“Eu acompanhava esse paciente depois pelo prontuário durante a internação e via esses pacientes irem a óbito”, acrescentou
O médico Walter Correa de Souza Neto disse em oitiva à CPI da Covid-19 no Senado, nesta quinta-feira (7), que os médicos da Prevent Senior sabiam que o tratamento de pacientes da Covid-19 com hidroxicloroquina não trazia os resultados prometidos e divulgados pela direção da operadora de saúde.
Ele classificou como “fraude” o estudo desenvolvido pela empresa para justificar a prescrição da droga.
O médico é ex-funcionário da Prevent Senior. Ele afirmou no depoimento desta quinta-feira que os profissionais não tinham autonomia e que era obrigatório prescrever drogas ineficazes contra a Covid-19.
Ele presta depoimento à CPI ao lado de Tadeu Frederico de Andrade, paciente da Prevent. Os dois foram chamados a falar sobre as denúncias de que a operadora testou e disseminou remédios ineficazes em pacientes com Covid-19.
Walter é um dos 12 médicos que denunciaram as irregularidades da Prevent Denior em um dossiê.
“INDUZIAM OS MÉDICOS AO ERRO TAMBÉM”
“Essa coisa de que ninguém vai a óbito e ninguém intuba, isso já era muito claro: a gente sabia que era fraude”, disse o médico.
“Além de o estudo ser muito ruim já quando foi publicado em abril, eu internava paciente que havia tomado o kit. Eu acompanhava esse paciente depois pelo prontuário durante a internação e via esses pacientes irem a óbito”, acrescentou.
“Mas eles [Prevent Senior] continuaram fazendo essa política de ‘evangelização’ de prescrever a medicação e às vezes induziam os médicos ao erro também”, afirmou.
COAÇÃO PARA PRESCREVER “KIT COVID”
O senador Humberto Costa (PT-PE) disse que a verticalização do tratamento médico — planos de saúde que possuem hospitais —, não é um problema em si, podendo inclusive proporcionar a racionalização de custos e a promoção de atenção primária. Mas ele cobrou regulamentação e fiscalização da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) sobre o tema.
“Se não, acontece o que o doutor Walter Correa [de Souza Neto] falou: é usado somente para reduzir custos e negar tratamentos.”
Souza Neto, que confirmou a existência de “protocolo institucional” da Prevent Senior para emissão de prescrições padronizadas do chamado “Kit Covid”, a operadora de saúde começou a agir contra o “somatório de evidências”, expresso em pesquisas científicas, que negava os benefícios da hidroxicloroquina.
“A resistência à prescrição foi crescendo com o tempo. Na medida em que as evidências se acumulavam, mostrando que não havia benefício, a resistência foi aumentando. Eu fui coagido a voltar a prescrever quando eu parei”.
Médico relata à CPI política de coerção na Prevent e ameaças após denúncias
Ao ouvir depoimento de Walter Correa, CPI reproduziu áudio de conversa telefônica entre médico e diretor da Prevent. Quando áudio foi revelado, operadora negou ter havido ameaça
Em depoimento, nesta quinta-feira (7), à CPI da Covid-19 no Senado, o médico Walter Correa de Souza Neto, ex-funcionário da Prevent Senior afirmou que havia política de “coerção” na empresa e que recebeu ameaça após ter feito denúncias contra a operadora.
Souza Neto prestou depoimento ao lado de Tadeu Frederico de Andrade, paciente da Prevent. Os dois foram chamados a falar sobre as denúncias de que a operadora testou e disseminou remédios ineficazes em pacientes com Covid-19.
Durante o depoimento, foi exibido o áudio de conversa telefônica entre Souza Neto e Pedro Benedito Batista Junior, diretor-executivo da Prevent. Na gravação, o diretor disse, entre outras coisas, que o médico deveria “voltar atrás” e dizer para a imprensa que, quando fez as denúncias, passava por “mal momento”. “Você tem muito a perder, velho. É sua vida, é sua família, cara, que vai ser exposta”, afirmara o diretor no áudio, acrescentando que não era ameaça, mas, sim um “conselho””.
Após a exibição do áudio, o médico afirmou à CPI: “O Pedro tentou minimizar essas ameaças aqui, tentou dizer ‘Ah, nós somos sócios’. Nós temos pessoa jurídica para receber da Prevent Senior, que é exigência da Prevent Senior. E, infelizmente, eu tive essa pessoa jurídica com ele, nós recebíamos juntos por essa PJ. Então, não era uma empresa, nós não temos negócios juntos. Nunca fomos amigos. E ainda que a gente tivesse negócio, que fosse amigo, isso é uma ameaça, independentemente disso.”
“E é uma tentativa de intimidação, uma tentativa de me silenciar. ‘Você fica quieto, não fala com a imprensa, fala que isso é mentira’. E eles continuam fazendo isso até hoje”, acrescentou o médico à CPI.
NOTAS
Em nota divulgada quando o áudio foi revelado, a operadora negou ter feito ameaças e escreveu que o médico “foi alertado que, após invadir e divulgar o prontuário de um paciente, seria levado à investigação pelo Conselho Regional de Medicina, o que, de fato, aconteceu, por infração à ética e à legislação.”
No texto, a Prevent escreveu ainda que Pedro e o profissional eram amigos e sócios. “Por isso, Pedro alertou que a conduta ilegal exporia ele a um risco de punição no CRM.”
Em nova nota, divulgada nesta quinta-feira, a Prevent escreveu que o depoimento “não trouxe fatos, apenas narrativas mentirosas”. A íntegra da nota segue abaixo.
USO DE DROGAS INEFICAZES
Ainda no depoimento à CPI, o médico disse que os profissionais não tinham autonomia e que era obrigatório prescrever drogas ineficazes contra a Covid-19. Essa era a prática que a empresa submetia os profissionais.
“Quando foi exatamente que a Prevent definiu que iria adotar a hidroxicloroquina como tratamento, como rotina de seus tratamentos?”, indagou, nesta quinta-feira, o relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL).
“Não me lembro exatamente se foi no final de março do ano passado ou começo de abril. Mas eles instituíram um protocolo institucional e daí iniciou a determinação para que a gente prescrevesse essa medicação. Pouco depois, os kits com a medicação começaram a ser disponibilizados, colocados no consultório”, respondeu o médico.
O senador Rogério Carvalho (PT-SE), então, questionou: “A pergunta é: era obrigatório?”.
“Sim, era obrigatório”, respondeu o médico.
“Havia autonomia do médico?”, questionou em seguida Rogério Carvalho.
“Não. Definitivamente, não”, respondeu.
Walter Correa era plantonista do pronto-socorro da Prevent e foi demitido em fevereiro deste ano. Ele trabalhou na operadora por oito anos.
Íntegra
Leia a íntegra da nota da Prevent Senior:
O depoimento do médico Walter Correa Neto não trouxe fatos, apenas narrativas mentirosas. Mais uma vez, a Prevent Senior nega e repudia as acusações infundadas levadas à CPI da Covid e à imprensa com base em mensagens editadas, truncadas ou tiradas de contexto. O médico faz parte de um grupo que tentou firmar acordos milionários com a operadora para que a advogada Bruna Morato não levasse as acusações à CPI.
A denúncia mais grave é sugerir que os médicos da empresa optem pela adoção de cuidados paliativos para matar pacientes e economizar recursos, o que tanto os médicos quanto a direção da empresa veementemente contestam.
A Prevent defende e vai colaborar para que órgãos técnicos, como o Ministério Público, investiguem todas estas acusações para restabelecer a verdade dos fatos. Lamentavelmente, aos moldes do que aconteceu nos piores tempos da Operação Lava Jato, atacou-se a reputação da empresa antes do esclarecimento de todos os fatos.
M. V.