A ONU alertou o premiê israelense, Bibi Netanyahu que seu plano de anexar terras assaltadas aos palestinos seria “devastador” em relação às perspectivas de retomada das negociações de paz na região.
“Uma medida desta seria devastadora quanto ao potencial de retomada das negociações, para a paz regional e para a própria essência da solução dos dois Estados”, afirmou o porta-voz da Secretaria-Geral da ONU, Stephane Dujarric.
A condenação da ONU veio logo depois das declarações de Netanyahu que, em ato eleitoral, no dia 9, na cidade de Ramat Gan, próxima a Tel Aviv, disse que “se reeleito” procederia à anexação dos territórios onde ficam os assentamentos judaicos, construídos em terras assaltadas aos palestinos. As eleições estão previstas para o dia 17 deste mês e pesquisas do dia 10 colocam Netanyahu em segundo, com seu principal oponente, Benny Gantz, podendo conquistar uma cadeira a mais, o que, pelo sistema israelense, daria a Gantz a primazia de primeiro apresentar um gabinete respaldado na maioria dos deputados do Knesset, o parlamento israelense (o que corresponde a 61 parlamentares).
Foi uma “proposta” que o ex-primeiro-ministro Ehud Barak (que sucedeu ao assassinado Itzhaq Rabin e foi o último dirigente israelense a participar de tratativas direcionadas ao entendimento com o líder palestino, Yasser Arafat), denunciou como algo que parte de alguém que “não tem moral pública ou mandato para determinar em questão referentes ao próprio destino do Estado de Israel”.
O porta-voz destacou que “a posição do secretário-geral, Antonio Guterrez, sempre foi muito clara: ações unilaterais não ajudam o processo de paz”.
Ele prosseguiu afirmando que “qualquer decisão israelense de impor suas leis, jurisdições e administração nos territórios ocupados da Cisjordânia é sem efeito legal do ponto de vista das leis internacionais”.
Neste pronunciamento, Netanhyahu ainda acrescentou que seu plano é anexar também o vale do rio Jordão, ou seja, as terras palestinas mais férteis e um território que faz fronteira com a Jordânia, fechando um dos principais aspectos da soberania palestina que é o de estabelecer relações de fronteira com outros países árabes e não de criar um estado de mentira cercado por Israel por todos os lados.
Tal anexação, se levada a efeito, além de significar a usurpação de 2/3 do território palestino da Cisjordânia, confinaria seus habitantes a enclaves similares aos bantustões impostos aos negros durante o regime de apartheid sul-africano.
Assim como definido pelo principal oponente de Netanyahu nestas eleições, Benny Gantz, que chamou o absurdo como um simples “truque eleitoreiro”, demais oponentes o acusam de tomar iniciativas que buscam distrair o público dos escândalos de corrupção nos quais está enredado e cuja investigação já está em fase muito adiantada.
Para deputado da bancada de Netanyahu, “judeus são raça especial”
Um deputado integrante da bancada do primeiro-ministro Bibi Netanyahu, em discussão com um deputado da bancada árabe, disse-lhe que “os judeus são uma raça especial” e, por isso, o deputado árabre “não pode pregar aos judeus moralidade”.
A discussão se deu entre o deputado Miki Zohar da bancada do partido de Bibi, o Likud, e o deputado Ahmed Tibi, um dos destaques da Lista Árabe Unida que, nas eleições do dia 17, reúne candidaturas de 4 correntes políticas árabes em Israel.
Miki Zohar, que preside a Comissão de Regulamentação do Knesset, parlamento israelense, queria aprovar uma norma eleitoral permitindo que os fiscais dos partidos filmassem o interior das sessões de votação durante o dia das eleições.
Isso já foi proibido pelo Comitê Eleitoral de Israel. Nas eleições de abril, Netanyahu e seus correligionários invadiram as sessões das cidades e aldeias árabes munidos de filmadoras (chegaram a mais de dois mil). Como os árabes vivem em uma condição de cidadãos de segunda categoria, no sistema discriminatório israelense, o resultado foi a intimidação do eleitorado árabe. Somente 50% dos eleitores deste setor da sociedade (que corresponde a mais de 20% dos habitantes de Israel) foram votar. Com isso, a quantidade de cadeiras de apoiadores de Bibi foi um pouco maior.
Agora, com as pesquisas indicando que o Likud de Netanyahu ficará em segundo lugar, seus seguidores tentam desesperadamente repetir o truque. Os deputados que defendem o absurdo ousaram dizer que a filmagem seria necessária “para evitar que a esquerda roube as eleições”. Isso, vindo de contumazes ladrões de terra e usuários de truques eleitorais baratos…
A proposta do deputado Miki não passou nem mesmo na comissão que ele preside.
A declaração do deputado racista da bancada de Bibi foi: “Os judeus são uma raça especial e eu sou feliz de ser parte dela. Se você não gosta disso, lide com isso”.
“Vocês [árabes] não podem pregar moralidade a nós porque são antissionistas, contra o princípio do Estado Judeu (referindo-se a lei que determinava em lei a condição de estado segregacionista a Israel e Segundo a qual só os judeus israelenses é que – naquele estado – podem ter aspirações nacionais)”.
O deputado árabe, Ahmed Tibi, irritou Miki quando contestou sua tentativa de passar a Lei da Câmera, na tentativa desesperada de afugentar os árabes das urnas no dia 17.
Durante a discussão, Tibi lembrou que, nas eleições de 2015, Netanyahu conclamou os judeus a votarem nele afirmando que a caracaterística judaica de Israel estaria em risco porque os “árabes estavam se encaminhando para as urnas em bandos”. Além do caráter racista da declaração, Netanyahu, então como primeiro-ministro, não podia intervir no processo eleitoral da forma como fez.
Agora, alerta Tibi, “ele passa a fazer declarações antissemitas de que os árabes estão roubando as eleições. Imaginem o que aconteceria se, por exemplo, na França, as autoridades dissessem que os judeus estão roubando as eleições?”
“Nós não vamos aceitar vistoria pelas falanges de Netanyahu, somente pelo Comitê Eleitoral”, estipulou o deputado.
Mais tarde, em entrevista ao Canal 12, principal canal de TV em Israel, ao tentar remendar seu dito no Knesset, acabou deixando mais claro ainda sua mentalidade racista. Miki disse que não disse nada como “superioridade da raça judaica”, mas “inequivocamente, o que flui no DNA do povo judeu é algo especial”.
E prosseguiu desfiando sua concepção: “O que eu disse e assume, é que o povo judeu é especial – tem uma característica única que é sem paralelo. São inteligentes, são pessoas de sucesso que demonstraram como em 60 anos é possível pegar um país e leva-lo do nada a um império”.
Não é a primeira vez que o deputado profere tais diatribes, em outro momento, no mês de junho ele disse que “a raça judaica é a mais inteligente do mundo e possui o maior capital humano, o mais abrangente”.
Tibi lembrou ao deputado o perigo de suas concepções, uma vez que a ideia de “raça judaica” já foi usada pelos nazistas em sua sanha de exterminar os judeus.
NATHANIEL BRAIA