A falta de repasse pelo Ministério da Saúde, de lotes de CoronaVac, faz com que estados e municípios suspendam a vacinação das crianças contra a Covid-19. Apenas 1 em cada 10 crianças de 3 e 4 anos no Brasil recebeu a primeira dose contra Covid em três meses de campanha vacinal. Isso indica, de acordo com dados oficiais calculados pelo jornal Folha de São Paulo, que somente 13,9% das crianças dessa faixa etária já iniciaram a o esquema vacinal. Já a vacinação completa (com duas doses) foi aplicada em apenas 4,2% das crianças dessa idade no país.
Para se ter noção do que as taxas representam, nos primeiros três meses de campanha vacinal do grupo de 5 a 11 anos no país, no início do ano, mais da metade desse público já tinha recebido a primeira dose contra a Covid. A população estimada de 3-4 anos é bem menor (5,9 milhões) do que o grupo de 5-11 anos (20,5 milhões).
Os dados levantados no DataSUS, do Ministério da Saúde, analisaram os registros de primeira e segunda doses de crianças de 3 e 4 anos a partir de julho deste ano, quando a imunização com CoronaVac nessa faixa etária foi aprovada pela Anvisa.
A cidade de Recife precisou suspender, a partir de segunda-feira (7), a aplicação da primeira e segunda doses para crianças de 3 e 4 anos, visto que essa é a única vacina permitida para essas faixas etárias.
A Prefeitura enviou um ofício para o Ministério da Saúde (MS) cobrando o envio de novas doses de CoronaVac para a capital pernambucana. Em setembro, com o estoque da vacina baixo e sem previsão para normalização da distribuição para os estados e municípios, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) restringiu os locais de vacinação deste público para locais específicos, para evitar perdas das vacinas que estavam em estoque.
De acordo com a Sesau, o envio da vacina está irregular desde julho e a situação piorou no mês de outubro. “A situação ficou mais crítica em outubro, quando a gente recebeu só 600 doses”, afirma Luciana Albuquerque, secretária de Saúde de Pernambuco. “A gente oficiou o Ministério da Saúde e está aguardando uma resposta”, prossegue.
“É muito ruim que a gente não tenha a vacina para aqueles que querem se vacinar e querem se proteger da Covid”, completou Albuquerque ao Jornal Hoje, da TV Globo.
Recife tem 43.752 crianças entre 3 e 4 anos de idade. Até agora, 10.752 mil tomaram a segunda dose da vacina, o que representa 24,91% de cobertura vacinal. Dentre o grupo etário, apenas 3.425 receberam a segunda dose do imunizante. Para manter regular o calendário de vacinação desse público pediátrico, Pernambuco necessita de 4 mil doses por mês.
Os casos de Covid-19 no estado quase triplicaram na última semana. Entre os dias 23 e 29 de outubro, o percentual era 11,8%. Na semana anterior, ficou em 4,1%. Desde março de 2020, quando começou a pandemia no estado, até esta segunda, Pernambuco totalizava 1.066.414 casos confirmados, sendo 59.970 graves e 1.006.444 leves. Nesse período, o estado registrou 22.414 mortes.
O problema não se restringe à capital pernambucana. As prefeituras de Paulista, Olinda e Igarassu, no estado, também suspenderam a vacinação por falta de doses do imunizante Coronavac. Também em Abreu Lima e Araçoiaba, municípios pernambucanos, a aplicação da vacina foi interrompida porque o estoque de doses acabou.
A mesma situação ocorre em Olinda. Em Jaboatão dos Guararapes, a prefeitura informou que o estoque só dura até segunda-feira. Estoques zerados do imunizante ou chegando ao fim, também é realidade em outros municípios do estado.
A falta da vacina da CoronaVac afeta também outros estados brasileiros. Sem perspectiva de uma solução por parte do Ministério da Saúde em enviar novas remessas do protetor, outros municípios do país, como Rio de Janeiro, também precisaram suspender a vacinação de crianças nos últimos dias.
Em Mato Grosso e Sergipe, os estoques da Coronavac para crianças só vão durar até o início da próxima semana. A Paraíba tem mil doses da vacina, para atender a 114 mil crianças.
Em São Paulo, o governador Rodrigo Garcia informou pelas redes sociais que determinou ao Instituto Butantan, que em parceria com o laboratório chinês Sinovac Biotech produzem a Coronavac, que importe insumos para produzir 10 milhões de doses para vacinar as crianças do estado e disponibilizar ao Ministério da Saúde.
A capital paulista iniciou nesta quarta-feira (8), a imunização para crianças com comorbidades, deficiência permanente e indígenas. O público estimado é de cerca de 15 mil crianças.
Em nota, o Ministério da Saúde informou, nesta terça-feira, que disponibilizou 1 milhão de doses a todos os estados para a vacinação de crianças de 3 a 4 anos. A pasta alegou também que “está em tratativas com o laboratório para aquisição de mais doses”.
No entanto, o governo federal, que atrasou a compra de vacinas contra a Covid-19 para todo o povo brasileiro, responsabilizou os estados e municípios pela falta da CoronaVac para o público infantil. Segundo o governo, a aquisição leva em consideração o ritmo de vacinação deste público e o avanço do número de doses aplicadas.
“Vale reforçar que as doses são enviadas de acordo com a solicitação de cada estado, considerando o público-alvo planejado e a capacidade de armazenamento. Cabe aos estados o planejamento e gerência de distribuição entre os municípios”, alegou o Ministério da Saúde, na tentativa de se eximir da responsabilidade.
NOVA VARIANTE PREOCUPA
A identificação de uma variante da ômicron no Brasil, a nova onda de casos de Covid na Europa e a alta de testes positivos em laboratórios particulares e farmácias no país aumenta a preocupação também sobre uma faixa que ainda não foi atendida pela vacinação: a de bebês e crianças pequenas.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou em 16 de setembro um imunizante da Pfizer que poderia atender crianças entre 6 meses e 2 anos e 11 meses de idade, que até o momento não foram incluídas na cobertura vacinal. A farmacêutica já entregou 1 milhão de doses ao governo.
Porém, o Ministério da Saúde restringiu a vacinação nessa faixa apenas para casos de pessoas com comorbidades. E mesmo para esse grupo ainda não foi fixado um cronograma. Especialistas criticam a demora do governo em imunizar as crianças.
“Já são quase dois meses desde que a Anvisa aprovou a vacina e nem mesmo as crianças com comorbidades receberam a vacina no braço. E há que se pensar nos casos de covid longa em que a gente sabe que a vacina tem eficácia para diminuir o desenvolvimento”, afirma a epidemiologista Ethel Maciel, professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), à BBC News Brasil.
“A situação é ruim e o atraso do ministério, irresponsável. Não há justificativa para essa delimitação”, completa a médica.
SABOTAGEM DE BOLSONARO
É de conhecimento público a resistência do governo em proteger a população contra a Covid-19. Além de boicotar as medidas de contenção da pandemia, Bolsonaro atrasou o quanto pôde a compra das vacinas.
E, como isso não bastasse, depois de protelar a compra dos imunizantes que teriam poupado a vida de milhares de brasileiros, o presidente espalhou mentiras sobre os efeitos dos protetores. Agora, a mesma covardia e mentiras se repetem quando se trata de vacinas para as crianças.
No mês passado, em meio à campanha do segundo turno em que foi derrotado, o presidente voltou a minimizar as mortes de crianças por Covid. Sem apresentar nenhuma prova, declarou que óbitos nessa faixa etária eram inflados. “Alguém viu alguma criança morrer de covid? É coisa rara”, disse Bolsonaro.
“O que acontecia nesse caso é que chegava uma criança no hospital com traumatismo craniano que caiu da bicicleta e alguns hospitais, maldosamente, botavam na UTI de covid”, completou o presidente anticiência.
Em resposta às mentiras do atual mandatário da República, uma nota conjunta das Sociedades Brasileiras de Pediatria (SBP) e de Imunizações (SBIm) esclarece que a carga da doença na população brasileira de crianças até 5 anos é relevante. Cita que, apenas em 2022, foram registradas 12.634 hospitalizações por Síndrome Respiratória Aguda Grave decorrente de covid com 463 mortes confirmadas.
“Atualmente, com a circulação predominante da variante ômicron e suas diversas sublinhagens em nosso país, esse quadro se mantém, com maior risco de hospitalizações, complicações e mortes em pessoas não vacinadas ou com esquemas incompletos”, alertam as entidades. “Da mesma forma, observamos também entre as crianças um aumento no risco de ocorrência de formas graves da doença”, completam.