BC, Gabriel Galípolo, sob protestos do setor produtivo, os juros ficarão nas alturas por um longo período, inibindo os investimentos, o consumo, “freando” a economia.