A Câmara Municipal de Porto Alegre teve uma sessão marcada pelo ódio e a violência de grupos antivacina contra parlamentares na tarde da quarta-feira (20). Estava em debate um veto do prefeito da capital gaúcha, Sebastião Melo, à exigência do passaporte da imunização.
Os apoiadores do veto à medida de saúde pública portavam cartazes com símbolos nazistas e chegaram a chamar as vereadoras negras de “empregadas”.
A confusão começou quando o presidente da sessão, o vereador Idenir Cecchim (MDB), determinou a retirada do grupo antivacina da sessão por portarem cartazes com referências nazistas. Após o pedido, os baderneiros tentaram agredir os vereadores e as pessoas favoráveis à vacinação que acompanhavam a sessão da Câmara.
Os extremistas estavam vestindo roupas verde e amarelo e camisetas das lojas Havan, do bolsonarista Luciano Hang, quando invadiram a sessão da Câmara Municipal. Era possível ver suásticas entre os cartazes de quem estava no local.
A exibição do símbolo extremista gerou revolta entre os vereadores, que pediram a expulsão do grupo antivacina. No momento, parte dos manifestantes começou a agredir parlamentares com socos e instaurou-se uma confusão generalizada.
O vereador Cláudio Janta (Solidariedade) discursava a favor da vacina no momento da confusão e foi mordido por um integrante do movimento antivacina.
“Absurdo o que presenciamos nesta tarde na Câmara: vereadores foram agredidos por alguns membros do grupo antivacina. Alguns, inclusive, estavam com cartazes com o símbolo da suástica. VERGONHA de quem faz essa afronta a vida!”, escreveu Janta nas redes sociais.
As vereadoras Daiana Santos e Bruna Rodrigues (PCdoB) e a vereadora Laura Sito (PT) sofreram ataque racista por parte dos manifestantes, sendo chamadas de ‘lixo’ e de ‘empregadas’.
“Infelizmente, ouvimos hoje aqui na Câmara o que estamos acostumadas a ouvir desde muito tempo. Ser chamada de ‘empregada’, de ‘lixo’ é mais uma manifestação de um racismo que tenta desqualificar a todo momento a nossa chegada na Câmara! Não passarão!”, escreveu Bruna Rodrigues, em suas redes sociais, ao divulgar o vídeo que mostra os ataques verbais.
Bruna Rodrigues ainda afirmou em entrevista que “uma das formas pelas quais o racismo se manifesta é questionando os espaços que ocupamos”.
“Quando mulheres negras, como eu, escutam que somos ‘empregadas’ de pessoas com o perfil dessa mulher que me insultou hoje: branca, ‘de bem’, de família, essa frase na verdade questiona a nossa capacidade de estar nestes espaços. É por isso que ter ouvido hoje que sou ‘empregada’ e que sou um lixo de alguém me indignou. Eu tenho muito orgulho de já ter sido empregada doméstica, tenho muito orgulho de ser filha de gari. E tenho mais orgulho ainda de estar aqui representando estas mulheres, estas trabalhadoras!”, declarou.
“Isso não é motivo de vergonha para mim e para nenhuma trabalhadora desse ramo. Vergonha é ver que a Câmara ainda é um espaço onde o racismo, o machismo e o ódio ao nosso povo se perpetua. Por isso nos revoltamos: contra esse racismo que se manifesta nos questionando, se manifesta dizendo que não deveríamos estar aqui. Pois bem: a gente chegou na Câmara para ficar!”, afirmou ainda.
Daiana Santos, por sua vez, também denunciou o caso nas redes sociais: “RACISMO na Câmara Municipal de Porto Alegre. Além de utilizarem símbolos nazistas, os negacionistas que invadiram o plenário hoje de forma violenta, praticaram crime de racismo contra mim e as vereadoras Bruna Rodrigues e Laura Sito, afirmando que somos EMPREGADAS delas! É CRIME!”.
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A vereadora Karen Santos (PSOL) também se manifestou pelas redes. “Pessoas ostentando a suástica invadiram o plenário e agrediram vereadores durante a sessão. Fascistas, inflados pela política nefasta de Bolsonaro e seus apoiadores, que tentam impor suas ações negacionistas na base da violência e da ameaça”, criticou.
A Guarda Municipal foi acionada para retirar os manifestantes do local. Conforme o comandante da corporação, Marcelo Nascimento, o policiamento foi reforçado.
A sessão foi retomada, com as galerias vazias, por volta de 15h45. Os vereadores governistas mantiveram o veto ao passaporte vacinal, já que eram necessários 19 votos para derrubar e houve 18 votos favoráveis, 14 contrários e duas abstenções. Ainda assim, uma norma estadual exige a apresentação do documento.
Em nota, a Câmara Municipal repudiou os atos de violência e de intimidação contra os vereadores.
Veja a nota na íntegra:
Em face dos acontecimentos ocorridos na tarde de hoje (20/10) nas dependências do Plenário da Câmara Municipal de Porto Alegre, o presidente em exercício, vereador Idenir Cecchim (MDB), e a Mesa Diretora desta Casa repudiam com veemência qualquer tipo de manifestação política que utilize o expediente da violência. O plenário da Câmara Municipal é a expressão da democracia na capital dos gaúchos e suas decisões são soberanas. Este Legislativo rejeita qualquer forma de intimidação contra seus integrantes.
Em hipótese alguma esta Câmara aceitará apologia à suástica, símbolo do período mais obscuro da história moderna da humanidade. Aqueles que buscam impor suas vontades pela força ou pelo terror nunca terão guarida nesta Casa. Pelo contrário, tais indivíduos serão submetidos ao rigor da lei e responsabilizados por seus atos.