A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) realizou, na noite de terça-feira (30), um ato em solidariedade ao jornalista Glenn Greenwald, do The Intercept Brasil. Ele é o responsável pelo site que publicou diálogos do ministro da Justiça Sérgio Moro com procuradores da Lava Jato. A entidade afirmou que defende a integridade do jornalista e o direito ao sigilo da fonte e ao livre exercício da profissão.
O evento reuniu centenas de pessoas dentro e fora da ABI, no Centro do Rio. Estiveram presentes artistas como Chico Buarque, Wagner Moura, Marcelo D2 e Camila Pitanga, advogados como Pierpaolo Bottini e Carol Proner, e políticos como os deputados federais Marcelo Freixo (PSOL-RJ) e Jandira Feghali (PC do B-RJ) e o deputado federal David Miranda (PSOL-RJ. O ato começou por volta das 18h30 e acabou por volta das 22h.
“Esse é meu passaporte norte-americano”, mostrou o jornalista aos presentes que lotaram o auditório da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no centro do Rio de Janeiro, na noite desta terça-feira (30).
“Esse passaporte me permite ir para o aeroporto a qualquer minuto e sair do país”, continuou. “Eu não me importo com as ameaças que Boslonaro fez contra mim. Eu não vou fugir desse país”, acrescentou.
Em São Paulo, também houve ato em solidariedade ao jornalista Glenn Greenwald e ao The Intercept Brasil. Manifestantes se reuniram no vão do Museu de Arte Moderna (Masp), na Avenida Paulista. Depois, ocuparam a faixa direita da via e caminharam no sentido Consolação. O ato também foi organizado pela ABI.
Na semana passada, a Polícia Federal prendeu quatro pessoas suspeitas de terem invadido o celular de Moro e outras autoridades. Um dos presos, Walter Delgatti, disse em depoimento que ele é a fonte que repassou os diálogos para Glenn.
O site não revelou a fonte nem como obteve os registros das conversas.
Desde junho, Glenn tem publicado os diálogos de Moro e Deltan Dallgnol. As conversas ocorreram por meio do aplicativo Telegram e reveleram atitudes de Moro que são incompatíveis com a atuação isenta de um juiz. Na terça-feira (30), Jair Bolsonaro manifestou opinião de que Glenn cometeu um crime.
“No meu entender, ele [Glenn] cometeu um crime. Em qualquer outro país, ele estaria já em uma outra situação. Espere que a Polícia Federal chegue realmente, ligue os pontos todos”, disse Bolsonaro.
Delgatti afirmou à PF que não recebeu dinheiro em troca dos diálogos. Também disse que se comunicou com o jornalista de maneira virtual, sem revelar a identidade.
O artigo 5º da Constituição Federal, que trata dos direitos e deveres do cidadão, estabelece que “é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional”.
Em uma rede social, Greenwald escreveu nesta segunda-feira uma mensagem em que cita incisos do artigo 5º e diz que alguém poderia “mostrar ao presidente Jair Bolsonaro o que a Constituição garante”. “Acho que seria útil”, completou o jornalista.
A organização reproduziu, com auxílio de um projetor, um vídeo com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, manifestando apoio a Glenn. Uma parte da plateia não gostou e vaiou o apoio do presidente da Câmara do Deputados.