
Alguns leitores, exatamente por sua boa fé, podem estranhar um pouco a comparação (e, mais, a aproximação) que fizemos entre Bolsonaro e Maduro (v. Problema de Bolsonaro com a Venezuela é bajular Trump).
Entretanto, convenhamos, leitor, será que há muita diferença entre criar um Ministério da Mulher e da Família (como se a função da mulher fosse, exclusivamente, cuidar da família), como fez Bolsonaro, e um Vice-Ministério da Suprema Felicidade Social, como fez Maduro?
Ou entre dizer que o papa Francisco foi eleito porque o comandante Chávez (que nada tem a ver com isso) interferiu junto a Jesus e nomear ministra a mulher que subiu na goiabeira com o mesmo Jesus (outro que nada tem a ver com isso)?
Ou entre em seguir um guru indiano e se submeter a batizados com pastores esquisitos em Israel?
Mas vamos ao lado prático da questão.
Recentemente, Bolsonaro cortou R$ 8 reais no reajuste do salário mínimo – sem que houvesse outro motivo além de sinalizar que, durante o seu governo, o trabalhador será tratado na chibata, como dizem os neo-escravagistas (e, aliás, diziam também os escravagistas).
Bolsonaro fez isso acompanhado por um coro de doidos, entoando a ladainha de que o corte no reajuste propiciara “o primeiro aumento real do salário mínimo em três anos”.
Papagaio! Se Bolsonaro cortasse mais o reajuste do salário mínimo, talvez o aumento real fosse ainda maior…
Então, dirá o leitor, adepto de São Tomé, o padroeiro das causas científicas, aquele que, para crer, queria provas:
O que tem isso a ver com o decreto de Maduro, após a sua segunda posse, aumentando em 300% o salário mínimo na Venezuela?
Como disse um partidário do presidente Hugo Chávez – e, por isso mesmo, adversário de Maduro:
“… entre dezembro de 2016 e hoje (pouco mais de 2 anos), o salário mínimo aumentou 5.555 vezes enquanto que o custo de vida aumentou 104.000 vezes, ou seja, o custo de vida na Venezuela aumentou (em relação ao salário) quase 20 vezes mais do que era faz pouco mais de 2 anos atrás.
“Em outras palavras, para comprar hoje o que se comprava em dezembro de 2016, alguém teria que trabalhar em 20 empregos simultaneamente” (cf. Oscar Heck, Las cifras no mienten, Aporrea, 14/01/2019).
O país, diz esse chavista, está à mercê do dólar, “do qual necessitamos para importar basicamente todos os produtos de consumo, devido a que aqui na Venezuela já não se produz quase nada desde que Maduro chegou ao poder”.
O novo salário mínimo de Maduro corresponde ao poder aquisitivo de quatro pacotes de 1 kg de macarrão (por mês, já que o salário é mensal).
Mas isso é por enquanto, pois a inflação de 2018, na Venezuela, foi 1.698.488,20%, embora isso não seja seguro, pois esse cálculo é extra-oficial: desde 2015 não há dados estatísticos oficiais na Venezuela, em alguns casos desde 2013 (v. Venezuela sin datos, e, também, o site do Instituto Nacional de Estadística, do próprio governo da Venezuela).
A propósito, a estimativa de inflação do FMI, em 2018, para a Venezuela, é menor: 1.370.000%.
Não é, portanto, um fenômeno sobrenatural que levas de venezuelanos atravessem as fronteiras com o Brasil e com a Colômbia.
Mas o que Bolsonaro e outros bajuladores de Trump querem não é melhorar a vida do povo venezuelano.
Aliás, estão se lixando para o povo da Venezuela, assim como estão se lixando para o povo do Brasil.
C.L.
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