“Vamos derrotar os golpistas e voltar para pacificar, desenvolver e fortalecer a industrialização do país. Nós somos pela nacionalização, eles pela privatização dos nossos recursos. Nós somos pelo diálogo. Agora com os grupos violentos de Camacho e Carlos Mesa volta o ódio e o racismo. Eles rezam para discriminar, batem nas mulheres de pollera [a saia indígena], ofendem as pessoas humildes. Ultimamente se pegam autoridades do Movimento Ao Socialismo (MAS) os ameaçam: ou falam contra Evo ou queimamos suas casas, suas mulheres e seus filhos. Isso é fascismo”.
A afirmação foi feita pelo presidente reeleito da Bolívia, Evo Morales, em entrevista exclusiva nesta sexta-feira ao programa argentino Crónica HD, desde seu asilo no México, de onde denunciou que a extrema-direita tentou assassiná-lo várias vezes e que, mais recentemente, ofereceram 50 mil dólares para matá-lo.
Na entrevista com Horacio Embón o líder boliviano ouviu a conclamação de uma menina de 10 anos defendendo seu retorno ao país. “Escutei os chamados para que regressemos. Estamos pensando como voltar para poder estar junto ao povo. Lamentavelmente, alguns grupos atentaram contra a democracia e não aceitam nossas políticas econômicas e sociais que permitiram a redução da pobreza e o crescimento econômico”, declarou. Afortunadamente, assinalou o líder boliviano, “contamos com o apoio de crianças, avós e cidadãos que ainda respeitam a nossa bandeira, as nossas origens. A bandeira boliviana é o nosso símbolo pátrio e alguns o desconhecem. Graças a esta luta, a situação já é conhecida por todo o mundo”.
Sobre as acusações de fraude eleitoral, movida como parte de uma campanha de desinformação e manipulação dos grandes meios de comunicação, de que não teria vencido no primeiro turno, o presidente foi enfático: “Venho de uma família com valores em que me ensinaram a não roubar, a não mentir a não ser ladrão. Jamais pedi ajuda a instituições ou organismos do Estado. A fraude foi um pretexto para o golpe. A qualquer momento volto a Bolívia. Não sou corrupto e que investiguem se roubei algo: jamais”, sublinhou.
Às 19:58 desta sexta-feira, Evo divulgou por tuíte a seguinte mensagem:
“Condeno e denuncio ante o mundo que o régime golpista que tomou o poder de assalto na minha querida Bolívia reprime com balas das Forças Armadas e da Polícia o povo que reclama pacificação e reposição do Estado de Direito. Agora assassinam nossos irmãos em Sacaba, Cochabamba”.
Em relação ao alinhamento da Organização dos Estados Americanos (OEA) com os golpistas, Evo frisou que ela demonstrou é “um instrumento do império”, que passa a ser “responsável por tudo o que se passa no país”. “Em 13 de novembro deveria estar pronto o informe final sobre as eleições e o adiantaram para domingo a fim de somar-se ao conflito e colaborar com o golpe”. Sobre a participação dos Estados Unidos na armação, o líder disse não ter dúvidas, e que sempre lhe advertiram para que se cuidasse da Embaixada norte-americana.
O presidente boliviano também manifestou sua solidariedade aos jornalistas que estão sendo impedidos de exercer sua profissão, uma vez que o país foi transformado numa “ditadura, sem liberdade de expressão”, com os profissionais da imprensa ameaçados de terem de responder por “sedição” por falar a verdade.”Quero dizer ao povo que encabeça esta luta que celebro a unidade pela democracia, por nossa identidade e por nossas políticas econômicas. Por trás deste golpe vêm as privatizações, vêm para acabar com as políticas sociais”, concluiu.