Os procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba desmentiram, na sexta-feira (21/06), que, após mensagem do então juiz Sérgio Moro ao procurador Deltan Dallagnol, a procuradora Laura Tessler tivesse sido afastada de suas atribuições no interrogatório de Lula, no processo da propina do triplex de Guarujá – e trocada pelos procuradores Júlio Noronha e Roberson Pozzobon.
O site The Intercept Brasil divulgara a seguinte troca de mensagens, ocorrida, segundo o site, no dia 13 de março de 2017:
MORO – 12:32:39. – Prezado, a colega Laura Tessler de vcs é excelente profissional, mas para inquirição em audiência, ela não vai muito bem. Desculpe dizer isso, mas com discrição, tente dar uns conselhos a ela, para o próprio bem dela. Um treinamento faria bem. Favor manter reservada essa mensagem.
DALLAGNOL – 12:42:34. – Ok, manterei sim, obrigado!
Na quinta-feira, o blogueiro Reinaldo Azevedo divulgou que, após a mensagem de Moro – e em função dessa mensagem – a escala dos procuradores foi alterada para retirar Laura Tessler do interrogatório de Lula, ocorrido no dia 10 de maio de 2017.
Segundo o blogueiro, “a revelação da conversa faz parte de uma apuração conjunta do site ‘The Intercept Brasil’ com este blog e com o programa ‘O É da Coisa’, da BandNews FM”, programa do próprio Azevedo naquela emissora.
“Além de desrespeitosa, mentirosa e sem contexto”, dizem os procuradores da Lava Jato, “a publicação de Reinaldo Azevedo não realizou a devida apuração, que, por meio de simples consulta aos autos públicos, evitaria divulgar movimento fantasioso de troca de procuradores para ofender o trabalho e os integrantes da força-tarefa. Como o site ‘The Intercept Brasil’, de quem se diz parceiro, Reinaldo Azevedo, de modo tendencioso, tentou criar artificialmente uma realidade inexistente para dar suporte a teses que favoreçam condenados por corrupção e lavagem de dinheiro na Lava Jato”.
Segundo a versão divulgada pelo blog, Dallagnol, depois de receber a mensagem de Moro, se comunicou com o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, para combinar a mudança na escala dos procuradores da Lava Jato.
“A suposta versão não resiste a uma mínima análise crítica diante dos fatos públicos”, diz a nota da força-tarefa da Lava Jato.
“Conforme é público, a procuradora da República Laura Tessler participou, na manhã de 13/03/2017 [dia da mensagem de Moro], de audiência em ação penal em que era acusado o ex-ministro Antônio Palocci. Além de seguir realizando a audiência na tarde do mesmo dia, a procuradora participou de todas as subsequentes do caso, nos dias 14/03/2017, 15/03/2017, 21/03/2017, e 22/03/2017”.
Quanto ao processo da propina do triplex, os escalados eram os procuradores Júlio Noronha e Roberson Pozzobon, que vinham acompanhando as investigações desde o início.
“Não houve qualquer alteração na sistemática de acompanhamento de ações penais por parte de membros da força-tarefa. Assim, os procuradores e procuradoras responsáveis pelo desenvolvimento de cada caso acompanharam as principais audiências até o interrogatório, não se cogitando em nenhum momento de substituição de membros, até porque todos vêm desenvolvendo seus trabalhos com profissionalismo, competência e seriedade”, diz a nota da força-tarefa da Lava Jato.
NO SENADO
Em seu depoimento no Senado, na quarta-feira, Moro foi interrogado a respeito da mensagem sobre Laura Tessler pelo senador Nelsinho Trad (PSD-MS):
SENADOR NELSINHO TRAD: O que me soa nessa questão algo estranho é se o ministro, então juiz, participou ou não da orientação de trocas de agentes protagonistas nessa operação. Esse é um questionamento, ou seja, deu uma orientação para que agisse de uma forma ou outra, trocasse “a”, “b” ou “c”, porque existe uma Constituição a ser respeitada, existe um Código de Processo Penal.
MORO: … pelo teor das mensagens, se elas realmente forem autênticas, não tem nada de anormal nessas comunicações. O exemplo que V. Exª colocou é um claro exemplo de um factoide. Eu não me recordo especificamente dessa mensagem, mas o que consta no texto específico divulgado pelo site é uma referência de que determinado Procurador da República não tinha um desempenho muito bom em audiência e para dar uns conselhos para melhorar. Em nenhum momento no texto – V. Exª pode ler o texto novamente integralmente –, há alguma solicitação de substituição daquela pessoa. Tanto que essa pessoa continua e continuou realizando audiências, realizando atos processuais até hoje dentro da Operação Lava Jato. Então, assim, o juiz eventualmente comentar para um advogado na audiência ou para um procurador: “Olhe, profissionalmente, vou lhe dar um conselho: faça assim, não faça assado”, como isso pode ser considerado alguma coisa ilícita? (…) Se aconteceu de fato, não tem nada de ilícito. Não estou comandando a força-tarefa da Lava Jato, não sou o chefe da Operação Lava Jato, como falsamente afirmou, de primeiro momento, o jornalista em questão. Nada do texto que foi divulgado, autêntico ou não, autoriza esse tipo de conclusão. (…) Agora, um comentário banal, como os senhores podem fazer para mim aqui, no final desta audiência: olha, acho que não devia se posicionar dessa forma, ou, na próxima vez, faça isso ou faça aquilo. Isso significa o quê? Não significa nada. Significa uma proximidade, um conluio? Não significa nada. Então, aqui é mais um factoide sensacionalista divulgado por esse site. Eu não sei de onde se pode compreender que tem algum conteúdo irregular nesse tipo de comunicação.
Após a publicação do blogueiro, no dia seguinte ao depoimento de Moro, na quinta-feira, o PT – através de sua presidente nacional, Gleisi Hoffmann (PT-PR), dos líderes no Senado, Humberto Costa (PT-PE), e na Câmara, Paulo Pimenta (PT-RS) – acusaram Moro de “perjúrio”, por sua resposta ao senador Nelsinho Trad.
Abaixo, a íntegra da nota da Operação Lava Jato:
Força-tarefa repudia notícia falsa sobre troca de procuradores em audiência do caso Triplex
21 de Junho de 2019
Em mais um ataque infundado à Operação Lava Jato, publicação de blogueiro não checou informações básicas disponíveis em autos públicos
A força-tarefa Lava Jato do Ministério Público Federal no Paraná (MPF/PR) vem a público repudiar notícia falsa sobre troca de procuradores em audiência do caso Triplex por meio de publicação rasa, equivocada e sem checagem dos fatos pelo blogueiro Reinaldo Azevedo.
Conforme é público, a procuradora da República Laura Tessler participou, na manhã de 13/03/2017, de audiência em ação penal em que o acusado era o ex-ministro Antônio Palocci (autos nº 5054932-88.2016.404.7000). Além de seguir realizando a audiência na tarde do mesmo dia, a procuradora participou de todas as subsequentes do caso, nos dias 14/03/2017, 15/03/2017, 21/03/2017, e 22/03/2017.
Como sempre, sua atuação firme, técnica e dedicada contribuiu decisivamente para a condenação, somente nesse caso, de 13 réus acusados de corrupção e lavagem de dinheiro a mais de 90 anos de prisão, incluindo o ex-ministro Antônio Palocci. Integrante da Lava Jato no MPF desde 2015, a procuradora Laura Tessler seguiu e segue responsável por diversas investigações e ações criminais, realizando todos os atos processuais necessários, incluindo audiências, contando com toda a confiança da força-tarefa na sua condução altamente profissional, cuidadosa e obstinada no combate à corrupção.
Ou seja, não houve qualquer alteração na sistemática de acompanhamento de ações penais por parte de membros da força-tarefa. Assim, os procuradores e procuradoras responsáveis pelo desenvolvimento de cada caso acompanharam as principais audiências até o interrogatório, não se cogitando em nenhum momento de substituição de membros, até porque todos vêm desenvolvendo seus trabalhos com profissionalismo, competência e seriedade.
Também como é público, os procuradores da República Júlio Noronha e Roberson Pozzobon, que participaram em 10/05/2017 do interrogatório de Lula na ação penal sobre o triplex no Guarujá (autos nº 5046512-94.2016.404.7000), foram os mesmos que estiveram presentes nas principais medidas investigatórias do caso em 04/03/2016 (como na oitiva do ex-presidente no aeroporto de Congonhas e na busca no Instituto Lula), na exposição pública do conteúdo da denúncia em 14/09/2016, e em 16 das 18 audiências judiciais do caso realizadas no ano de 2017.
Além de desrespeitosa, mentirosa e sem contexto, a publicação de Reinaldo Azevedo não realizou a devida apuração, que, por meio de simples consulta aos autos públicos acima mencionados, evitaria divulgar movimento fantasioso de troca de procuradores para ofender o trabalho e os integrantes da força-tarefa. Como o site “The Intercept Brasil”, de quem se diz parceiro, Reinaldo Azevedo, de modo tendencioso, tentou criar artificialmente uma realidade inexistente para dar suporte a teses que favoreçam condenados por corrupção e lavagem de dinheiro na Lava Jato.
Para suas absurdas conclusões, o blogueiro usou material cuja autenticidade não foi confirmada, reforçando o aparente intuito de criar notícias às custas de publicações que distorcem supostas conversas entre autoridades, atacando o Sistema de Justiça e as instituições da República, na mesma linha do que verificado nos ataques cibernéticos. A suposta versão, que não resiste a uma mínima análise crítica diante dos fatos públicos, indica que a fábrica de narrativas político-partidárias baseadas em supostos diálogos sem autenticidade e integridade comprovadas somente leva à perda de credibilidade de quem delas se utiliza sem a devida apuração.
Todas as informações sobre as ações penais referidas podem ser consultadas no site da Justiça Federal:
a) Ação penal sobre o triplex no Guarujá: autos nº 5046512-94.2016.404.7000 (Chave eletrônica: 162567218816);
b) Ação penal envolvendo o ex-ministro Antônio Palocci: autos nº 5054932-88.2016.404.7000 (Chave eletrônica: 111718380216).