
Nave Crew Dragon já atracou na ISS. Astronautas Butch Wilmore e Sunny William têm retorno previsto para quarta-feira.
Já atracou na Estação Espacial Internacional (ISS) neste domingo (16) a nave Crew Dragon, para trazer de volta à Terra os astronautas norte-americanos Butch Wilmore e Sunny Williams, que estão presos na Estação Espacial Internacional há mais de nove meses, reféns da incompetência da Boeing e sua nave Starliner, que os levara até lá em junho do ano passado, mas deu defeito e acabou retornando três meses depois sem ninguém, por decisão da Nasa.
A Starliner fazia seu primeiro voo de teste tripulado e Wilmore e Williams deveriam ter ficado apenas por uma semana. Mas problemas como falha do propulsor e vazamento de hélio, que a Boeing não conseguiu resolver, apesar de várias tentativas, os forçou a continuarem na ISS.
A Crew Dragon foi lançada na noite de sexta-feira, transportando quatro astronautas, e atracou 29 horas depois na ISS às 0h05, horário do leste, do dia 16 (12h04, horário de Pequim). A tripulação é constituída pelas astronautas americanas Anne McClain e Nichole Ayers, o astronauta japonês Takuya Onishi e o cosmonauta russo Kirill Peskov.
Os dois “reféns” espaciais já deram as boas-vindas aos novos membros da ISS e à chegada da Crew Dragon. Em setembro, Wilmore e Williams haviam sido informados pela NASA de que retornariam em fevereiro, data que em dezembro data foi adiada para março, fazendo jus à sua descrição, pela mídia dos EUA, de “perdidos no espaço”, aliás o nome de uma célebre série de tevê sci-fi. A espaçonave está programada para retornar à Terra na quarta-feira (19), mas a data ainda pode sofrer ajustes.
BUGS NO ESPAÇO
As questões surgidas no desenvolvimento da Starliner demonstram que os problemas de engenharia e de qualidade vistos na área civil da empresa aeronáutica norte-americana chegaram ao espaço.
No primeiro teste não tripulado em 2019, um bug de software colocou a nave numa trajetória errada. Após o segundo teste, constatou-se que a cabine estava cheia de fita elétrica inflamável. O segundo voo sem tripulação aconteceu em maio de 2022, embora previsto para agosto de 2021. Antes desse voo, os engenheiros descobriram que as válvulas no sistema de propulsão do Starliner estavam presas, e o veículo teve que ser recolhido da plataforma de lançamento e enviado de volta à fábrica para reparos.
Também os testes com os cabos do sistema de paraquedas – desenvolvido para que a Starliner seja a primeira cápsula fabricada nos EUA a realizar um pouso em solo, em vez de retornar ao oceano – mostraram não corresponder à margem de segurança, exigindo a correção.
No voo inaugural, vazamentos de hélio, gás inerte usado para pressurizar bombas dos propulsores, chegaram a ser identificados, o que motivou um breve adiamento, mas a espaçonave acabou decolando rumo à ISS. Na acoplagem à ISS, cinco dos 28 propulsores do módulo falharam em seu funcionamento, atrasando a ancoragem em mais de uma hora.
Sem conseguir resolver os problemas técnicos no desenvolvimento da Starliner, a Boeing relatou US$ 883 milhões em perdas na Starliner até outubro de 2022.
A Starliner ainda se encontra em processo de certificação. O contrato de 2014 no valor de US$ 4,2 bilhões determina o desenvolvimento da cápsula espacial, voos de teste e seis voos de rotação da tripulação da ISS, mas está bem atrasado.
Durante quase uma década, após a aposentadoria dos ônibus espaciais em 2011, a Nasa ficou dependente de carona na nave russa, a Soyus.