
O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA – sigla em inglês) denuncia que Israel faz da busca de alimento em Gaza uma “sentença de morte”
São 549 famintos executados a sangue frio desde quando os fascistas de Israel montaram as armadilhas com os centros de distribuição de farinha.
Dando números à denúncia da ONU de que a busca por alimentos em Gaza se tornou uma “sentença de morte”, o Ministério da Saúde de Gaza revelou que pelo menos 549 palestinos foram mortos e 4.066 ficaram feridos tentavam obter ajuda humanitária em pontos de distribuição da Fundação Humanitária de Gaza (GHF), montada pelos EUA e Israel, desde que começou a operar há quatro semanas. 39 estão desaparecidos.
A denúncia partiu do chefe do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) no território palestino ocupado, Jonathan Whittall: “A tentativa de sobreviver está sendo recebida com uma sentença de morte”.
“O que estamos vendo é carnificina. É a fome armada. É um deslocamento forçado. É uma sentença de morte para pessoas que estão apenas tentando sobreviver. Tudo combinado, parece ser o apagamento da vida palestina de Gaza”, indignou-se.
Também o diretor da Agência da ONU para Assistência aos Refugiados Palestinos (UNRWA), Philippe Lazzarini, advertira que esses centros de suposta distribuição de ajuda humanitária haviam se tornado em “campos de extermínio”.
Desde que a GHF assumiu a distribuição de alimentos, o assassinato de palestinos famintos se tornou uma ocorrência praticamente diária.
Considerando os feridos, chega a 4.615 o total de vítimas de disparos sob essa “modalidade” de genocídio engendrada pelo regime fascista de Netanyahu, o que dá em torno de 153 por dia. Um ritmo de execuções – ou tentativas – alucinado.
UNICEF DENUNCIA MASSACRE DE CRIANÇAS
“Ninguém deveria ter que escolher entre morrer de fome ou arriscar a vida para conseguir comida”, disse a porta-voz da Unicef em Gaza, Rosalia Bollen, em entrevista à TV irlandesa. “Tiros e pessoas gritando podem ser ouvidos perto dos pontos de distribuição de ajuda”, acrescentou. “Um padrão muito assustador dia após dia”.
Essas denúncias dos organismos da ONU no terreno e os relatos dos famintos que sobreviveram dão uma ideia da brutalidade e banalização do mal que se abateu sobre Gaza, enquanto Netanyahu tenta perpetrar a “solução final” do “problema palestino”, com uma proficiência merecedora dos maiores elogios dos mestres nazistas.
62 ASSASSINADOS EM 24 HORAS
Na quarta-feira (25), foram 62 os mortos em diversos pontos da Faixa de Gaza, incluindo os que buscavam alimento (um saco de farinha).
Testemunhas disseram à Associated Press que as forças israelenses abrem fogo quando as pessoas se aproximavam dos caminhões de ajuda. “Um massacre”, relatou Ahmed Halawa, que acrescentou que tanques e drones dispararam “mesmo quando estávamos fugindo”.
“20 MINUTOS E COMEÇAM OS TIROS”
Reportando da Cidade de Gaza, Hani Mahmoud, da Al Jazeera, disse que os centros de distribuição de ajuda administrados pela GHF são normalmente estabelecidos muito perto de onde as forças israelenses estão estacionadas, com seus tanques, veículos blindados e franco-atiradores ao redor. “Então, quando grandes multidões se reúnem, elas ficam vulneráveis ao fogo israelense”, disse ele.
“Perturbadoramente, as pessoas têm apenas 20 minutos de janela nos centros de ajuda para colocar as mãos no que estiver disponível, como cestas básicas. Quando esse período de 20 minutos termina, o tiroteio geralmente começa. Essa é uma das razões pelas quais estamos vendo um grande número de pessoas morrendo nesses centros”, acrescentou.
CRIME DE GUERRA
“O que está acontecendo nesses chamados ‘centros’ constitui um crime de guerra de pleno direito pelo qual a ocupação israelense tem responsabilidade primária e direta. Condenamos veementemente este crime em curso, em que civis famintos são atraídos e, em seguida, sistemática e deliberadamente mortos a tiros diariamente, de acordo com cronogramas pré-estabelecidos”, disse o Escritório de Mídia do Governo de Gaza.
“A ocupação está usando a comida como arma de assassinato em massa, transformando o que afirma ser ‘ajuda’ em uma ferramenta de extermínio e dominação.”
O que foi preparado pelo bloqueio implacável da entrada de qualquer grama de comida em Gaza por três meses depois que Israel rompeu o acordo de cessar-fogo e, antes, pela proibição à Agência da ONU para Assistência aos Refugiados Palestinos (UNRWA), aliás, criada pela Assembleia Geral da ONU em 1948 como a resposta possível à Nakba. A ponto da ONU declarar que a fome havia se generalizado em Gaza e 14 mil bebês em risco.
CRIANÇAS MORTAS OU BALEADAS
A organização humanitária Save the Children se somou às vozes que repudiam o massacre dos famintos. No que classificou de “show de horrores distópico”, a organização disse que crianças de Gaza foram mortas em mais da metade dos ataques relacionados à ajuda humanitária da GHF.
“Algumas famílias em Gaza estão tão desesperadas – em alguns casos devido à falta de um adulto saudável – que estão enviando crianças para coletar alimentos nos pontos de distribuição, inevitavelmente expondo-as ao risco de serem baleadas pelas forças israelenses”, disse ainda a Save the Children em um comunicado.
Equipes da Save the Children testemunharam essa modalidade de massacre. “Ninguém quer obter ajuda desses pontos de distribuição e quem pode culpá-los – é uma sentença de morte. As pessoas têm medo de serem mortas. Um colega nos disse hoje que, embora sua família esteja disposta a comer uma refeição por dia, ele não irá a uma distribuição da GHF, porque acredita que sua vida vale mais do que um saco de farinha”, disse o diretor regional da Save the Children para o Oriente Médio, Norte da África e Europa Oriental, Ahmad Alhendawi.
“Ninguém deveria ter que escolher entre arriscar a vida por comida ou morrer de fome”, disse a porta-voz do Unicef, Rosalía Bollen, após retornar de Gaza. Ela afirmou que todos os dias, uma média de 80 crianças são mortas ou feridas em ataques israelenses na Faixa de Gaza.
“Estou falando de crianças que perderam as pernas, têm estilhaços no corpo, estão cegas ou paralisadas na cama. Crianças que viverão a vida inteira com as consequências desses ferimentos, se conseguirem sobreviver, por não terem acesso aos cuidados necessários”, insiste.
Para o chefe do Escritório da ONU para Ajuda Humanitária em Gaza, Witttall, é imprescindível a “responsabilização pelos crimes cometidos”, “uma pressão política e econômica concreta por parte dos Estados para pôr fim a esta situação”; e “um cessar-fogo duradouro, de acordo com as decisões da Corte Internacional de Justiça”. “Isto é o mínimo. A inação permite atrocidades que são medidas em vidas humanas.”