O defensor público federal, Renan Sotto Mayor, afirmou que o desaparecimento do indigenista Bruno Araújo e do jornalista inglês Dom Phillips na Amazônia “é consequência da omissão do Estado brasileiro em uma região com povos indígenas em situação conflitante, com garimpo, narcotráfico, caça e pesca ilegal”.
Para o defensor, as declarações de Bolsonaro e o apoio de seu governo ao garimpo ilegal em Terras Indígenas e a crimes ambientais acirraram ainda mais os conflitos na região do Vale do Javari, onde Bruno e Dom desapareceram.
“Esse tipo de posicionamento do chefe do Executivo reflete no território e gera tensão, porque as pessoas passam a acreditar na liberação [do garimpo em áreas de proteção]. Mas garimpo em terra indígena é crime ambiental e de usurpação”, pontuou o defensor.
Bruno Araújo trabalhava na Fundação Nacional do Índio (Funai), mas foi demitido depois de ter participado de combate à mineração ilegal em reserva indígena. Dom Phillips, correspondente do jornal inglês The Guardian, estava com Bruno para investigar a omissão do governo federal nas terras indígenas.
O defensor público disse que ele e outros colegas já se preocupavam com a segurança de Bruno Araújo desde que ele foi demitido da Funai.
“O Bruno conhecia o Vale do Javari como a palma da mão e fazia o enfrentamento ao garimpo em áreas indígenas. Com a saída dele [da Funai], essas políticas infelizmente foram diminuindo”, continuou.
“A Funai tem ótimos servidores, que sofrem com o enfraquecimento da política indigenista. Tem servidores que estão se sentindo desamparados”, relatou.
Bruno Araújo estava atuando na região cooperando com a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), já que foi retirado da Funai.
“O Bruno estava ali como se estivesse em atividade privada. Foi a forma que encontrou de lutar pelos direitos dos povos indígenas. A Univaja não precisaria tomar essas atitudes, se o Estado estivesse ocupando a região para impedir ilegalidades”, falou o defensor público federal.
“Quando se fala em povos indígenas isolados e de recente contato, o conhecimento técnico é fundamental. O Bruno faz parte de uma tradição da Funai de ter indigenistas que conhecem essas comunidades. Nos últimos anos, as políticas de enfrentamento ao garimpo infelizmente foram diminuindo. São terras da União. Então, cabe à União fiscalizar”, continuou.
O desaparecimento dos dois completa uma semana neste domingo (12). Testemunhas contam que viram homens armados andando de barco logo depois de terem passado Bruno e Dom Phillips.
Um suspeito, o pescador Amarildo da Costa de Oliveira, de 41 anos, conhecido como “Pelado”, foi preso. Marcas de sangue foram encontradas em seu barco e as amostras foram levadas para análise. Os policiais encontraram com ele uma porção de droga e munição de uso restrito.