O secretário estadual da Polícia Militar, coronel Luiz Henrique Pires, anunciou mudanças no treinamento da corporação após nos últimos dias, três menores de idade terem sido assassinados em ações da PM — Thiago, de 13 anos, na Cidade de Deus, e Wendell, de 17, e Eloáh, de 5, no Morro do Dendê.
A primeira turma está prevista para começar na próxima segunda-feira, dia 21. Nesta turma de treinamento serão priorizados os militares que participaram das últimas ações em Santa Teresa, Cidade de Deus e na Ilha do Governador. O objetivo é preparar melhor esses policiais, com técnicas de abordagem.
“Era um treinamento preventivo por que toda a tropa passava. Mas, agora, quem se envolver nesse tipo de ocorrência vai ser obrigado a passar, e a gente vai dar um tratamento diferenciado a esse policial que se envolveu nessa ocorrência”, afirmou o comandante.
Além disso, haverá conversas diárias nos batalhões. “A gente está intensificando as instruções em cima dos nossos protocolos, em cima dos nosso procedimentos, palestrar vão ser intensificadas, treinamentos vão ser intensificados, sempre procurando condicionar melhor o nosso policial militar. A gente entende que situações podem acontecer, mas temos que estar preparados, capacitando nosso policial permanentemente para que isso possa ser minimizado (…) Acho que talvez seja essa a grande definição: manter a instrução de caráter pemanente, diária, regular em cima da tropa, orientando, buscando apoiar, buscando trabalhar em conjunto. E assim, a gente busca minimizar todo esse impacto que acontece nessas comunidades que, repito, não é uma coisa que objetivamos, mas que, infelizmente, em alguns momentos acabam acontecendo”.
MORTICÍNIO
Levantamento do Instituto Fogo Cruzado mostra que, só este ano, 16 crianças entre 0 e 12 anos incompletos foram baleadas na Região Metropolitana do Rio: sete morreram e nove ficaram feridas. Já em 2022, nesse mesmo período, cinco crianças foram baleadas: duas morreram e três acabaram feridas.
Nessa segunda-feira (14) representantes do governo federal e do Ministério Público do Rio se reuniram para discutir e propor ações de combate à violência policial no estado. Durante o encontro, foram debatidas operações policiais que resultaram em mortes, como as de Eloah e Wendel, na Ilha, e a de Thiago, na Cidade de Deus.
Nos últimos sete anos, a região metropolitana do Rio de Janeiro registrou ao menos 601 crianças e adolescentes baleados. Desse total, 286 foram atingidos durante ações policiais — o que representa 47,5%.
O levantamento mostra que 267 crianças e adolescentes foram mortos e 334 ficaram feridos no período analisado — entre 5 de julho de 2016 e 8 de julho de 2023.
“Os dados precisam ser levados em conta para o planejamento da segurança pública. Não podemos deixar essas histórias se perderem. Nosso esforço é também de memória, porque sem ela a sociedade não se mobiliza”, afirma Cecília Olliveira, do Fogo Cruzado.