Roberto Dias “já disse que quem indicou ele foi o ex-deputado Lupion quando trabalhava com o ministro Onyx Lorenzoni”, falou o presidente da CCJ do Senado
O senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), ex-presidente do Senado, disse que o ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias, que pediu propina de US$ 1 para cada dose de vacina que fosse comprada, era influenciado pelo ministro Onyx Lorenzoni, atual secretário-geral da Presidência.
Alcolumbre disse, em entrevista ao Estadão, que o ex-deputado que indicou Roberto Dias para o cargo, Abelardo Lupion (DEM-PR), já trabalhou para Onyx Lorenzoni quando este era ministro da Casa Civil.
Roberto Dias “já disse que quem indicou ele foi o ex-deputado Lupion quando trabalhava com o ministro Onyx. Senti falta de vocês falarem que ele trabalhava com o ministro Onyx. E não sei por quê. Só colocaram na conta de um ex-deputado”, declarou o ex-presidente do Senado e atual presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
De acordo com o depoimento de Luiz Domingueti, representante da Davati Medical Supply, Roberto Dias pediu propina de US$ 1 para cada dose de vacina Astrazeneca que o Ministério da Saúde comprasse junto à empresa.
Dias também é acusado pelo servidor do Ministério da Saúde, Luis Ricardo Miranda, de ter pressionado para que o invoice da compra de doses da Covaxin, que tinha graves irregularidades, fosse assinado.
Roberto Dias ligou e mandou mensagens diversas vezes, inclusive de noite e aos finais de semana, para Luis Ricardo Miranda para tentar concretizar a importação da Covaxin, mesmo com falta de documentos, irregularidades e descumprimento do contrato. Às 20h46 de um sábado, Dias mandou para Miranda: “Como está a LI [licença de importação] da vacina?”.
Em depoimento à CPI da Pandemia, Dias tentou enganar os senadores falando que as mensagens eram referentes à importação de outro imunizante, mas nesse outro processo a licença de importação já tinha sido assinada e estava tudo certo.
Roberto Dias também pode estar envolvido em outro caso investigado pela CPI da Pandemia. Os senadores investigam a relação entre o Ministério da Saúde e a empresa VTC Logística. A suspeita é de que a empresa pagou propina para membros do Ministério para conseguir os contratos sem licitação e aditivos.
A quebra de sigilo telefônico de Roberto Dias mostrou que ele fez contato telefônico com a CEO da VTC, Andreia Lima, 135 vezes. Ao todo, os dois se falaram por mais de 4 horas e 18 minutos.
A VTC parece ter ligação com o deputado Ricardo Barros (PP-PR), atual líder do governo Bolsonaro, porque desde que ele assumiu o Ministério da Saúde, em 2016, os contratos da VTC aumentaram em 70%. Os contratos sem licitação somam mais de R$ 253 milhões.
O ex-diretor de Logística do Ministério, Roberto Dias, permitiu um pagamento de R$ 18 milhões para a VTC, o que era 1.800% superior ao recomendado pela área técnica.
Nas datas posteriores às ligações entre Roberto Dias e Andreia Lima, os valores cobrados pela VTC ao Ministério da Saúde subiam em milhões.
Em um dos casos, a empresa cobrou R$ 53 milhões do Ministério por um serviço, mas dois dias depois da cobrança Andreia ligou para Roberto Dias. Na cobrança seguinte, que substituia a anterior, o valor subiu para R$ 55 milhões.
Depois de outra ligação entre os dois, o valor da cobrança foi elevado para R$ 57 milhões.