O governador de São Paulo, João Doria, afirmou na videoconferência entre os governadores e Bolsonaro que o Estado impedirá o confisco de respiradores de leitos hospitalares ordenado pelo governo federal.
“Confiscar equipamentos e insumos, se essa decisão for mantida, tomaremos as medidas necessárias para que não ocorra. Não aceitaremos aqui o confisco de qualquer equipamento e insumo que seja necessário em São Paulo”, disse Doria a Bolsonaro.
“Em São Paulo nós não vamos permitir que isso aconteça. Eu falei de forma serena e equilibrada ao ministro Mandetta. Se necessário for, entraremos no Supremo Tribunal Federal, mas de São Paulo não se confisca medicamentos ou equipamentos para salvar vidas. Aqui é o epicentro dessa crise, maior número de infectados, maior número de mortos, não faz nenhum sentido, no caso de São Paulo, que é quem eu tenho obrigação de defender, que tenhamos confisco de equipamentos ou medicamentos. Repito: tenho certeza que isso não ocorrerá. Mas se ocorrer tomaremos as medidas judiciais cabíveis de imediato”, afirmou Doria.
Na segunda-feira, a Justiça Federal impediu o confisco de 200 respiradores artificiais que foram comprados pela Prefeitura do Recife. Em ofício ao fabricante, o governo federal ordenava que os equipamentos não fossem entregues.
Os equipamentos serão utilizados nos leitos montados no Hospital da Mulher do Recife, que foi modificado para atender pacientes com coronavírus.
“Não são mortes de mentirinha, presidente”
O governador de São Paulo, João Doria, considerou a fala de Jair Bolsonaro como “absolutamente equivocada”. Ele também afirmou que “não deixará os idosos à própria sorte”, como defendeu o presidente em seu pronunciamento da terça-feira (24).
A critica foi realizada após reunião entre Bolsonaro e os governadores do Sudeste. No Twitter, Doria condenou a ação do governante. “Presidente, no nosso Estado temos 40 mortos por COVID-19 dos 46 em todo o Brasil. São pessoas que tinham RG, CPF, e familiares que continuarão sentindo sua falta. Não são mortos de mentirinha, presidente. E essa não é apenas uma ‘gripezinha’”, escreveu.
Em entrevista coletiva realizada logo após o término da videoconferência entre o governo federal e os governadores do Sudeste, nesta quarta-feira (25).
Doria aproveitou o início da fala para dizer a Bolsonaro que estaria “decepcionado” com o viés adotado no discurso público que fez pelas redes sociais na noite desta terça-feira (24).
“Me posicionei discordando do presidente e entendendo que, para os brasileiros de São Paulo, e eu aqui represento 46 milhões de brasileiros, a intervenção e o conteúdo do que ele disse foi absolutamente equivocado e em dissintonia com as orientações do próprio Ministério da Saúde”, disse Doria.
Doria disse que não deixará “à própria sorte” os cerca de 6 milhões de idosos que vivem no Estado de São Paulo e são a população de maior risco de morte pela covid-19.
“Apenas fiz um registro como brasileiro, cidadão e governador eleito no Estado de São Paulo. Não é uma gripezinha, não é um resfriadozinho. É um assunto sério, difícil, e a maior crise de saúde na história do País”, disse.
Negando que haja qualquer intenção por sua parte e dos demais governadores em fazer palanque político com a questão, Doria chamou o mandatário a uma reflexão, mencionando até Irmã Dulce.
“Presidente vamos refletir juntos. Não pode haver fronteira entre solidariedade e amor ao próximo. Irmã Dulce nos ensinou que pessoas que espalham amor não têm disposição e nem tempo para jogar pedras.”
Doria também disse esperar que Bolsonaro “tenha humildade e recue de comportamento belicoso”. “Espero que o presidente da República veja a importância neste momento de salvar vidas. Não pode neste momento a economia se sobrepor às vidas. Priorizando vidas, nós vamos à economia.”
“O senhor, como presidente da República, tinha que dar o exemplo. Tem que ser um mandatário para comandar, para dirigir e para liderar o País e não para dividir”, disse Doria logo no início de sua fala, de cerca de cinco minutos. “Todas as medidas tomadas no estado de São Paulo são fundamentadas, não são precipitadas. Sem viés ideológico, partidário, muito menos eleitoral.”
Bolsonaro acusou Doria de usar de “demagogia barata” e afirmou que, hoje, o tucano “não tem responsabilidade” e “não tem altura para criticar o governo federal”. Em tom de voz elevado, o presidente acusou Doria de “assumir uma postura completamente diferente” desde o resultado das eleições de 2018.
REUNIÃO DOS GOVERNADORES
Doria anunciou uma teleconferência entre todos os 27 governadores de Estados e do Distrito Federal, ainda nesta tarde, para debater ações de enfrentamento ao novo coronavírus. A divulgação do resultado da reunião será feita por cada um dos governadores. Ela está marcada para começar às 16 horas e terminar às 18 horas.
Ao final, Doria ainda ameaçou recorrer à Justiça caso o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, “confisque respiradores”. “Peço ao ministro da Saúde que compreenda que o estado de São Paulo é epicentro dessa grave crise de saúde. Já temos aqui 810 casos de pessoas infectadas e 40 das 46 mortes do Brasil”, acrescentou o governador.
Veja o momento do embate: