Os enterros das vítimas do incêndio no alojamento das categorias de base do Flamengo estão sendo marcados por grande comoção. Na segunda-feira (11), o corpo de Samuel Thomas de Souza Rosa de apenas 15 anos foi sepultado no Cemitério de Vila Rosali, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Centenas de pessoas acompanharam o velório e homenagearam o jovem
Samuel é um dos 10 jogadores mortos na tragédia ocorrida na última sexta-feira (8).
A mãe de Samuel foi trazida de ambulância até o cemitério. Ela chegou praticamente desmaiada. Meia hora depois, desmaiou e foi novamente carregada até a ambulância, antes do enterro.
Parentes e amigos prestaram homenagens, muitos deles vestindo a camisa do clube. Alguns torcedores cantaram o nome de Samuel e das outras vítimas do enterro.
“A mente dele era só ajudar a família. Estamos perdendo muitos jovens, ele era um menino muito bom e vim dar um abraço na família”, diz Carla Caetano Pereira, vizinha e amiga do jogador.
Gedson Beltrão dos Santos Corgosinho, de 14 anos, foi enterrado na manhã desta segunda-feira (11) no Cemitério Municipal de Itararé (SP). Gedinho, como era conhecido, foi velado no ginásio municipal de Itararé. O caixão chegou às 23h30 e entrou sob uma salva de palmas de parentes, amigos e moradores da cidade que lotaram o local. A mãe do jogador passou mal e precisou ser amparada.
Além de Gedson e Samuel, também foram sepultados nesta segunda-feira Jorge Eduardo Santos, que foi levado para Além Paraíba, na Zona da Mata de MG; Athila Souza Paixão enterrado em Lagarto, em Sergipe; e Rykelmo de Souza Viana enterrado em Limeira.
O INCÊNDIO
Uma análise preliminar constatou que as chamas tiveram início a partir de um curto-circuito no ar-condicionado do alojamento seis.
Reportagem veiculada na noite deste domingo pelo programa Fantástico, da TV Globo, informou que um dos sobreviventes do incêndio afirmou em seu depoimento aos investigadores da Polícia Civil que havia uma espécie de “gambiarra” em um dos aparelhos de ar-condicionado do alojamento em que viviam. Seis contêineres transformados em dormitórios e que ficavam em uma parte do CT Ninho do Urubu onde, segundo a planta que consta na Prefeitura, deveria ser um estacionamento.
De acordo com o sobrevivente da tragédia, o aparelho de ar-condicionado seria menor do que o buraco na parede. O espaço que sobrou teria sido preenchido com pedaços de madeira, plástico bolha e espuma.
DIVERGÊNCIAS
A Prefeitura divulgou em nota que o Centro de Treinamento do Flamengo não possui alvará de funcionamento, devido à ausência do certificado de aprovação do Corpo de Bombeiros, e que o clube já havia sido autuado pelas condições do local mais de 30 vezes, entre outubro de 2017 e dezembro de 2018.
“Por estar em funcionamento sem o devido alvará foram lavrados 31 autos de infração. Desse total, o Flamengo pagou 10 multas e deixou de pagar 21 multas. Por conta da legislação – Lei Federal 5172/66 – não é possível informar os valores das multas por questão de sigilo fiscal”, revelou a nota divulgada pela secretaria municipal da Casa Civil.
Já o clube avalia que a tragédia não tem relação com os alvarás e as multas da Prefeitura. “O Centro de Treinamento, suas licenças, seu alvará e suas multas. Isso não tem nada a ver com o acidente que ocorreu. Nós temos algumas providências a serem tomadas para deixar o CT plenamente legalizado. Estamos trabalhando arduamente nisso, com o Corpo de Bombeiros. Nós precisávamos de nove certificados para conseguir o alvará, já temos oito. Estamos trabalhando com o Corpo de Bombeiros para conseguir o alvará”, afirmou o CEO do rubro-negro, Reinaldo Belotti, em pronunciamento no último sábado.
Em novembro do ano passado, o Corpo de Bombeiros vistoriou o Centro de Treinamento, como parte do processo de emissão do certificado de aprovação. O certificado não foi emitido porque ainda havia pendências em relação ao projeto de segurança, mas a corporação informou, em nota, que “não foram constatados riscos que justificassem legalmente a interdição imediata do local”.
PUXADINHO
A prefeitura ainda alega que, no último projeto aprovado em relação ao local, o espaço onde ficavam os alojamentos das categorias de base, está descrito como estacionamento para veículos, e não alojamento para uso como dormitório.
Já o Flamengo afirma que o projeto aprovado em abril de 2018 levava em conta as mudanças previstas para acontecer em março, quando a atual licença do CT expira. Com a construção de um novo módulo, os atletas da base seriam realojados nesta semana para o local onde ficavam os jogadores profissionais. Belotti também falou que o local foi vistoriado pelo Conselho Municipal da Criança e do Adolescente, que emitiu certificado de regularidade, e pela Ferj (Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro) e pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol), que emitira o certificado de clube formador, de acordo com a Lei Pelé.
“Essa fiscalização tinha que atender o seguinte: manter o alojamento e as instalações esportivas adequadas, em matéria de alimentação e higiene, segurança e salubridade. A partir do momento que tivemos esse certificado que acabei de falar, é porque todos os pré-requisitos foram atendidos. E não estamos falando de uma instituição. Estamos falando de duas, de três instituições. E esse módulo era conhecido por todos. Não era um ‘puxadinho’ que a gente escondia. Pelo contrário. Era um alojamento confortável, adequado e que nós mostrávamos para todos com orgulho”, afirmou o CEO do clube, que também lembrou que a estrutura está no local desde 2011 e que abrigou jogadores consagrados, como Ronaldinho Gaúcho, Vagner Love e a seleção olímpica do Brasil.
O MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) marcou reunião com o Flamengo, a Prefeitura, a Defesa Civil e outros órgãos para buscar soluções imediatas às famílias das vítimas e à regularização do CT.