![Anvisa infectado cepa indiana](https://horadopovo.com.br/wp-content/uploads/2021/05/aeroporto-guarulhos-26052021105620643.jpeg)
A forma falha como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) age na pandemia de Covid-19 no país, permitiu que um homem de 32 anos, que teve a contaminação pela cepa indiana (B.1.617.2) confirmada nesta terça, viajasse por três cidades e tivesse contato com dezenas de pessoas antes de exame ficar pronto.
Um morador de Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, saiu da Índia e chegou em São Paulo, no Aeroporto Internacional de Guarulhos, na manhã do último sábado. De São Paulo, ele viajou para o Rio de Janeiro, onde ficou durante uma noite, em um hotel ao lado do Aeroporto Santos Dumont. No dia seguinte, ele foi de carro para sua cidade natal.
O homem fez um exame RT-PCR no Aeroporto Internacional de Guarulhos. O problema é que ele foi autorizado a embarcar no voo até o Rio de Janeiro antes de o resultado do teste ficar pronto. O resultado positivo só foi contatado quando ele estava na capital carioca.
O passageiro tinha feito um exame 72 horas antes de embarcar na Índia e o resultado havia sido negativo. No Brasil, ele procurou autoridades sanitárias para relatar que se sentia mal.
A Secretaria de Saúde de SP informou em nota que “a testagem e monitoramento do passageiro no aeroporto é de responsabilidade da Anvisa, que informou a pasta estadual sobre o caso positivo quando o passageiro já havia embarcado para o Rio de Janeiro. As autoridades sanitárias nacionais e do Rio de Janeiro foram imediatamente comunicadas. Todas as pessoas que tiveram contato com o caso suspeito estão sendo monitoradas”.
A Secretaria Estadual de Saúde do Rio confirmou a informação e disse que através do Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde, de São Paulo, soube que o homem não teria informado à Anvisa sobre a suspeita de Covid. Desde então, de acordo com a pasta, todos os passageiros do voo, que residem no Rio, já teriam sido identificados e orientados a fazer isolamento por 14 dias. Eles são acompanhados por equipes das vigilâncias sanitárias de seus respectivos municípios.
Na prática, no momento em que o estado foi avisado, o passageiro, já estava a 278 quilômetros da capital. A Secretaria municipal de Saúde de Campos não informou quando foi notificada oficialmente que o passageiro poderia estar infectado com a variante indiana.
Em nota, a Anvisa afirmou que o caso desse passageiro “estava nas exceções legais previstas pela Portaria 653/2021 publicada pela Casa Civil, Ministério da Justiça e Segurança Pública e Ministério da Saúde, para ingresso no Brasil e havia apresentado um teste de RT-PCR com resultado negativo no embarque, além de Declaração de Saúde”.
O órgão diz ainda que, “na noite de 22/05, novo exame PCR foi realizado em laboratório localizado no interior do Aeroporto de Guarulhos depois de seu desembarque, apontando para resultado positivo. Imediatamente a Anvisa notificou as companhias aéreas Qatar e Latam para apresentarem a lista de passageiros contactantes das fileiras próximas. A informação foi encaminhada aos Cievs (Centros de Informação Estratégica em Vigilância em Saúde) dos estados de residência desses viajantes para busca ativa e monitoramento”.
Para Lígia Bahia, especialista em Saúde Pública da UFRJ, é evidente que houve falha na vigilância epidemiológica. “O pior de tudo foi ele seguir viajando já com teste. A conduta é o pelo auto isolamento em locais adequados. Se a pessoa tiver condições, em um hotel com regras rígidas, com comida entregue no quarto e sem circulação. Se for um viajante sem dinheiro, as instituições públicas devem providenciar”.
Casos da cepa indiana em investigação no Brasil
Além do caso confirmado do homem de 32 anos, que entrou no país pelo Aeroporto de Guarulhos, e dos tripulantes do navio MV Shandong da Zhi, ancorados a quatro quilômetros do litoral do Maranhão, sem autorização para atracar por determinação do governo do Estado, ao menos quatro outros estados monitoram casos suspeitos da nova cepa. Agora, são ao menos cinco que investigam a doença: Minas Gerais, Pará, Ceará e Rio de Janeiro
O governo do Pará informou nesta segunda-feira que monitora dois casos suspeitos de infecção pela cepa descoberta na Índia. Segundo a Secretaria de Saúde do estado, os pacientes são de Primavera, município no interior paraense, foram diagnosticados com Covid-19 e seguem em monitoramento e isolamento social. O governo exclui relação com os casos identificados na embarcação no Maranhão, e amostras foram encaminhadas para o Instituto Evandro Chagas para avaliação genômica.
O Ceará informou também que segue investigando um possível caso da cepa indiana, notificado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no dia 17 de maio. O homem de 35 anos chegou a Fortaleza em voo vindo da Índia no dia 9 de maio, e testou positivo para a Covid-19 em dois testes RT-PCR feitos nos dias 10 e 11 de maio, apesar de não ter apresentado sintomas.
Segundo a Secretaria de Saúde do Ceará, desde então ele segue isolado em hotel em atenção aos protocolos de biossegurança, mesmo após testar negativo em um terceiro exame, feito no dia 18 de maio.
Uma outro passageiro, com quem o paciente em observação fez o translado, também foi testado assim que o voo aterrissou em Fortaleza, e testou negativo nos dias 10 e 12 de maio. Apesar do resultado, também segue isolado e sob investigação.
A Secretaria informa que acompanha as análises dos exames e laudos laboratoriais para rastreio de variante indiana por meio de vigilância genômica, feita pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com previsão de resultado até o fim deste mês.
Em Minas Gerais, a Prefeitura de Juiz de Fora também já investiga o primeiro caso suspeito de infecção com a variante indiana do novo coronavírus. De acordo com a Secretaria de Saúde do município, o paciente, que está internado e isolado na Santa Casa de Misericórdia da cidade, testou positivo para Covid-19 após voltar de uma viagem para a Índia.