A 15ª Marcha da Consciência Negra, em São Paulo, foi realizada nesta terça-feira (20), repudiando o racismo, o fascismo e em defesa da democracia.
Mais de 3 mil pessoas caminharam do Masp, na Avenida Paulista, e encerraram a marcha na Praça Ramos, nas escadarias do Teatro Municipal. Os pronunciamentos, cartazes, faixas e bandeiras homenagearam Zumbi dos Palmares, os 100 anos de Nelson Mandela, Luiz Gama, os 40 anos do MNU, Marielle Franco e Moa do Katendê, mestre de capoeira assassinado em Salvador, covardemente, pelas costas, por um bolsonarista.
Antes da caminhada pela Paulista, a bateria da Vai-Vai fez uma apresentação especial em frente ao Masp. E a bateria Zumbiido acompanhou com seu som vibrante a manifestação até o Teatro Municipal.
“Racismo, Não. Em Defesa da Democracia, Por Direitos, Contra o Fascismo”, dizia a enorme faixa que abria a Marcha. “40 anos: Por Marielle, Por Mestre Moa! Por nossas vidas”, dizia a faixa do Movimento Negro Unificado (MNU), que está completando 40 anos fundação.
A comemoração do Dia 20 de Novembro marca a data em que o país lembra a morte de Zumbi dos Palmares, um dos heróis da luta contra a escravidão no Brasil. A primeira Marcha na capital paulista aconteceu em 2003.
Além de São Paulo, houve atos, marchas, festivais, palestras em todo o país, destacando Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre.
Em São Paulo, a manifestação contra o racismo e em defesa da democracia foi organizada por entidades como o Movimento Negro Unificado (MNU), Congresso Nacional Afro Brasileiro (CNAB), Unegro, Conen e Quilombação e teve a participação da UMES-SP, UNE, Intersindical, CGTB, CTB, NCST (Nova Central), Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) e a Confederação das Mulheres do Brasil (CMB).
O presidente da União de Negros pela Igualdade (Unegro), Edson França, explicou que a 15ª Marcha da Consciência Negra trouxe as reivindicações históricas do movimento negro brasileiro, acrescentadas à defesa a Democracia, que corre riscos com a eleição de Jair Bolsonaro (PSL). “Continuamos praticamente com as mesmas pautas de antes, defendendo mais direitos para o povo, defendendo o fim da violência contra os jovens negros. Há registros de avanços como as cotas e o estatuto da igualdade racial, mas também tem registros de retrocessos grandes”, avaliou.
“Lamentavelmente, o Brasil acabou de eleger uma pessoa que tem total desprezo pela democracia e que vai atacar os movimentos sociais, a oposição, vai recrudescer a violência no Brasil. Nós estamos muito preocupados com isto”, completou.
Para o presidente do Congresso Nacional Afro-brasileiro (CNAB), Alfredo Oliveira, um dos organizadores do ato, a marcha sempre teve o papel de conscientizar a população brasileira no combate ao racismo. “Estamos hoje marchando pela democracia e pelos direitos dos negros”, disse Alfredo. “Uma das questões principais para nós é detonar esse fascismo que ameaça o país. Há também a reforma da Previdência Social. O Bolsonaro vai tentar fazer o que o Temer não conseguiu fazer. O povo brasileiro, especialmente a negritude, vai ter muito mais dificuldade para se aposentar se a reforma da Previdência for aprovada. A reforma Trabalhista também tem que ser derrubada. Desde que ela entrou em vigor, não gerou emprego algum de qualidade, apenas aumentou ainda mais a precarização do trabalho”, destacou Alfredo.
Liberto Trindade, filho do poeta Solano Trindade, lembrou que desde que chegou à capital paulista sempre participou de manifestações de enfrentamento ao racismo, e que não poderia deixar de participar este ano, pois o momento que o país vive é preocupante. Em relação a Bolsonaro ele se diz mais cauteloso. “Eu ainda estou cauteloso quanto à gestão de Bolsonaro. Eu quero ver se ele vai cumprir com o que ele falou, porque é uma coisa muito grave, e a gente tem que ficar esperto a partir do dia primeiro. Estamos na expectativa, aguardando a posse dele para ter uma melhor analise das atitudes dele como presidente” disse Liberto.
Milton Barbosa, fundador do MNU, disse que “houve avanços significativos nas áreas da educação, no trabalho e na comunicação”, como resultado dos esforços do movimento negro. “Foram poucos, mas foram avanços significativos que vão nos preparar para darmos saltos maiores. Hoje a discussão da questão racial tomou todo o país”, disse Milton.
Milton lembrou que estamos vivendo um momento importante que é a reafirmação da democracia em nosso país. “Nossa bandeira é Não ao racismo e em defesa da democracia. Estamos nos preparando para o que pode vir com esse Bolsonaro. As falas dele são extremamente racistas e incitam a violência, então estamos nos preparando para esse enfrentamento”, destacou o presidente de Honra do MNU.
Ele destacou, no entanto, que o povo negro que venceu a escravidão e o colonialismo não vai se intimidar com Bolsonaro.
De acordo com Roberto Ribeiro, da Associação Africana do Brasil, o 20 de Novembro significa a “continuidade das nossas conquistas”. Para ele, a Marcha tem significado de “resistência e que vamos lutar pela democracia”. “É uma maneira de dizer Não ao racismo e de afirmação”.
Gilson Negão, do grupo Fala, Negão, Fala, Mulher, sintetizou o espírito da Marcha: “É luta, resistência e afirmação do povo negro”. “Somos contra o racismo, xenofobia, intolerância religiosa. Pelos direitos de homens e mulheres”.
Membro da executiva do Conen (Coordenação Nacional de Entidades Negras), Flávio Jorge Rodrigues da Silva lembrou a primeira Marcha realizada em 2003 e destacou que a atual está sendo realizada num “contexto de um golpe no Brasil, com a eleição de um presidente que dirige ataques e falas racistas, machistas e misóginas”.
“Sua campanha, seu programa de governo, sua escolha de ministério mostra de como o povo negro vai ter que enfrentar no próximo ano”, frisou Flávio. Malu, do grupo Afronte – Juventude Sem Medo, destacou que a eleição de “um presidente racista, fascista, nos coloca a tarefa de ir para as ruas e unir a juventude, o povo preto, para cerrar os punhos”.
Esteve presente também na Marcha o Intecab (Instituto Nacional da Cultura e Tradição Negra).
AVESNALDO SANTOS E ANTONIO ROSA