Em meio ao alarido de Washington sobre o “desrespeito” do Irã ao tratado que o próprio governo Trump rasgou, após Teerã ter anunciado que ultrapassou o limite do estoque de urânio pouco enriquecido (UEL), o enviado russo à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Mikhail Ulyanov, esclareceu que a agência nuclear da ONU como norma geral não impõe quaisquer limitações ao volume desse produto, bastando que esteja sob controle internacional.
A aceitação do limite de 300 kg foi uma manifestação de boa vontade por parte do Irã, um passo voluntário, para facilitar a conclusão do chamado acordo nuclear (JCPOA, na sigla em inglês) em 2015, assinalou, que foi assinado por Teerã mais os EUA, Rússia, China, França, Inglaterra e Alemanha.
“Não há limites para o urânio de baixo enriquecimento (LEU) do Irã monitorado pelo regulador internacional”, informou a agência de notícias russa Interfax, citando um tweet de quinta-feira de Ulyanov.
Para o diplomata russo, o Irã adotou a medida “em resposta ao embargo ilegal de petróleo”. Além de rasgar o acordo assinado pelo presidente norte-americano anterior, o governo Trump impôs drásticas sanções ao Irã, declarando que reduzirá “a zero” as exportações de petróleo do país persa e ameaçando com sanções quem comerciar com o Irã.
“Para avaliação objetiva, não se deve esquecer que, em princípio, não há limites para a quantidade de LEU (urânio levemente enriquecido) para os Estados Partes do TNP (Tratado de Não-Proliferação), desde que o LEU permaneça sob controle internacional”, acrescentou Ulyanov. “O Irã aceitou voluntariamente o limite do LEU como parte do acordo com o Irã, que está fundamentalmente prejudicado pelas sanções dos EUA”, observou. Pelo lado do Irã, o objetivo do acordo era pôr fim às pesadas sanções então existentes, em troca de normalização das relações econômicas.
ZAKHAROVA
Também a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, ressaltou na quinta-feira que a medida do Irã veio em reação às sanções dos EUA, que “tornaram impossível para o partido iraniano implementar suas obrigações sob o JCPOA”.
Repetindo afirmações feitas por outras autoridades russas , ela chamou o movimento do Irã de “um resultado lógico” das ações dos EUA, incluindo as sanções. Como salientou Zakharova, o Irã colocou o limite de 300 quilos de LEU como um passo de boa vontade, “que considerou aceitável em 2015”.
Na terça-feira, o chanceler iraniano Mohammad Javad Zarif disse que a República Islâmica cumprirá os termos do histórico acordo nuclear, desde que os signatários europeus cumpram suas obrigações econômicas. Em maio, um ano após o rompimento do acordo por Trump e retomada das sanções, o Irã iniciou um conjunto de contramedidas. Voltadas especialmente a levar as partes europeias do acordo a restabelecerem seu comércio com o Irã, que parou depois que as proibições americanas foram reforçadas.
PROVOCAÇÃO
Na quinta-feira, a marinha de guerra britânica apreendeu ilegalmente no Estreito de Gibraltar o petroleiro iraniano Grace 1 a pedido dos EUA, provocação já repudiada por Teerã, que convocou o embaixador Rob Macaire para explicações. O ato foi cometido à revelia de qualquer autorização do Conselho de Segurança da ONU. O petróleo tinha como destino a Síria.
Como o petroleiro do Irã carregava combustível e óleo para o povo sírio apenas com objetivos humanitários, a medida tomada pelo governo britânico “não é apenas ilegal, mas também desumana”, registrou a PressTV. “O Irã e a Síria desfrutam de vastos laços comerciais e comerciais e, de acordo com a lei internacional, a Grã-Bretanha não tem o direito de interferir em suas relações”.
O chanceler espanhol Josep Borrell, já indicado para ocupar o mais alto posto da diplomacia europeia, afirmou que a Espanha estava investigando a apreensão do navio e como isso afeta a soberania espanhola, como parece ter ocorrido em águas territoriais espanholas – Madri não reconhece como britânicas as águas em torno de Gibraltar.
O ato foi visto como “a implementação de um tipo de sanções extraterritoriais, apesar do fato de que a União Europeia tem sido invariavelmente contra essas proibições”. Para Teerã, a apreensão do petroleiro é “um passo destrutivo”, que contribui para uma maior escalada das tensões na região.
ANTONIO PIMENTA