Presidente da Anvisa liberou vacinas do consórcio Covax Facility mas faz exigências absurdas à vacina russa que será produzida no Brasil pela empresa brasileira União Química.
O diretor da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antônio Barra Torres, continua reclamando da aprovação, pelo Senado, da Medida Provisória que busca agilizar a autorização de vacinas para uso emergencial no Brasil. A MP reduz de dez para cinco dias o prazo para aprovação de vacinas que já tenham sido aprovadas em algumas agências internacionais.
Ela também ampliou o número de agências de controle sanitário que são referências para credenciar o uso emergencial no Brasil. Foi acrescentada a agência sanitária da Rússia, que já estava na minuta inicial da MP, mas foi retirada posteriormente por integrantes do governo Bolsonaro.
É público e notório que Bolsonaro é contrário ao uso de vacinas. Criou caso com todas elas e até a vacinação de sua mãe, de 93 anos, o espírito de porco está atrapalhando.
O pretexto da direção da Anvisa para combater a MP é que o órgão estaria sendo pressionado por “lobistas” que “mobilizaram o Congresso Nacional” para a aprovação da lei, como se o país não estivesse com pressa e não estivéssemos no meio de uma pandemia que provoca uma tragédia sem paralelo nos últimos cem anos, matando mais de mil pessoas por dia.
Barra Torres, indicado por Bolsonaro, o mesmo que desfilou sem máscara em aglomerações bolsonaristas no início da pandemia, quer que Planalto vete a decisão do Senado em prol das vacinas. Segundo ele, a soberania do país estaria sendo afetada com essa decisão da Câmara Alta.
A afirmação é demagógica e completamente contraditória à decisão, anunciada pelo próprio órgão, no dia anterior, de que não haverá mais a necessidade de registro e autorização de uso emergencial para as vacinas que forem distribuídas no Brasil dentro do consórcio Covax Facility, iniciativa da OMS (Organização Mundial de Saúde), que visa aumentar o acesso global a imunizantes contra a Covid-19.
Nem avaliação de segurança dessas vacinas será feita pela Anvisa, o que é correto, pois se trata de uma emergência. Mas, então, por que não se usa o mesmo critério para a vacina Sputnik V?
Fica evidente que o presidente da Anvisa está usando dois pesos e duas medidas. Para as vacinas do consórcio Covax Facility, ele decide que não precisa nem pedir autorização para uso no Brasil. Mas, para a Sputnik, que já foi aprovada em vários países e será fabricada no Brasil, por uma empresa genuinamente nacional, o mesmo Antônio Barra Torres diz que tem que avaliar “com muito cuidado a eficácia e a segurança da vacina” e “que não pode apressar a decisão”.
A Sputnik já foi aprovada na Rússia e está sendo usada em vários países, sem nenhum relato de complicações.
A pressão para que a Anvisa pare de atrapalhar o combate emergencial à pandemia não é de hoje. Desde início da pandemia, a postura da agência tem sido resistente com as vacinas.
Tanto o Instituto Butantan, produtor da CoronaVac, em parceria com a chinesa Sinovac, quanto a Fundação Osvaldo Cruz, produtora da vacina de Oxford, em parceria com a AstraZeneca, tiveram que pressionar para que a aprovação fosse agilizada.
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), precisou marcar data para o inicio da vacinação dos paulistas para que as coisas começassem a acontecer. O governo federal foi, literalmente, empurrado para que fizesse alguma coisa.
Agora, é a vez da empresa privada nacional, União Química, produtora da vacina Sputinik V, em parceria com o Instituto Gamaleia da Rússia, vencer as resistência do governo e do órgão para conseguir mais agilidade no processo de aprovação de sua vacina.
O presidente da União Química, Fernando de Castro Marques, informou que já disporia imediatamente de 10 milhões de doses e pode fornecer oito milhões por mês. O governo da Bahia já encomendou 50 milhões de doses da Sputnik V e ofereceu para o SUS. É tudo o que o Brasil está precisando.
A Anvisa mantém uma postura de extrema má vontade com a empresa nacional e com a vacina que, além de aprovada em vários países, já está sendo usada por países vizinhos, como a Argentina.
Antônio Barra Neto quer que Bolsonaro vete a MP que agiliza a aprovação das vacinas, mesmo que esse veto atinja exatamente a Sputnik V e a União Química, provocando mais atrasos na campanha de imunização do país.
O Brasil foi o 57°país a iniciar a vacinação. Está muito atrasado, tendo vacinado até agora menos de 2% da população. Os especialistas advertem que é necessário agilizar a vacinação, sob pena de nós não conseguirmos impedir a propagação do vírus.
S. C.