Engenheiro diz que foi pressionado pela Vale a assinar laudo de estabilidade da barragem
A Polícia Federal (PF) identificou uma troca de e-mails entre profissionais da Vale e duas empresas ligadas à segurança da barragem de Brumadinho mostrando que, dois dias antes do rompimento, a mineradora já tinha ciência de problemas nos dados de sensores responsáveis por monitorar a estrutura.
Porém, em depoimento ao delegado Luiz Augusto Nogueira, da Polícia Federal, Makoto Namba, um dos engenheiros da empresa TÜV SÜD responsável por laudos de estabilidade da barragem, disse que só veio saber das alterações dos sensores após o rompimento da barragem.
O depoimento dos engenheiros à PF aconteceu na sexta-feira (1).
Namba e André Jum Yassuda foram presos pela Polícia Federal na semana passada, mas na terça-feira (5) o Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou que eles fossem soltos.
As mensagens dos e-mails começaram a ser trocadas no dia 23 de janeiro, às 14h38, e se prolongaram até às 15h05 do dia seguinte. A barragem se rompeu no dia de 25 de janeiro.
O delegado, em suas perguntas a Namba, menciona que o assunto das mensagens “diz respeito a dados discrepantes obtidos através da leitura dos instrumentos automatizados (piezômetros) no dia 10/01/2019, instalados na barragem B1 do CCF, bem como acerca do não funcionamento de 5 (cinco) piezômetros automatizados”.
O delegado leu as mensagens para o engenheiro e o questionou sobre “qual seria sua providência caso seu filho estivesse trabalhando no local da barragem”. De acordo com o relatório da Polícia Federal, o engenheiro Makoto Namba respondeu que “após a confirmação das leituras, ligaria imediatamente para seu filho para que evacuasse do local bem como que ligaria para o setor de emergência da Vale responsável pelo acionamento do PAEBM [Plano de Ação de Emergência de Barragens de Mineração] para as providências cabíveis”.
Namba também declarou que sabia da existência de uma nascente a “montante [parte alta] do reservatório da barragem” e que a água excedente dessa nascente corria para dentro da barragem. Disse ainda que fez recomendações de instalação de equipamentos para que a água da nascente fosse desviada. E que a Vale ainda não tinha feito o recomendado.
O engenheiro Makoto Namba também disse que foi pressionado pela Vale a assinar laudo atestando a estabilidade da barragem. Ele relatou uma reunião com funcionários da mineradora sobre o laudo de estabilidade assinado por ele.
Namba disse que um funcionário da Vale chamado Alexandre Campanha cobrou dele: “A TÜV SÜD vai assinar ou não a declaração de estabilidade?”.
Em seu depoimento à PF, Namba disse ter respondido que a empresa [TÜV SÜD] assinaria o laudo se a Vale adotasse as recomendações indicadas na revisão periódica de junho de 2018. Mesmo não tendo o compromisso da Vale de seguir as recomendações, ele acabou assinando o documento.
Diz Namba no depoimento: “apesar de ter dado esta resposta para Alexandre Campanha, o declarante sentiu a frase proferida pelo mesmo e descrita neste termo como uma maneira de pressionar o declarante e a TÜV SÜD a assinar a declaração de condição de estabilidade sob o risco de perderem o contrato”.
Até a quarta-feira (6), a tragédia provocada pela Vale causou 150 mortes e 182 desaparecidos.
Em nota, a Vale diz que vai se abster “de fazer comentários sobre particularidades das investigações de forma a preservar a apuração dos fatos pelas autoridades”. E que ela é a “maior interessada no esclarecimento das causas desse rompimento”.
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