Uma pesquisa científica realizada com pacientes do Presbyterian Hospital, em Nova Iorque, que registraram positivo para o novo coronavírus, não encontrou evidência de que a hidroxicloquina tenha qualquer efetividade para o tratamento contra a Covid-19.
De acordo com os autores do estudo, publicado na revista britânica “The New England Journal of Medicine”, não há comprovação de que a droga tenha reduzido o risco de entubação ou de morte nos pacientes que se encontravam em um quadro moderado a grave, definido pelo nível de saturação de oxigênio no sangue inferior a 94%.
A pesquisa envolveu 1.446 pessoas com coronavírus entre os dias 7 e 8 de abril, sendo que 70 delas foram excluídas por terem recebido alta, morrido ou sido entubadas. Das 1.376 restantes, 811 (58,9%) foram medicadas com a hidroxicloroquina por, em média, cinco dias – 45,8% nas primeiras 24 horas após a chegada na emergência do hospital e, 85,9%, nas primeiras 48 horas. Outros 565 pacientes não receberam o remédio.
Mais de duas semanas depois, no dia 25 de abril, no momento de análise da pesquisa, 232 contagiados haviam morrido, sendo que 66 precisaram ser entubados. Outros 1.025 sobreviveram e tiveram alta hospitalar, e 119 ainda estavam em atendimento (24 não foram entubados). Conforme os pesquisadores, os pacientes com e sem o tratamento apresentaram o mesmo risco de piora do quadro, necessidade de entubação e morte.
“Nesta análise, envolvendo uma grande amostra de pacientes consecutivos que foram hospitalizados com Covid-19, o risco de entubação ou de morte não foi significativamente maior ou menor entre os pacientes que receberam hidroxicloroquina do que entre os que não receberam”, escreveram os autores.
NÃO É SOLUÇÃO
A hidroxicloroquina e a cloroquina vêm sendo utilizadas no tratamento contra a malária, doenças reumáticas, entre outras, e vinham sendo apontadas como possível solução no tratamento para a Covid-19.
Feita na França, a primeira pesquisa analisou 26 pacientes, mas excluiu seis deles por terem apresentado uma piora do quadro após o uso do medicamento. Mesmo que alguns infectados apresentassem uma melhora no quadro, a não contabilidade do grupo excluído dificultou a interpretação dos dados. A falta de consistência fez com que a pesquisa fosse amplamente criticada pela comunidade científica.
Mesmo sem haver qualquer comprovação de sua eficácia, a agência norte-americana de vigilância sanitária (FDA) liberou no dia 30 de março o uso do fosfato de cloroquina e do sulfato de hidroxicloroquina para o tratamento de pacientes internados em casos graves nos hospitais dos Estados Unidos.
IMITANDO TRUMP
Repetindo Trump, apesar da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ter alertado para a inexistência de sua comprovação científica, Bolsonaro determinou, desde o final de março, que os laboratórios químicos e farmacêuticos do Exército brasileiro deveriam gastar tempo e dinheiro a fim de ampliar a produção da cloroquina como “alternativa terapêutica para o tratamento do coronavírus”.
Apesar disso, os laboratórios do Exército, que segundo Bolsonaro deveriam produzir um milhão de comprimidos por semana, tiveram que pausar a atividade por completa falta de insumos.