“Reduzir a capacidade de investimentos para atender acionistas que utilizam a companhia para terem altos rendimentos em curtíssimo prazo é matar o futuro da Petrobrás”, afirmou Deyvid Bacelar, presidente da FUP (Federação Única dos Petroleiros), em entrevista à Hora do Povo
A diretoria bolsonarista da Petrobrás antecipou 43,7 bilhões de reais em dividendos para acionistas, programados para serem pagos em 23 de dezembro e em 23 de janeiro de 2023. Quase 200 bilhões de reais já foram distribuídos esse ano. Hoje a Petrobrás é a maior pagadora de dividendos do mundo.
“São números acintosos”, que reduzem a capacidade de investimento da Petrobrás, principalmente a curto prazo, relatados por Deyvid Bacelar, presidente da Federação Única dos Petroleiros (FUP), em entrevista exclusiva para a Hora do Povo, concedida por videoconferência durante a sua viagem para Brasília, onde participará das discussões da equipe de transição.
“O lucro líquido, formado agora, esses 43,7 bilhões de reais, são por conta da alta dos preços internacionais e das privatizações”. Segundo nos disse o sindicalista, ”há uma preocupação da FUP, da Anapetro, como também da equipe de transição do governo Lula, em relação a esses números”. “Assim como fizeram com o Orçamento da União, as operações com a Petrobrás estão sendo avaliadas”.
A preocupação com esses mega dividendos também é de alguns investidores. “Felizmente há investidores mais sérios, fundos de investimentos, fundos de pensão, que querem ver uma empresa perene, com planejamento estratégico”, disse.
Para o dirigente sindical, “deveria caber ao novo governo decidir essa questão, com assembleia de todos os acionistas em abril, e não de forma açodada”.
“Reduzir a capacidade de investimentos para atender acionistas que utilizam a companhia para terem altos rendimentos em curtíssimo prazo é matar o futuro da Petrobrás”, afirmou Deyvid.
“Não faz sentido você atrelar o preço do derivado produzido com petróleo brasileiro, mão de obra brasileira, com refinarias brasileiras, ao preço do barril de petróleo no mercado internacional“
INVESTIMENTO
Na avaliação do presidente da FUP, “se não fossem os investimentos no passado, não teríamos o pré-sal produzindo 75% da produção nacional”. As grandes empresas do setor, inclusive as privadas, a Shell, a ExxonMobil, a Total, concentram grandes investimentos não só na extração e produção de petróleo, como no refino e em energia renovável.
“É inadmissível um país autossuficiente em petróleo, que tem o 6º maior parque de refino de petróleo, atrelar o preço do diesel, da gasolina e do gás de cozinha aos preços internacionais”, considerou Deyvid.
“Não faz sentido você atrelar o preço do derivado produzido com petróleo brasileiro, mão de obra brasileira, com refinarias brasileiras, com ⅔ dos custos de produção em real, ao preço do barril de petróleo no mercado internacional, ao dólar e aos custos de importação de derivados do petróleo. É irracional isso. Nenhum país no mundo que tenha estas características utiliza essa política de preços’’, afirmou.
“Ainda importamos entre 25% e 30% do diesel consumido aqui no Brasil. Necessitamos da autossuficiência no refino também. O presidente Lula disse que vai fazer isto. Está no plano de governo terminar as obras paralisadas. Estamos falando do complexo petroquímico do Rio de Janeiro, o 2º trem da Refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco”, afirmou Bacelar.
“Se você importa 25% do diesel, faz sentido você aplicar preço e taxas de importação sobre e que de fato é importado. Agora, outra coisa é aplicar sobre os 75% produzidos no Brasil, com petróleo do pré-sal, extraído a um custo de extração baixíssimo, o menor do mundo, 5 dólares o barril, refinado em refinarias brasileiras”, denunciou Deyvid,
Para o sindicalista, “é Robin Hood às avessas. Retira do pobre, que paga num botijão de gás de cozinha até 130 reais, para dar esse lucro aos muito ricos, que têm ações na bolsa de Nova York”. Acrescentou, ainda, que “a geração de riqueza, feita aqui no Brasil, ela serve para transferir essa renda petrolífera para fora do Brasil”.
AÇÃO
O presidente da FUP informou que ingressou com ação judicial em setembro, que já houve a contestação de empresa e agora, na terça-feira, começa a contar o prazo de 15 dias para a FUP se manifestar. “Assim como já se manifestou o Ministério Público, e esperamos que a Justiça Federal impeça esses prejuízos graves para o futuro da empresa”.
ESQUARTEJADA
Bacelar lembrou que “a Petrobrás está sendo vendida aos poucos. Transformam ativos em empresas subsidiárias e assim conseguem vender os ativos, que passam a compor os dividendos” (a serem distribuídos aos acionistas estrangeiros e ao governo para pagamento dos juros da dívida pública).
Como exemplo, citou a BR distribuidora e a Liquigás. “São duas empresas importantes para comercialização e distribuição dos derivados de petróleo. A BR distribuindo diesel, óleo lubrificante, gasolina. A Liquigás vendendo GLP, gás liquefeito de petróleo. As duas foram dissolvidas na bolsa de valores. A população não sabe que os postos que estão com a marca Petrobrás não são mais Petrobrás. A “Vibra”, criada depois da privatização, pagou para usar o nome Petrobrás por dez anos. A Petrobrás, que tem sua marca, não pode usá-la”, denunciou.
E continuou: “Venderam os grandes gasodutos. Hoje a Petrobrás paga para usar os gasodutos que construiu. A Petrobrás recebeu 36 bilhões de reais pelos gasodutos e já pagou tudo que recebeu para usá-los. Venderam plantas de energia renovável, parques de energia solar no Rio Grande do Norte. Venderam campos de produção de petróleo e gás em terra e no mar. E iniciaram a venda das refinarias da Bahia, da refinaria de xisto, na rocha, tecnologia nossa, acertaram a venda da refinaria de Manaus para dezembro, e da Lubnor, de lubrificantes, além das fábricas de fertilizantes que foram fechadas e o país hoje depende em 85% da importação de fertilizantes hidrogenados para a agroindústria e a agricultura familiar”.
O novo governo terá um desafio enorme para atingir a autossuficiência no refino: “concluir as refinarias, ampliar as que estão sob controle da Petrobrás e buscar o processo de reestatização de algumas refinarias que foram privatizadas, para que o mercado possa ser atendido totalmente e que seja com preços jutos” concluiu.
CARLOS PEREIRA