“O momento no país demanda serenidade e calma, da mesma forma como foi em momentos cruciais do processo revolucionário comandado por Mao Zedong”
O presidente chinês, Xi Jinping, proferiu um histórico discurso de 13 minutos de ano novo. Dizemos histórico pelas circunstâncias pelas quais passam a China e o mundo. Os desafios enfrentados pela governança chinesa têm se mostrado cada vez maiores em um mundo cada vez mais instável, perigoso e onde cresce não somente a tendência à concretização de uma globalização centrada no conceito de “humanidade de futuro compartilhado”, mas também de resistência a uma antiga ordem agressiva, violenta e perigosa que insiste em sobreviver. Na verdade, a China não goza da mesma tranquilidade para gerir seu processo de desenvolvimento como no passado.
Os desafios externos são imensos. Internamente, o discurso do presidente chinês foi uma ótima tentativa de resposta para acalmar os ânimos da população diante do avanço da Covid-19 e das ameaças que esta epidemia inflige sobre a saúde pública e a estabilidade nacional. Tratou-se de um discurso notável em que Xi Jinping fez questão de pontuar, em meio às instabilidades atuais, os grandes feitos da China sintetizados na realização do 20º Congresso Nacional do Partido Comunista da China e no próprio processo histórico da revolução chinesa. Segundo Xi Jinping:
“Depois do 20º Congresso Nacional do PCCh, eu e meus colegas fomos a Yan’an para relembrar o período glorioso em que o Comitê Central do Partido superou ali grandes dificuldades e sentir o espírito da geração mais velha dos comunistas. Costumo dizer que os sofrimentos e os contratempos forjam a pessoa e a levam ao sucesso. Em cem anos, o Partido Comunista da China desafiou as tempestades e avançou no meio dos espinheiros, passando por um processo duro e extraordinário. Temos que lutar com atitude indomável e tenaz, para que a China seja melhor no futuro”.
De forma objetiva e clara, Xi Jinping passou uma mensagem transparente ao mundo em relação à mudança na política de prevenção e controle da Covid-19 e as diferentes opiniões dentro da China sobre as formas de enfrentar este problema. Enquanto o Ocidente, de forma hipócrita, empilhou milhões de mortos, colocando o lucro na frente das vidas, o caminho chinês foi diferente e hoje o país muda de forma consciente de postura diante da diversidade de opiniões no seio da sociedade chinesa. Nas palavras do presidente chinês:
“Na China do futuro, a força será gerada da unidade. Em um país tão grande como a China, pessoas têm demandas diferentes e defendem suas próprias opiniões sobre o mesmo assunto. Isso é normal. É necessário construir amplos consensos por meio da comunicação e consulta para que todos os mais de 1,4 bilhão de chineses se esforcem, com a vontade comum e rumo ao mesmo objetivo. Quando todos conjugarem os esforços como passageiros que estão no mesmo barco e unirem suas vontades em uma gigantesca força, atingirão todos os objetivos e superarão todas as barreiras”.
Outro ponto importante posto por Xi Jinping foi a questão de Taiwan. Percebendo que o espírito do tempo demanda um tom de conciliação em meio às claras interferências estrangeiras em assuntos internos chineses, Xi Jinping preferiu a prudência correta para momentos de tormenta: “Os dois lados do estreito de Taiwan pertencem a uma mesma família. Desejo sinceramente que os compatriotas de Taiwan e da parte continental da China avancem conjuntamente em direção ao outro, para trazer benefícios duradouros à nação chinesa”. Sob nosso ponto de vista tratou-se de uma lição do presidente chinês diante das pressões do chamado Ocidente em torno da questão de Taiwan. A linguagem da força e da ameaça é típica do imperialismo e do velho colonialismo. Taiwan é uma questão de justiça histórica e, historicamente, será resolvida como toda e qualquer família ao lidar com suas contradições.
A mensagem de ano novo do presidente chinês foi histórica, sob nosso ponto de vista, justamente pela ênfase na demarcação da forma chinesa de lidar com suas questões internas e externas. O momento no país demanda serenidade e calma, da mesma forma como foi em momentos cruciais do processo revolucionário comandado por Mao Zedong. Em outras palavras: a China está do lado certo da história.
Elias Jabbour é professor associado da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Ganhador do Special Book Award of China 2022. Artigo produzido ‘em colaboração com a Rádio Internacional da China