Quatro jogadores argentinos descumpriram protocolos sanitários ao não informar que teriam vindo da Inglaterra sem realizar quarentena, disse a agência
Técnicos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) entraram no gramado e interromperam o jogo entre Brasil e Argentina pelas Eliminatórias da Copa do Mundo. Segundo a agência, a paralisação aconteceu para impedir que quatro jogadores argentinos que vieram da Inglaterra e não cumpriram quarentena disputassem o confronto de hoje (5) contra a seleção brasileira. Diante da intervenção com a bola rolando, a seleção argentina deixou o campo e foi para o vestiário.
Apesar da oposição da Anvisa e da Secretaria de Saúde de São Paulo, a partida com os jogadores em situação irregular seria realizada com a chancela do governo Bolsonaro que realizou uma reunião no sábado com membros da CBF, AFA e da Conmebol.
No início da tarde de domingo, a Anvisa chegou a emitir um comunicado no qual apontou “risco sanitário grave, e por isso, orientou as autoridades em saúde locais a determinarem a imediata quarentena dos jogadores, que estão impedidos de participar de qualquer atividade e devem ser impedidos de permanecer em território brasileiro”.
Em nota, a Anvisa afirma que “no dia 4/9, às 17h, foi realizada a reunião com as instituições envolvidas, na qual a Anvisa e autoridade saúde de São Paulo informaram a contingência de quarentena. No entanto, mesmo depois da reunião e da comunicação das autoridades, os jogadores participaram de treinamento na noite do sábado”.
Os funcionários da Anvisa entraram em campo aos cinco minutos de partida. Funcionários responsáveis pela operação do jogo tentaram impedir a entrada no campo, mas não conseguiram. Minutos depois, toda a seleção argentina deixou o gramado, apesar dos quatro jogadores envolvidos serem o goleiro Emiliano Martínez, o zagueiro Cristian Romero, o volante Lo Celso e o meia-atacante Emiliano Buendía — os três primeiros estavam entre os titulares.
Segundo a Anvisa, os quatro jogadores declararam não ter passagem por nenhum dos quatro países com restrições nos últimos 14 dias — entre eles, a Inglaterra. Os viajantes chegaram ao Brasil em voo de Caracas/Venezuela com destino a Guarulhos. Porém, notícias não oficiais chegaram à Agência denunciando supostas declarações falsas prestadas por tais viajantes.
De acordo com as regras brasileiras, os visitantes que estiveram no Reino Unido 14 dias antes de entrar no país devem ficar em quarentena por 14 dias na chegada.
Quase uma hora depois do horário de início do jogo, a Conmebol informou que, “por decisão do árbitro da partida, o encontro organizado pela Fifa entre Brasil e Argentina pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo fica suspenso”. A entidade sul-americana acrescentou que o “árbitro e o delegado da partida levarão um informe à Comissão Disciplinar da Fifa, a qual determinará os passos a seguir”. A Conmebol disse, ainda, que “esses procedimentos obedecem estritamente aos regulamentos atuais. As Eliminatórias para a Copa do Mundo são uma competição da Fifa. Todas as decisões relativas à sua organização são de competência exclusiva da instituição”.
Antes do apito inicial, ainda no estádio, o secretário de Saúde do Estado de São Paulo, Jean Gorinchteyn, insistia na proibição da participação dos quatro jogadores na partida. “Ninguém está à margem disso, nem eu. É imprescindível que todas as medidas sanitárias sejam cumpridas para garantir segurança a todos — a outros jogadores, a colaboradores e ao público”, afirma.
Gorinchteyn, que é médico infectologista, disse ao portal UOL Esporte que intercedeu para que os jogadores que chegaram da Inglaterra e não cumpriram a quarentena ficassem de fora da partida. “Os jogadores não poderiam jogar, por determinação da Anvisa e do Ministério da Saúde. Ainda mais vindo de áreas em que o vírus ainda circula de forma intensa, como é o caso da Inglaterra, não é possível que a quarentena seja deixada de lado. Nenhum item de segurança é eliminado”.
VERGONHA
O narrador da TV Globo, Galvão Bueno criticou a CBF após a paralisação. “Eu queria saber quem da CBF interferiu nesse assunto? Quem? Essas pessoas têm que ter seus nomes tornados públicos pra que isso não acontecesse, uma vergonha no futebol mundial. É um dos maiores clássicos do mundo”, disse Galvão.
Na internet, a critica à paralisação da partida e à falta de medidas que poderiam ter sido tomadas anteriormente foi geral. O comentarista esportivo Flávio Gomes questionou quem garantiu que os jogadores argentinos poderiam jogar. “Chegaram quinta à noite, com enorme publicidade sobre o tema e conhecimento geral, notícias na imprensa e o escambau. Foram abordar os caras hoje? Tá na cara que alguém falou pros argentinos que eles poderiam jogar”, disse.
“Repito: se esses caras entraram no país, treinaram e foram escalados ALGUÉM DEIXOU! A saber: governo brasileiro, em conluio com CBF e Conmebol, parceiras sanguíneas”, disse em seu Twitter.