Multidões tomaram as ruas em diversos países, nos dias 31 maio e 1º de julho para repudiar o reforço ao regime de apartheid israelense, com a Casa Branca chamando seu plano de despojar o povo palestino de seu direito nacional de “Acordo do Século”.
DIA INTERNACIONAL DE JERUSALÉM
As manifestações aconteceram em mais de 40 países, em alguns deles em diversas de suas cidades, na data denominada de Dia Internacional de Jerusalém (Dia Internacional Al Quds, como se denomina Jerusalém na língua árabe).
Os maiores atos foram os realizados no Irã, com caminhadas gigantes em Teerã, Karaj, Arak, Hamedan, Mashhad, Qom, Shiraz, Qazvin, Kerman, Sari, Yasuj, entre outras. Houve manifestações em Nova Delhi e mais 18 cidades da Índia; na capital da Malásia, Kuala Lumpur; em Damasco, em Beirute, na capital iemenita, Sana’a e ainda no Iraque; em 12 cidades norte-americanas, destacando-se o realizado na praça Times Square, Nova Iorque; houve caminhadas na Nigéria, no Kenia, na cidade do Cabo, África do Sul e demonstrações em mais 9 países africanos. Atos também ocorreram nas cidades australianas de Melbourne e Sidnei e nas cidades paquistanesas de Islamabad e Peshawar; no Brasil, o dia foi marcado por uma caminhada na Av. Paulista e um encontro com centenas de pessoas na Mesquita do Brás. Na Europa, o dia teve atos realizados em 18 países, sendo os maiores em Berlim (no sábado) e em Londres (domingo).
Em Jerusalém, a mesquita Al Aqsa foi cercada por uma multidão de fiéis em oração pela libertação da Palestina.
O Dia de Jerusalém coincide com o último dia do mês sagrado do Ramadã, que hoje também é a data em que os muçulmanos libaneses passaram a comemorar a libertação de sua região sul ocupada por Israel de 1982 até o ano 2000 e que este ano caiu no dia 31 de maio.
REPÚDIO À OCUPAÇÃO DA PALESTINA
O Dia de Jerusalém foi uma iniciativa do líder da Revolução Iraniana, Ruhollah Khomeini, cujas primeiras manifestações aconteceram em 1979, condenando a ocupação da Palestina e, em especial de Jerusalém por parte do regime israelense. A data foi adotada por organizações solidárias aos palestinos em diversos países, com manifestações ano a ano.
“ACORDO DO SÉCULO”
Este ano, o tema que mais mobilizou foi o rechaço ao que Trump e seu genro, Jared Ksuhner, chamaram de “Acordo do Século”, cuja proposta aos palestinos é a capitulação diante da ocupação israelense, mundialmente repudiada.
Ainda não abertamente esclarecido, este “plano” anunciado há dois anos, consiste em linhas gerais (segundo informações divulgadas recentemente pela agência de notícias Reuters), na entrega aos palestinos de parte do inóspito deserto egípcio do Sinai, que faz fronteira com a Faixa de Gaza, em troca da manutenção dos assentamentos judaicos ilegais construídos sobre terras férteis assaltadas aos palestinos e que seriam anexados a Israel e que hoje – segundo estudo da jornalista palestina Zena Tahhan, publicado no portal Al Jazeera – ocupam 42% da Cisjordânia, reivindicada como território principal para a construção do Estado Palestino, pela Autoridade Nacional Palestina e pela Organização de Libertação da Palestina (OLP).
Além disso, no bantustão proposto por Trump/Kushner, os palestinos não controlariam as fronteiras e sim Israel. Estas indecentes “propostas” estão sendo expostas às submissas monarquias do Golfo Persa logo após a Casa Branca haver transferido isoladamente a embaixada dos Estados Unidos em Israel, de Tel Aviv para Jerusalém, reconhecendo a anexação da Jerusalém Oriental, árabe e fechado a representação da OLP em Washington.
Participando da manifestação em Teerã, o presidente iraniano, Hassan Rouhani, declarou que o “Acordo do Século, tentativa de Trump de aplastar o Estado Palestino, fracassará porque os palestinos não abandonarão suas terras”.
“O povo em nossa região, assim como os de todo o mundo estão sendo atacados por Trump e a política norte-americana, com a qual tentam dominar a vontade dos povos. Hoje há uma ampla rejeição à decisão de Trump de anexar Jerusalém e a considerar capital de Israel”, afirmou no ato de Bagdá, Moin al-Kazemi, líder do movimento Badr.
De Beirute, em pronunciamento para exaltar a data, o líder do partido Hezbollah, Hassan Nasrallah, enfatizou que “o principal desafio hoje, frente a Palestina e a Al Quds (Jeusalém) é o ‘Acordo do Século’, o acordo de Trump, que deveria se chamar de ‘Crime do Século’. É nosso dever confrontá-lo. Temos a profunda esperança de que nós, o povo desta região, pode barrar este crime, vencendo a aliança dos EUA com os que lhes servem de instrumentos na região”.
Em Damasco uma faixa proclamava “Não ao acordo do Século – Nosso povo palestino e os homens livres da nação árabe vão derrotar o ‘Acordo do Século’”.
No comunicado expedido pela organização IACenter conclamando para a concentração em Times Square os organizadores declaram: “O Dia Internacional Al Quds é um dia de solidariedade com a população civil palestina, oprimida e inocente em sua luta contra o regime opressivo racista de apartheid-sionista em Israel”.
CAMINHADA NA AVENIDA PAULISTA
“O povo brasileiro apoia a paz e uma Palestina Livre”, afirmava uma das faixas e cartazes portados pelos integrantes da caminhada que percorreu um trecho da Avenida Paulista no início da noite do dia 31 de maio, integrando as marchas mundiais pelo Dia Internacional Al Quds (Dia Internacional de Jerusalém).
O coordenador de Relações Internacionais do MST, Marcelo Buzetto, compareceu junto com integrantes do movimento e esteve entre os que encabeçaram a caminhada, ao lado do sheik Rodrigo Jalloul e do representante da Frente Popular de Libertação da Palestina, Jadallah Safa.
Jalloul condenou a inaceitável proposta de Trump, cognominada pela Casa Branca de “Acordo do Século”, “é o mesmo Trump que reconheceu e premiou a ocupação de Jerusalém. Dele o que se pode esperar é agressão, ameaças. O que ele chama de “Acordo do Século”, não passa de uma farsa para prolongar o sofrimento do povo palestino”.
Amin, membro do Partido Comunista do Marrocos, em visita a São Paulo, considerou que a “libertação da Palestina integra toda a luta dos povos árabes pelo fim das tiranias submissas ao imperialismo. O exemplo de luta pela pátria demonstrado todos os dias pelos palestinos dignifica e chama os povos árabes à luta por sociedades mais justas e livres”.
O sheik Hussein Khaliloo, também compareceu ao ato e denunciou os ataques israelenses ao povo palestino, com apoio da Casa Branca, assim como as sanções e ameaças ao povo iraniano.
O ex-professor de comunicação e artes, da USP, e da PUC, Paulo Vasconcelos, que agora trabalha em seu Blog “Palavra dos Brasileiros”, também estava na passeata, e disse que “os brasileiros e os palestinos são irmãos”.
O professor, que empunhava um cartaz exigindo “Palestina Livre” afirmou ainda que “Israel faz um massacre, um genocídio que o Brasil não pode apoiar. Devemos ser solidários com um povo tão sofrido, é um ato de humanidade”.
A caminhada na Paulista foi seguida de um ato alusivo à mesma data na Mesquita Muhammad Mensageiro de Deus, conhecida como a Mesquita do Brás, onde mais de quinhentos presentes ouviram a mensagem do sheik Badri Muawyiah, que destacou que os “usurpadores serão derrotados, como aconteceu com os que tiveram que se retirar da ocupação ao sul do Líbano, quando tiveram que recuar diante daqueles que não titubearam, que perseguiram o objetivo da libertação da pátria com a dignidade como valor máximo”.
“O Dia de Al Quds é a resposta dos povos que exigem o fim ao silêncio dos governantes”, acrescentou o clérigo.
Presentes ao ato o presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil, Fepal, Ualid Rabah; o presidente do Instituto Brasil Palestina, Ibraspal, Ahmed Chehada; o cônsul do Líbano, Rudi Azzy e o cônsul geral da Síria em São Paulo, Sami Salameh.
Entre as lideranças presentes, José Reinaldo e Lejeune Mirhan, do PCdoB; a psicanalista Claude Hajjar, o engenheiro Carlos Tabecherani, o diretor do Esporte Clube Sírio, Fuad Achcar; o diretor do Clube Homs, Mauro Korban e o líder comunitário, Said Bazzi. Apresentou o ato o jornalista libanês Ali Farhat.
Reportagem de CHADIA KOBEISSI e NATHANIEL BRAIA