O número de vítimas fatais dos desabamentos de dois prédios construídos pelas milícias na comunidade da Muzema, no Itanhangá, zona oeste do Rio de Janeiro, subiu para 11. O corpo de Antônia Sampaio, de 31 anos, foi encontrado pouco depois das 10h desta segunda-feira. De acordo com o Corpo de Bombeiros, há ainda 13 desaparecidos nos escombros dos dois prédios que caíram na sexta.
O quarto dia seguido de buscas no local foi iniciado nesta segunda. O trabalho é feito por mais de 100 militares, que têm o auxílio de cães farejadores, drone e helicópteros.
Neste domingo, houve o primeiro sepultamento da tragédia. O corpo do pastor Cláudio José de Oliveira Rodrigues, de 40 anos, foi enterrado no cemitério do Pechincha, também na Zona Oeste. A solenidade contou com mais de 100 pessoas, inclusive a filha dele, Clara Rodrigues, de 10 anos, uma das sobreviventes do desabamento.
Além das 11 mortes confirmadas, outras 10 pessoas foram resgatadas com vida.
MILICIANOS CONTROLAM A REGIÃO
A comunidade da Muzema, onde ficam os dois prédios que desabaram na manhã desta sexta-feira, 12, era controlada pelo grupo miliciano liderado pelo major da Polícia Militar Ronald Alves Pereira e pelo ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) Adriano Magalhães da Nóbrega.
Os dois são apontados como chefes do “Escritório do Crime”, grupo armado apontado que realizou o assassinato da vereadora Marielle Franco, em março do ano passado. De acordo com a polícia, o executor de Marille, Ronnie Lessa, atuava em conjunto com os chefes da milícia. Ele foi preso em sua mansão no condomínio “Vivendas da Barra”, o mesmo residencial onde mora Jair Bolsonaro.
Ronald Pereira foi preso em janeiro, na ‘Operação Intocáveis’, do Ministério Público e da Polícia Civil. Já Adriano Nóbrega conseguiu escapar e segue foragido. Eles foram denunciados por grilagem e exploração imobiliária ilegal nas comunidades de Rio das Pedras e Muzema.
Adriano da Nóbrega trabalhou no 18º Batalhão da PM com Fabrício Queiroz, o ex-assessor de gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) investigado por lavagem de dinheiro. A mãe e a filha de Nóbrega trabalhavam no gabinete do filho do presidente.
De acordo como Ministério Público, Nóbrega dirigia o esquema de construção civil ilegal nessas comunidades. Pereira, por sua vez, foi denunciado por comandar negócios ilegais da milícia, entre eles, grilagem de terra e agiotagem.
INTOCÁVEIS
Em setembro do ano passado, policiais militares do Comando de Polícia Ambiental (CPAM) fizeram uma operação no local e prenderam 39 pessoas por envolvimento com grupos micilianos.
A operação foi realizada na Muzema, Morro do Banco, Tijuquinha, Vila da Paz, Ilha da Gigóia e Ilha Primeira, todas no Itanhangá, que faz parte da região administrativa da Barra da Tijuca.
Na época, os agentes descobriram a construção de dezenas de prédios de quatro a seis andares em média, onde anúncios ofereciam apartamentos de diversos valores e condições de pagamento, inclusive com projeção de taxas de condomínio. As construções clandestinas verticalizadas não possuíam infraestrutura básica, como ligação regular de esgoto, que seriam lançados em rios e na Lagoa da Barra.
Em janeiro deste ano a Operação “Os Intocáveis’ prendeu cinco pessoas por grilagem de terras em Rio das Pedras, Muzema e redondezas, dentre elas o major da PM Ronald Paulo Alves Pereira e o tenente reformado Maurício Silva da Costa, o Maurição. Os dois são apontados como chefes da milícia, ao lado de Adriano Magalhães da Nóbrega, ex-capitão do Bope, que ainda está foragido. Os outros presos na ocasião foram Manoel de Brito Batista, o Cabelo; Benedito Aurélio Ferreira Carvalho, o Aurélio; e Laerte Silva de Lima.
Os envolvidos foram denunciados pela construção, venda e locação ilegais de imóveis; receptação de carga roubada; posse e porte ilegal de arma; extorsão de moradores e comerciantes, mediante cobrança de taxas referentes a “serviços” prestados; ocultação de bens adquiridos com os proventos das atividades ilícitas, por meio de “laranjas”; falsificação de documentos; pagamento de propina a agentes públicos; agiotagem; utilização de ligações clandestinas de água e energia; e uso da força como meio de intimidação e demonstração de poder.
VÍTIMAS FATAIS:
1. Raimundo Nonato do Nascimento, 40 anos
2. Pedro Lucas, 7 anos
3. Cláudio Rodrigues, 41 anos
4. Hiltonberto Rodrigues, 12 anos
5 Maria Nazaré de Souza
6. Hilton Guilherme Sodré de Souza, 12 anos
7. Ruan Amorim Rodrigues, de 10
8. Zenilda Bispo de Amorim
9. Menino ainda não identificado
10. Maria Abreu, 49 anos
11. Antônia Sampaio, encontrada na manhã desta segunda