Além disso, documentos registram que 272 caminhões de transportadoras entraram em Brasília, a partir de novembro para participar das manifestações em frente ao QG (Quartel-General) do Exército e da destruição das sedes dos Três Poderes
Relatórios de inteligência produzidos pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência) entregues à CPMI do Golpe, no Congresso, indicam a participação de transportadoras, donas de caminhões e de empresas suspeitas de envolvimento com garimpo ilegal nos atos golpistas contrários às eleições do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Os documentos apontam que 272 caminhões entraram em Brasília, a partir de novembro para participar das manifestações em frente ao QG (Quartel-General) do Exército e da destruição das sedes dos Três Poderes.
O interessante é que em torno da metade dos veículos pertencia a empresas e a maior parte da frota restante era nova ou seminova e registrada no nome de pessoas físicas com participação societária em empresas de médio porte do setor agropecuário.
Os números evidenciam a baixa adesão de caminhoneiros autônomos.
NÃO HÁ COINCIDÊNCIA
Segundo apurações, o perfil dos caminhões é similar ao registrado em manifestações de 7 de setembro de 2021, pois nos dois casos os veículos eram ligados a empresas ou empresários. Não há coincidência nisso, certamente.
“Em 6 e 7 de setembro de 2021, a maioria dos caminhões utilizados na invasão da Esplanada pertenciam a empresas agrícolas do ramo de transportes, sendo reduzida a participação de caminhoneiros autônomos”, aponta o relatório.
“O mesmo pode ser dito dos caminhões enviados em comboio à Brasília a partir de 4 de novembro de 2022”, acrescenta.
CRUZAMENTO DE DADOS
A Abin também cruzou os dados com os de maquinário encontrado em operações contra crimes ambientais no Pará e informa que Enric Juvenal da Costa Lauriano, empresário do lobby pró-garimpo, teria ajudado a divulgar canais de arrecadação de dinheiro para o movimento golpista.
Lauriano, além de ter participado do acampamento em Brasília e das invasões registradas em 8 de janeiro, teria divulgado a “rede de financiamento” dos golpistas por meio do PIX de empresa de informática de propriedade de Ricardo Pereira Cunha, que também é proprietário da Mineração Carajás Limitada.
‘CONEXÕES EVIDENCIAM VÍNCULO’
O documento afirma ainda que Cunha foi “citado” por George Washington de Oliveira Souza, um dos envolvidos na tentativa de explodir bomba nas imediações do aeroporto de Brasília dias antes da posse de Lula. O fato ocorreu às vésperas do Natal, dia 24 de dezembro.
O relatório não afirma em qual contexto o empresário foi citado por Souza.
“Essas conexões evidenciam o vínculo entre a prática de ilícitos ambientais e a atuação de grupos extremistas contrários à eleição para a Presidência da República em 2022, além de permitirem identificar redes de práticas delituosas abrangendo diversas atividades, atores e verbas oriundas da exploração ilegal de recursos naturais”, descreve o documento da Abin.
Antes da intentona golpista na capital federal, caminhões bloquearam rodovias em mais de 100 pontos pelo País. Em novembro, Bolsonaro chegou a pedir que os bloqueios fossem desfeitos, mas não pediu o fim dos atos golpistas e o reconhecimento da vitória de Lula, em segundo turno, realizado em 30 de outubro.
M. V.