Enquanto números caem, os que não se vacinaram representam mais de 90% das novas internações e a maioria dos óbitos
O avanço da vacinação contra a Covid-19 no Brasil já representa redução significativa de mortes e internações por Covid-19. Pelo menos oito estados do país registraram uma queda de 70% no número de hospitalizações por infecções com o novo coronavírus se comparado ao período auge da pandemia.
Levantamento dos dados das secretarias de Estado da Saúde mostra que com 44% dos brasileiros vacinados completamente (duas doses, ou dose única) e 70% com apenas uma dose: Rio de Janeiro, São Paulo, Ceará, Pará, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Paraíba e Tocantins tiveram quedas expressivas nas internações. Os dados foram coletados pelo Jornal ‘O Globo’.
O Rio de Janeiro, por exemplo, teve em setembro o menor número de novas internações desde o começo da pandemia, contabilizando todos os casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). A classificação abarca todos os casos respiratórios, com diagnóstico para Covid-19 ou não. A analise desta forma é importante pois como muitos municípios tem dificuldade em realizar testes específicos para a Covid-19, não considerar SRAG geraria um alto índice de subnotificação.
No Pará, a redução foi de 90% e no Espírito Santo, queda de 74%. No Rio Grande do Sul, a queda foi de 79% em UTI. Na Paraíba, a queda geral foi de 87%. O Ceará chegou a ter 1.717 leitos de UTI abertos, no dia 6 de abril. Na data, 1.585 pessoas estavam hospitalizadas, 94,4% a mais do que a última terça.
Em Tocantins, houve a internação de um único paciente com Covid-19 na rede estadual na terça-feira. Trata-se de uma queda de 97,7% em comparação aos 45 hospitalizados em um único dia, em 23 de março.
Já o estado de São Paulo apresentou, nesta semana, a taxa mais baixa de internações por Covid-19 em um ano e meio de pandemia. Atualmente, há 4.674 pessoas hospitalizadas na rede pública estadual, sendo 2.244 em unidades de terapia intensiva (UTI) e 2.430 em enfermaria.
Os dados comprovam que, apesar da sabotagem e do discurso antivacina de Jair Bolsonaro, a imunização da população brasileira está colocando à vista a saída do Brasil da pandemia. Durante a Assembleia Geral da ONU, realizada em Nova Iorque no mês de setembro, Bolsonaro falou ao primeiro ministro da Inglaterra, Boris Johnson, em tom de deboche, que não se vacinou contra a Covid-19.
Já Michelle Bolsonaro se vacinou durante a viagem aos EUA, quando estava longe do marido.
Não vacinados representam até 94% das novas internações
Um levantamento no Instituto de Infectologia Emílio Ribas em São Paulo mostrou que 9 a cada 10 pessoas internadas com Síndrome Respiratória Aguda Grave não foram imunizadas contra a Covid-19. O Hospital Ronaldo Gazolla, no Rio, informou que 94% dos internados com a doença não tomaram a vacina.
“Chama muito a atenção o número muito importante de internações confirmadas por Covid em indivíduos ainda não vacinados”, destaca Ana Freitas Ribeiro, médica do Instituto Emílio Ribas.
Olhando de perto o perfil dos vacinados que precisaram de internação, 83% tinham doenças pré-existentes. Ainda assim, menos da metade precisou de UTI.
“É muito bom para que aquelas pessoas que ainda tenham dúvidas em tomar sua vacina ou que estejam com seu calendário atrasado – tomou primeira, falta segunda, falta reforço – que procurem as unidades de saúde e faça sua vacinação”, destacou a médica.
Não vacinados também são maioria entre as mortes
A partir de dados nacionais, outro estudo da Fiocruz, de Mato Grosso do Sul, também aponta os não vacinados como principal foco das mortes.
Os pesquisadores traçaram o perfil de pacientes que não sobreviveram à Covid entre 1° e 26 de setembro. Na população até 59 anos, só 12% dos que morreram tinham completado o esquema de vacinação. Na mesma faixa etária, os não totalmente vacinados somaram 85% do total de mortos.
“A gente tem uma população grande de pessoas que, infelizmente, vieram a óbito com apenas uma dose da vacina. Então, é importante reforçar que a proteção máxima é com 14 dias pós a segunda dose de vacina”, ressalta Júlio Croda, médico infectologista da Fundação Oswaldo Cruz.
No mundo todo, o surgimento de novas variantes do coronavírus trouxe preocupações. No Brasil, os dados mostram que, mesmo diante da Delta, que tem maior capacidade de transmissão, o número de mortes está caindo, e que as vítimas fatais são principalmente pessoas que não completaram o esquema de vacinação.
A Universidade Federal de Minas Gerais olhou de perto a evolução da doença em infectados por diferentes variantes internados no estado. Entre os pacientes que não sobreviveram, 67% não estavam vacinados; 22% tinham apenas uma dose ou menos de 15 dias da segunda; e apenas 11% completaram o esquema de vacinação contra a Covid.
“A gente tem que pensar que toda vez que um vírus encontra uma barreira, que é uma pessoa vacinada, diminui sua chance de transmissão. Então, quanto maior número de pessoas que estiverem vacinadas, menor vai ser a circulação do vírus na nossa população, e muito mais fácil de a gente controlar a pandemia de Covid-19”, explica o virologista da UFMG Renato Santana.