No nosso brinde, vamos também levantar a taça por um ano repleto de reencontros. Porque, sabemos, a única luta que se perde é aquela que se abandona”, destaca o manifesto das Avós, lido na ocasião
“Com profunda emoção, as Avós da Praça de Maio anunciam a restituição da identidade de um novo neto, filho de Lucía Ángela Nadin e Aldo Hugo Quevedo de Mendoza. Assim, são 131 casos resolvidos ao longo desses 45 anos de buscas”, comemorou Estela de Carloto, presidente das Abuelas, durante evento realizado nesta quinta-feira (22) na Casa pela Identidade, ex-Escola Mecânica da Armada (ESMA) – o maior centro de detenção, tortura e extermínio da ditadura argentina. Na oportunidade, Carloto informou que há suspeitas de que o parto tenha acontecido na própria prisão.
“Mais uma vez confirmamos que os quase 300 homens e mulheres que vivem com a identidade falsificada estão entre nós e estamos mais uma vez entusiasmados com um 2023 com mais restituições”, declarou Carlotto, frisando que essa “é uma notícia muito boa, que completa um pouco o prêmio que tivemos com o futebol”. Ainda estão sendo procuradas três centenas de homens e mulheres nascidos entre 1975 e 1983, com cerca de 45 anos, e raptados durante o período ditatorial.
Em relação aos pais do neto 131, as Avós recordam que “eles se conheceram na Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Cuyo e seis meses depois se casaram. Lucía era professora de francês, latim e grego e trabalhou com Aldo em uma oficina de encadernação em Mendoza”. Militantes do Partido Revolucionário dos Trabalhadores-Exército Popular Revolucionário (PRT-ERP), onde foram apelidados de ‘Chiquita’ e ‘Dipy’, os dois se casaram.
Entre setembro e outubro de 1977, informaram as Avós, “Lucía, grávida de dois ou três meses, e Aldo foram seqüestrados na cidade de Buenos Aires”. “A família não sabia que Lucía estava grávida. Com o tempo eles puderam saber da notícia, pelas informações que foram chegando até eles, por meio de pessoas que estavam com o casal antes do sequestro”, lembraram.
PERSISTÊNCIA DAS AVÓS
De acordo com Horacio Pietragalla Corti, secretário nacional de Direitos Humanos da Argentina, se “hoje estejamos comemorando o encontro do neto 131 é porque as Avós têm uma sabedoria incrível e nos ensinam, cada dia mais, a ter clareza e persistir em nosso objetivo”.
Durante o ato foi informado que a denúncia foi realizada pelo Movimento Ecumênico pelos Direitos Humanos (MEDH) de Mendoza, na Comissão Nacional pelo Direito à Identidade (Conadi). A partir daí, com base em uma investigação documental, a ConadiI confirmou a gravidez de Lucía em junho de 2004. Um ano depois, a família Nadin deixou sua amostra no Banco Nacional de Dados Genéticos (BNDG). Em março de 2010, a Comissão conseguiu encontrar o irmão de Aldo e seu perfil foi adicionado ao Banco.
Passaram-se cinco anos e em 2015 foi identificado um homem suspeito de ser filho de desaparecidos. Após análise documental e uma tentativa infrutífera de contato, em 2019, a informação foi remetida pela Conadi para a Unidade Especializada em Casos de Apropriação de Menores em Terrorismo de Estado. Em abril de 2019, a Unidade protocolou a denúncia na Justiça.
A Secretaria Nacional de Direitos Humanos participou da restituição, uma vez que o neto foi notificado pela Coordenação de Atendimento às Testemunhas de Vítimas. A Unidade Especializado havia solicitado a colaboração da Secretaria para notificação e coleta de sangue, o que foi aceito pelo neto. A partir daí, a contribuição de diferentes órgãos do Estado e de entidades da sociedade civil permitiu o frutífero encontro.
“Nestes dias de alegria e celebração, em que sentimos a força do coletivo e o valor da perseverança, encerramos 2022 com a esperança renovada. No nosso brinde, vamos também levantar a taça por um ano repleto de reencontros. Porque, sabemos, a única luta que se perde é aquela que se abandona”, destaca o manifesto das Avós.
Com redobrada determinação, as Avós apelam à sociedade a fim de que todos se somem e repassem qualquer dado ou suspeita de bebê ou criança sequestrada. “Não guarde as informações. Não fique com a dúvida. Quebre o silêncio. Nossos netos e netas estão entre nós”, reiteram.
