Todos os três medalhistas em Tóquio foram mais rápidos do que o recorde mundial de Kevin Young, de 46s78, conquistado em Barcelona, em 1992. “Esta foi a maior prova de todas as Olimpíadas. É inegável, foi insano”, considerou o medalhista de prata, Rai Benjamin.
O atletismo brasileiro voltou a alegrar o país. Alison dos Santos, o “Piu”, de 21 anos, confirmou as expectativas e conquistou o bronze nos 400 metros com barreira nos Jogos de Tóquio na madrugada desta terça-feira, 3, com o impressionante tempo de 46s72.
O ouro ficou com o norueguês Karsten Warholm, que bateu o novo recorde mundial, com o tempo de 45.94. O americano Rai Benjamin foi prata com 46.17s.
Alison, com dois metros de altura e passadas largas, já era recordista sul-americano e campeão do Pan de Lima de 2019, atual líder da Liga de Diamante, circuito mundial de atletismo, já havia feito o segundo melhor tempo da semifinal (47s31).
Além disso, recolocou o Brasil em uma final dos 400m com barreiras, 21 anos depois da presença de Eronildes de Araújo, sétimo colocado em Sidney-2000, e foi o primeiro atleta do país a terminar a prova abaixo dos 48 segundos.
Foi a primeira medalha brasileira no atletismo nas Olimpíadas de Tóquio e a 18ª da modalidade em todos os tempos – a primeira veio há 69 anos, com o ouro do lendário Adhemar Ferreira da Silva no salto triplo em Helsinque 1952.
Depois de ter confirmada a medalha, o brasileiro se emocionou e desfilou pelo Estádio Olímpico com a bandeira brasileira.
No momento da decisão olímpica, o jovem não sentiu a pressão e ainda melhorou consideravelmente seu tempo. A marca feita por Piu é, simplesmente, a quarta mais rápida de todos os tempos, inferior apenas aos tempos dos dois primeiros colocados nesta terça, e ao recorde mundial anterior de Warholm (46s70).
Nas eliminatórias, Alison avançou no segundo lugar de sua bateria com a marca de 48s42, em uma corrida tranquilíssima. Na fase semifinal, o brasileiro apertou um pouco mais o ritmo e venceu sua série com 47s31, novo recorde sul-americano. Ainda assim, reconheceu ao final da prova que não deu 100% de esforço porque se sentiu bem à vontade.
Antes da decisão pelas medalhas, Alison já havia quebrado seis vezes o recorde continental da prova em um espaço de pouco mais de três meses. A sequência incrível o deixou mais próximos dos dois expoentes da prova: o norueguês Karsten Warholm, bicampeão mundial e atual recordista mundial (46s70), e o norte-americano Rai Benjamin, dono da terceira melhor marca de todos os tempos (46s83).
Rai Benjamin afirmou que os Jogos nunca viram uma prova de nível tão alto; marcas dele, do norueguês Karsten Warholm e do brasileiro seriam suficientes para vencer todas as edições anteriores de Olimpíadas e Mundiais.
“Esta foi a maior prova de todas as Olimpíadas. Eu não acho que qualquer outra possa se comparar com o que aconteceu aqui. É inegável, foi insano”, afirmou o americano de 24 anos.
Todos os três medalhistas foram mais rápidos do que o recorde mundial de Kevin Young, de 46s78, que durou das Olimpíadas de Barcelona 1992 até o dia 1º de julho passado, quando Warholm o reduziu para 46s70.
Não bastasse isso, Warholm, Benjamin e Alison teriam vencido, com seus tempos, todas as Olimpíadas e Campeonatos Mundiais já realizados até hoje.
PIU
Com 21 anos e já é medalhista olímpico no atletismo. Conhecido no meio esportivo como “Piu”, Alison Brendom dos Santos deu um show de irreverência em sua primeira participação olímpica, com direito a dancinha na sua prova de estreia. Apesar do carisma, Alison carrega consigo as marcas de um acidente doméstico na infância, o qual mudou a sua aparência para o resto da vida.
“A gente tenta levar na maior leveza possível para não deixar o nervosismo bater. Sempre ouvi música, com ritmos que gosto bastante, para me tranquilizar. Gosto de escutar rap e sertanejo, um pouco de tudo, sou bem aleatório. O nome da minha playlist é ‘Olympic Games’”, disse Alison antes da final desta terça.
Nascido em São Joaquim da Barra, interior de São Paulo, o corredor chama a atenção à primeira vista por carregar consigo uma grande cicatriz na cabeça e outras um pouco menores no peito e no braço esquerdo. As marcas são o resultado de um acidente doméstico com uma panela de óleo quente aos 10 meses de idade.
Alisson teve uma ascensão rápida no atletismo, esporte que começou a praticar ainda novo. Aos 16 anos, ele já competia entre adultos nos 400m com barreira e nos 400m rasos. A partir de 2018, Alison estendeu o seu talento para provas internacionais.
Em 2019, aos 19 anos, o atleta confirmou o bom momento ao conquistar o ouro dos 400m com barreira nos Jogos Pan-Americanos de Lima com o tempo de 48s45. O melhor, porém, ainda estaria por vir. Em Doha, Alison foi à final da mesma prova, terminando na sétima colocação com o tempo de 48s15.