O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Alimentação (CNTA-Afins), Artur Bueno, relatou, em entrevista ao HP, que os trabalhadores do setor conquistaram importantes acordos diante da crise causada pela proliferação do coronavírus.
De acordo com Artur Bueno, a atuação das entidades sindicais foi fundamental para garantir a produção. Ele contou que já na primeira quinzena de abril, a CNTA reuniu-se com a Contac (Confederação Brasileira Democrática dos Trabalhadores da Alimentação) “e nossa primeira iniciativa foi reunir todas as federações e sindicatos da categoria para buscar dar continuidade à produção garantindo o emprego, salário e segurança aos trabalhadores no setor”.
“Fizemos um documento apontando as necessidades da categoria que enfrenta em seu dia a dia aglomerações de até 2 mil pessoas nos frigoríficos. Algumas unidades têm até 7 mil pessoas, e entregamos o documento a todos os grandes grupos de empresas, ao governo federal e ministérios, ao STF e ao poder legislativo. O único a se manifestar foi o Ministério da Saúde, mas ainda de forma muito vaga e sem apontar nenhum caminho”.
“Com isso, pressionamos para que se abrisse negociação. Apesar da MP 936 do Bolsonaro permitir acordos individuais, mantivemos a pressão e conseguimos fechar acordo com uma das maiores empresas do setor, a BRF, que tem cerca de 100 mil trabalhadores. Fizemos um acordo garantindo empregos, salários, e também garantindo estabilidade aos mais vulneráveis, os idosos, gestantes, e criamos um comitê para acompanhar isso tudo”, afirmou Artur.
“Mas como não há uma regra em abrir negociação, algumas empresas não abriram, como JBS e Ambev, prejudicando os acordos, além de outros frigoríficos que suspenderam a produção”, relatou.
Artur destacou que, agora, a pressão continua para que o projeto da medida provisória garanta a intermediação dos sindicatos nas negociações. “Estivemos reunidos com o relator do projeto, deputado Orlando Silva, e acreditamos nesse movimento para que esse dispositivo seja alterado garantindo melhores condições de negociações aos trabalhadores”.
Isso tudo, prosseguiu Artur, “em meio às enormes dificuldades enfrentadas pelas empresas, que não estão conseguindo crédito nos bancos para se manterem. E o governo, em vez de resolver os problemas, reduzir as burocracias, vai editando outras medidas, sem corrigir as anteriores, dificultando ainda mais a situação das pequenas e médias empresas, cada vez mais desamparadas. E sob um governo totalmente sem diálogo”. “Infelizmente esse é o quadro, e fica mais claro, nesse momento, a falta que faz o Ministério do Trabalho”, destacou Artur Bueno.