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Reitoria não apresentou proposta e estudantes mantiveram a paralisação
A greve estudantil na Universidade de São Paulo (USP), que começou na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) na semana passada, tem avançado e os alunos da Faculdade de Medicina aderiram a greve na quarta-feira, 27. Além disso, estudantes da Faculdade de Direito e da Escola Politécnica, e da Faculdade de Ciências Farmacêuticas, menos frequentes nas paralisações, também já aderiram a greve.
A adesão da Poli e da Medicina surpreende, até porque a faculdade de engenharia é uma das menos impactadas pelo corte de verba e pelo congelamento da contratação de docentes efetivos.
“Mesmo na Poli, que é um dos institutos mais privilegiados na contratação de docentes, já há falta de professores em disciplinas”, diz a presidente do Grêmio da Poli, Carolina Mendes Espósito.
“Essa mudança de comportamento se atribui ao nível a que chegou a situação da contratação de professores na USP como um todo”, acrescenta Carolina. Ela diz que o esforço da diretoria não parece ser suficiente no curto prazo.
O centro acadêmico da Faculdade de Medicina afirma, em nota, que além da contratação de professores e de melhores auxílios à permanência – principais demandas do movimento grevista da USP – reivindica melhores condições para o Hospital Universitário (HU).
O hospital perdeu funcionários nos últimos anos e, por isso, precisou fechar leitos e atividades de pronto atendimento
O estudantes reivindicam ainda a reativação do gatilho automático para reposição de professores. O mecanismo repunha a contratação quando acontecia falecimento ou aposentadoria [dos professores]. Esse sistema não existe mais. Então gradualmente a universidade vai perdendo professores”.
Na segunda-feira (25), estudantes da Faculdade de Direito (também conhecida como Faculdade de Direito do Largo de São Francisco – “Sanfran”) reunidos pelo Centro Acadêmico XI de Agosto, entendida como a entidade estudantil mais antiga do país, votaram pela adesão à greve.
GREVE CONTINUA
A reunião de negociação entre representantes da Universidade de São Paulo (USP) e o Diretório Central dos Estudantes da USP terminou sem acordo nesta quinta-feira (28).
Segundo os alunos que participaram da reunião, nenhuma proposta foi apresentada pela universidade, contrariando a promessa feita no encontro realizado no dia 21 de agosto. O reitor da instituição, Carlos Gilberto Carlotti Junior, não participou da reunião pois está em viagem à Europa.
A conversa desta quinta durou quase três horas e terminou por volta das 14h. Durante a reunião, estudantes fizeram um ato com bandeiras e bateria em frente à reitoria.
“A reunião não foi boa, foram três horas em reunião e debatemos somente o gatilho sem chegar a um acordo”, afirmou o diretor de Ciência e Tecnologia da UNE, Caio Guilherme, que também é aluno da FFLCH e participa da greve.
Ele explicou ainda que a reivindicação da retomada do “gatilho” garante a reposição automática de professores que se aposentam ou falecem, garantindo assim a recomposição dos quadros e impedindo o déficit de professores.
PROPOSTA DA REITORIA É INSUFICIENTE
Desde 2014, devido ao congelamento de vagas na pandemia e a anos de crise financeira, a USP perdeu 818 professores, o correspondente a 15% do corpo docente inteiro da universidade.
O Departamento de Letras, o maior da USP e o maior curso de letras da América Latina, é o mais afetado. O plano divulgado pela reitoria é a contratação de 876 docentes até 2025, para retomar 99% do quadro composto em 2014.
Dados reunidos pela Adusp (Associação de Docentes da USP), no entanto, mostram que há um déficit de 1.039 docentes em relação a 2014. O corpo docente da USP encolheu 17,5% – de aproximadamente 6 mil professores para 4,9 mil.
Já no período de 1995 a 2022, o número de cursos de graduação cresceu cerca de 150%; as vagas na graduação aumentaram mais de 60%; o número de estudantes matriculados na graduação teve elevação de 80% e, na pós-graduação, de 50%; os títulos de mestrado e doutorado cresceram mais de 100%.
“No entanto, o número de docentes cresceu apenas 2% e de técnico(a)s-administrativos decresceu em 15% em relação a 1995”, diz balanço da entidade.
Segundo a Adusp, cerca de 800 contratações de professores anunciadas pela reitoria não suprem a necessidade da instituição. “Continua havendo perdas, as pessoas continuam morrendo, se aposentando, sendo desligadas por exoneração ou outro motivo. Desde janeiro de 2022, segundo o nosso levantamento, 305 professores deixaram a universidade.”
Com isso, parte das unidades teve aulas suspensas nesta semana, houve barricadas e alguns professores relatam terem sido impedidos de entrar nos prédios para dar aulas.