Os relatos de moradores de Manguinhos, localizada na zona norte do Rio, de que ‘snipers’ teriam atirado do alto da torre da Cidade da Polícia, contra a comunidade, foi reforçado após o exame cadavérico de Rômulo Oliveira da Silva, de 37 anos, concluir que ele morreu após receber “um tiro de fuzil vindo de cima”. Ele estava estacionando sua moto em um mecânico quando foi vítima dos tiros oriundos da construção.
A morte de Rômulo ocorreu em janeiro deste ano, após o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, defender o uso de “snipers” para executar “criminosos que portem fuzis”, nas favelas fluminenses.
De acordo com o laudo da autópsia, divulgado pelo jornal ‘Extra’, o disparo entrou no corpo da vítima pelo peito e saiu pela “região lombar esquerda”, ou seja, pela base da coluna. Segundo o documento, a causa da morte foi “ferimento do coração”. O tiro, segundo o texto do perito Ronaldo Martins Junior, do Instituto Médico Legal (IML), percorreu a barriga de Rômulo e causou ferimentos no fígado, nas alças intestinais e no estômago.
De acordo com a irmã da vítima, Leidelene de Oliveira, um pouco antes de Rômulo ser atingido, outro morador também foi baleado ali no mesmo local. “Quando o Rômulo passou por ali, em direção ao mecânico, as pessoas alertaram que eles estavam dando tiro na torre da Cidade da Polícia e ele tentou parar para estacionar, mas foi atingido, quando estava de frente para a torre”, conta a jovem, de 22 anos. A Cidade da Polícia é um complexo de delegacias especializadas da Polícia Civil que fica na frente da favela.
Segundo o professor de medicina legal da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) Nelson Massini, ao analisar o laudo da perícia, as lesões comprovam que o tiro foi feito com um fuzil. “O tiro tem características típicas de fuzil, provocou lesões em vários órgãos”, afirma Massini.
Rômulo trabalhava como porteiro da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e segundo seus parentes, ele estava a caminho de uma oficina mecânica, dentro da favela. Ele deixaria sua motocicleta, que apresentava problemas no motor, no local. Foi baleado ali mesmo, na região conhecida como Praça do Flamenguinho.
Momentos antes do porteiro ser alvejado, um ajudante de pedreiro de 22 anos também foi alvo de um tiro de fuzil na mesma região, a poucos metros de distância do ponto em que Rômulo foi atingido. O tiro perfurou a barriga do jovem, que foi socorrido e sobreviveu. Em depoimento ao Ministério Público, ele disse que o tiro que o atingiu veio da torre da Cidade da Polícia. A morte de Rômulo e o ferimento do jovem são investigados num mesmo inquérito.
Outro procedimento investiga o assassinato de Carlos Eduardo dos Santos Lontra, de 27 anos, quatro dias antes na mesma região. Ele foi baleado na barriga quando passava pelo local quando voltava da empresa de reciclagem de extintores de incêndio onde trabalhava. Os parentes afirmam que os tiros partiram da torre.