
Senador ignorou determinação que o proíbe de usar rede digital e fez nova transmissão ao vivo no YouTube
O senador Marcos do Val (Podemos-ES) voltou a descumprir a determinação do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), que o proibiu de acessar as redes digitais dele. Assim como havia feito na noite da última sexta-feira (22), o parlamentar fez nova “live” no canal de YouTube, no domingo (24), com ataques ao ministro.
Na “live”, o senador mostrou vários passaportes e insinua que pode fugir do Brasil. O passaporte diplomático dele — emitido pelo MRE (Ministério das Relações Exteriores) às autoridades e funcionários do governo em missão oficial — foi cancelado.
A transmissão deste domingo durou aproximadamente 1 hora e 30 minutos.
Assim como fez na sexta-feira passada, acusou Alexandre de Moraes de perseguição e mostrou ferimentos que teriam sido causados pelo uso da tornozeleira eletrônica, imposta pelo ministro do STF, em 4 de agosto.
SURTADO
“Tinha ferro aqui, acordei cortado. Aqui é sangue mesmo, não é tinta, não. Pode dar zoom. Isso aqui está documentado, Alexandre. Vai ficar no teu colo. Vai cair muita coisa no teu colo, Alexandre. Isso aqui é meu troféu”, afirmou Marcos do Val na “live” de domingo, em referência a Moraes.
Marcos do Val foi obrigado a colocar o equipamento após ter viajado aos Estados Unidos sem autorização judicial, já que estava com o passaporte civil bloqueado. Depois de retornar ao Brasil, ele também foi alvo de bloqueio nas contas bancárias, cartões de crédito e chaves PIX.
“Senador da República com tornozeleira eletrônica sem nenhum crime. […] Senadores, isso aqui é um tapa na cara de vocês”, disse descontrolado. Marcos do Val afirmou que foi para os EUA porque é “cidadão livre” e prometeu não “recuar” diante de Moraes. Ele também ameaçou desrespeitar novamente a decisão judicial.
AMEAÇA DE SAIR DO BRASIL
“E se eu tiver que sair do Brasil, Alexandre, eu vou. Sou cidadão europeu e americano. É claro que eu vou sair. Tenta segurar um cidadão americano, não tem como. Vai comprar essa briga? Quer comprar mais essa briga?”.
Na transmissão ao vivo, o senador demonstrou descontrole emocional, com falas desconexas e muitas ameaças ao ministro e à PF (Polícia Federal), tal qual fez antes de voltar dos Estados Unidos, no início de agosto.
ENTENDA A SITUAÇÃO DO SENADOR
As novas medidas cautelares foram ordenadas em 4 de agosto por Moraes após Marcos do Val sair do Brasil sem autorização do Supremo e passar 10 dias nos Estados Unidos.
Em 15 de julho, Marcos do Val enviou pedido ao STF para viajar com a família a Orlando, na Flórida. Moraes negou. O ministro ressaltou que as investigações contra o parlamentar estão em andamento e que não havia justificativa para relaxar as medidas.
Em 24 de julho, o senador informou, por meio de redes digitais, que estava nos Estados Unidos. Ele declarou que usou passaporte diplomático para ingressar no país.
“Estou na Disney. Vim passar férias. Minha filha está de férias e nós estamos com recesso parlamentar”, disse Marcos do Val durante transmissão ao vivo pela internet, na qual exibiu diferentes passaportes, como o diplomático, o civil, europeu e 2 americanos.
TORNOZELEIRA E MEDIDAS RESTRITIVAS
Na volta ao Brasil, o parlamentar foi abordado pela PF logo após deixar o avião, ainda no aeroporto de Brasília. Além de ganhar tornozeleira, ele recebeu as seguintes medidas restritivas:
- Recolhimento domiciliar: das 19h às 6h — segunda a sexta-feira —, com exceção de dias em que precisar participar de sessões ou votações no Senado. Tempo integral nos fins de semana, feriados e dias de folga;
- Bloqueio integral de contas e investimentos: contas bancárias, ativos e investimentos — ações, títulos públicos/privados, derivativos, fundos, previdência privada, consórcios, moedas digitais etc.;
- Bloqueio do PIX: todas as chaves PIX registradas em nome de Marcos Ribeiro do Val;
- Bloqueio de cartões: todos os cartões de crédito e débito vinculados a ele;
- Bloqueio de veículos e imóveis;
- Cancelamento e devolução do passaporte diplomático;
- Proibição de uso de redes digitais, direta ou por terceiros; e
- Bloqueio de salário e verbas de gabinete do senador integralmente.
OBSTRUÇÃO DE JUSTIÇA
O senador já era investigado por ter divulgado informações sigilosas sobre delegado da PF, que atua em processos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e, por isso, responde por obstrução de justiça.
Durante essa investigação, Marcos do Val teve o passaporte brasileiro civil bloqueado. Moraes ainda ordenou o bloqueio de R$ 50 milhões das contas do senador.
A PF cumpriu mandados de buscas em endereços dele, mas o passaporte diplomático estaria guardado no gabinete do parlamentar, em Brasília, que não foi vasculhado por agentes da PF. No entanto, ele tinha a obrigação de entregar o documento aos agentes federais.