Estudantes de todo o país realizam nesta quinta-feira (28) atos do Dia Nacional da “Resistência na Educação – Democracia sim, mordaça não”, convocado pela União Nacional dos Estudantes (UNE) e pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES).
Em São Paulo, Porto Alegre, Fortaleza, Curitiba e diversas outras capitais, as entidades estudantis convocaram manifestações de rua em repúdio à perseguição de professores e estudantes por meio de medidas como o projeto “Escola sem Partido”.
A data escolhida pelos estudantes para os protestos relembra a memória do estudante secundarista Edson Luis, morto em 28 de março de 1968 pela ditadura militar durante protesto no restaurante estudantil Calabouço, centro do Rio de Janeiro.
O mote da passeata em São Paulo se diferenciou do resto do Brasil por trazer à memória a tragédia de Suzano, na qual 10 pessoas morreram. Por “Paz e democracia na educação: nem armas, nem mordaça”, pelo menos mil estudantes foram às ruas.
Para a presidente da UNE, Mariana Dias, que esteve presente no na Avenida Paulista, “os estudantes estão muito preocupados com o que pode se tornar a escola e a universidade”. “Nós temos uma ausência muito grande de projeto para o país. O ministro da Educação não consegue falar qual é o projeto do governo de Bolsonaro para a Educação, a não ser os jargões que eles sempre falam, de que a universidade e a escola são espaços de doutrinação do marxismo e do comunismo”.
“Estamos fazendo estas manifestações pra mostrar que tem estudante preocupado com a situação das escolas e das universidades de nosso país”, disse. “Elas estão sendo ameaçadas como um espaço crítico, onde todos os tipos de pensamento e opinião possam existir e dialogar. Queremos futuro, aposentadoria, escola, liberdade. Não queremos um país de ódio, que incentive o armamento”, concluiu Mariana.
Pedro Lucas Gorki, presidente da UBES, acredita que nos três primeiros meses de mandato “o governo Bolsonaro já se qualificou como desqualificado. Por exemplo, ontem, na comissão de Educação da Câmara, o ministro da pasta não sabendo o que é Fundeb e desconhecendo a situação da educação mostrou seu completo despreparo”.
“O que o governo oferece para a juventude é a total falta de perspectiva. Desde a educação pública, já que querem desvincular da constituição o orçamento da Educação, até impedir o justo direito de um dia se aposentar”, afirmou Pedro Lucas.
O presidente da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (UMES-SP), Lucas Chen, destacou a importância da unidade entre as entidades entorno da defesa da Educação e da Democracia. “O projeto ‘Escola Sem Partido’ prevê o fim do debate, do pensamento crítico e da diversidade de opiniões para impor o ‘pensamento’ de Bolsonaro, Olavo de Carvalho, Paulo Guedes e companhia. Com o projeto eles pretendem perseguir os movimentos estudantis, impedir que a gente debata política dentro das escolas”.
Chen também reforçou o apoio dos estudantes às pautas dos trabalhadores: “estamos nas ruas também pelo Previdência pública. Basta de arrocho nos salários, basta de privatização”.
A presidente da União Estadual dos Estudantes (UEE-SP), Nayara Souza, citou o movimento dos estudantes da Universidade Presbiteriana Mackenzie, que rechaçaram a visita de Bolsonaro à instituição e fizeram com que fosse cancelada. “Ele vinha dizendo que as universidades servem somente para a ‘esquerdização’ das pessoas, mas decide fazer uma visita para conversar sobre suas pesquisas. Justamente por entender que Bolsonaro não gosta da educação brasileira e dos estudantes brasileiros, estes mesmo estudantes se organizaram para constrangê-lo”.
Para Laís do Vale, presidente da União Paulista dos Estudante Secundaristas (UPES-SP), “a palavra que mais toca aqueles que passaram pelo trauma de Suzano é ‘paz’. Não há motivos para acreditar que se combate a violência nas escolas armando os professores”, afirmou.
PORTO ALEGRE
Na capital gaúcha, quatro mil estudantes participaram do ato, que também contou com a convocação da União Gaúcha dos Estudantes (UGES) e da União Metropolitana dos Estudantes de Porto Alegre (UMESPA), contra a reforma da Previdência, contra o projeto “Escola Sem Partido” e o fechamento de escolas. A passeata reivindicava a permanência do meio passe estudantil e defendia a Democracia.
Vitória Cabreira, presidente da UMESPA, disse que “dentro das escolas, vamos convencer os estudantes e na rua vamos convencer toda a população de Porto Alegre a ser contra os retrocessos propostos por Eduardo Leite”.
No ato, criou-se simbolicamente a Frente Parlamentar Contra o Fechamento de Escolas, na presença das deputadas estaduais Luciana Genro (PSOL) e Juliana Brizola (PDT). Para Luciana, “o grande desafio é impedir os retrocessos. “Hoje celebramos tristemente os 51 anos do assassinato do estudante Edson Luiz. E isso acontece justamente quando o Governo Federal, encabeçado por Bolsonaro, está querendo homenagear o golpe militar nos quartéis de nosso país. Não aceitaremos esta política de volta à ditadura, não aceitaremos essa política de louvar torturadores, que cometeram crimes contra a humanidade, como foi o assassinato de Edson. Ao invés de aceitar apoios ao golpe, queremos é mais democracia”, disse.
“Ao invés de ‘Escola Sem Partido’, queremos escola sem mordaça, escola sem censura, escola na qual o estudante tenha poder e tenha voz. Queremos um espaço escolar onde a juventude possa se expressar, onde o professor possa ensinar livremente”.
“Estamos junto para defender os direitos dos trabalhadores e do povo pobre, que é sempre quem é chamado a pagar a conta da crise neste país. Fechar escola, abrir prisões é crime contra a humanidade”, concluiu a psolista.
Juliana, falando com os estudantes, disse que “são vocês que podem barrar este crime que está acontecendo no nosso estado desde o começo do governo Sartori e se estendendo no governo Leite, que é o fechamento de escolas. Precisamos da rebeldia da juventude para todas as nossas lutas. É o meio passe, é contra o fechamento de escolas, é contra esta reforma nefasta da previdência, que quer tirar direito do trabalhador”.
“Conto com vocês para que na Assembleia Legislativa para que possamos barrar tudo aquilo que Eduardo Leite quer fazer de mal pro estado. O povo quer ter voz, quer ter vez, e é a juventude deste estado que vai barrar todas as reformas que são nefastas e contra o povo brasileiro”, afirmou, instalando a Frente Parlamentar Contra o Fechamento de Escolas.
CAPITAIS
Na capital do Ceará, Fortaleza, mesmo debaixo de uma forte chuva, os estudantes saíram em passeata da Praça da Gentilândia para “mostrar seu poder e sua indignação em relação as reformas que o governo quer fazer”, afirmou o presidente da União Estudantil de Fortaleza (UNEFORT), Anderson Tony. O mesmo aconteceu em Curitiba, onde os estudantes, liderados pela União Paranaense dos Estudantes Secundaristas (UPE), fizeram oposição às ideias de Bolsonaro.
Os atos acontecem em pelo menos dez capitais e em diversos horários. O primeiro foi em Belém, às 07h30min, e o último será em Belo Horizonte, às 19h.
PEDRO BIANCO
Veja o vídeo do ato em Porto Alegre:
Muito certos ,não aceitamos mas Ditaduras.
Queremos democracia!