A quinta vítima do atirador que abriu fogo contra varias pessoas que participavam de uma missa na terça-feira, 11, na Catedral Metropolitana de Campinas morreu na tarde desta quarta-feira, no Hospital Municipal Mário Gatti. A prefeitura informou que Heleno Severo Alves, de 84 anos, havia passado por cirurgia, após ser ferido por disparos nas regiões do tórax e abdômen.
Além de Heleno, as outras quatro vítimas – Sidnei Vitor Monteiro, de 39 anos, José Eudes Gonzaga, de 68 anos, Cristofer Gonçalves dos Santos, de 38 anos, e Eupídio Alves Coutinho, 51 anos – morreram na igreja. Uma missa solene em homenagem às vítimas do atirador na reabertura da Catedral Metropolitana de Campinas, nesta quarta-feira.
O atirador Euler Fernando Grandolpho, de 49, foi velado e enterrado em uma cerimônia reservada, com cerca de 50 familiares e amigos também nesta tarde. Euler cometeu suicídio após efetuar os disparos que mataram as cinco pessoas e feriram outras três, na Catedral.
De acordo com o delegado-chefe do Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo-Interior (Deinter 2), José Henrique Ventura, a arma com a qual o atirador fez 22 disparos, foi comprada ilegalmente. Euler Grandolpho usava um pistola 9 milímetros de uso exclusivo das Forças Armadas ou Polícia Federal, e um revólver calibre 38.
A polícia ainda quer esclarecer como ele conseguiu comprar o armamento e qual foi sua motivação para comer tal barbaridade. O atirador foi servidor concursado do Ministério Público do Estado de São Paulo, atuando como auxiliar de Promotoria I, na Comarca de Carapicuíba, região metropolitana de São Paulo.
Desde 2014, o atirador não trabalhava mais no órgão e nem tinha renda própria. Segundo o delegado, desde que saiu do emprego, ele vivia com o pai, em Valinhos, município da região metropolitana de Campinas. “Ele não teria dinheiro suficiente para comprar essas armas e essa munição”, disse o delegado a partir das informações fornecidas pela família. Ventura destacou ainda que a pistola usada no atentado não é simples de ser utilizada, mas as imagens das câmeras de segurança do interior da catedral indicam que Euler tinha noções básicas de como manusear a arma. “Dá a impressão que é uma pessoa que não manuseou pela primeira vez uma arma daquela”, destacou.
Na casa de Euler Grandolpho, a polícia apreendeu vários pertences pessoais do atirador, como um notebook, um celular e um bloco de anotações. Os registros escritos mostram, segundo Ventura, que o autor do ataque tinha pensamentos paranoicos e confusos. “Tinha uma certa mania de perseguição”, ressaltou ao afirmar que grande parte das anotações são “coisas desconexas”.
Nas anotações, cuidadosamente escritas, como se fosse um diário, Euler detalhava sua rotina: incluindo datas e horários, assim como números de placas de automóveis que via na rua e frases que escutava. Tudo escrito com letra de forma.
O delegado afirma que Euler era uma pessoa muito reclusa e não tinha amigos ou pessoas com quem mantivesse contato real ou virtual. “Não tinha muito relacionamento”, disse.
A Polícia Civil apurou com familiares que o atirador chegou a fazer tratamento contra a depressão e tinha um “perfil estranho”. Grandolpho não tinha antecedentes criminais, mas, por outro lado, registrou boletins de ocorrência por perseguição e injúria. “Ele tinha um perfil de se sentir perseguido. Chegou a registrar boletins de ocorrência e segundo consta, até em função desse perfil, que poderia vir de uma depressão, ele fez uma consulta no CAPS que é um centro de apoio psicossocial para tratar disso”, afirmou o delegado.
Um dia antes, em entrevista à Folha, uma ex-namorada de Euler disse que o único desvio de comportamento de Euler, era que ele externava ódio pela Igreja Católica, por conta da relação que teve com o pai, considerado por Euler um cristão fervoroso, que passava muito tempo na igreja, fazendo trabalho voluntário. “Ele dizia que o pai ficava sempre enfiado dentro da igreja ‘ajudando pobre’, que ‘dentro de casa não varre um chão’”, disse a escrevente Rita Franco, 46.
Rita Franco afirmou também que Euler tinha opiniões fortes e seguia à risca valores conservadores. E afirmou que o ex-namorado chegou a manifestar posições racistas. “Ele dizia ‘odeio aquela negra que gosta de mim’, em relação a uma menina, morena, de cabelos cacheados”, afirma. Ela informou que seu último contato com ele foi em 2004 e que embora Euler demonstrasse ódio pela religião, nunca achou que o sentimento dele “fosse atingir essa dimensão”. “Não sei o que aconteceu nesse meio-tempo”, disse a ex-namorada, que conviveu com Euler dos anos 1980 ao início dos anos 2000.