Todos os segmentos da economia brasileira exigem redução imediata dos juros para evitar a quebradeira de empresas e o agravamento do desemprego, mas Campos Neto se faz de surdo e mantém os juros reais como o maior do mundo
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, nesta quarta-feira (21), manter a taxa Selic em 13,75% ao ano – patamar em vigor desde agosto de 2022. Esta decisão na prática significa elevação das taxas reais de juros (descontada a inflação) já que esta está em queda.
A decisão, que significa uma afronta do presidente do Banco Central ao país, está em desacordo com praticamente todos os setores econômicos do país. O BC não só não baixou os juros como também não sinalizou para reduções futuras, como aguardavam alguns setores da mídia.
No comunicado, o BC minimiza a queda da inflação e comemora a queda da atividade econômica, como pode ser visto no trecho abaixo, divulgado pelo BC.
“Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores mais recentes de atividade econômica segue consistente com um cenário de desaceleração da economia nos próximos trimestres” , aponta o BC. E prossegue: “O crescimento acima do esperado no primeiro trimestre refletiu principalmente o forte desempenho do setor agropecuário. Não obstante o arrefecimento recente dos índices de inflação cheia ao consumidor, antecipa-se uma elevação da inflação acumulada em doze meses ao longo do segundo semestre“, argumenta.
“Ademais, diversas medidas de inflação subjacente seguem acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação. As expectativas de inflação para 2023 e 2024 apuradas pela pesquisa Focus recuaram e encontram-se em torno de 5,1% e 4,0%, respectivamente“, diz a nota.
Ou seja, nenhum sinal de que Campos Neto e o Copom mudarão a sua sabotagem à economia do país. Pelo contrário, o BC aponta manutenção deste descalabro por um longo tempo, como se vê em seguida. “O Copom conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas e avalia que a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado tem se mostrado adequada para assegurar a convergência da inflação”.
“O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; (ii) alguma incerteza residual sobre o desenho final do arcabouço fiscal a ser aprovado pelo Congresso Nacional e, de forma mais relevante para a condução da política monetária, seus impactos sobre as expectativas para as trajetórias da dívida pública e da inflação, e sobre os ativos de risco; e (iii) uma desancoragem maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos“.
O cinismo do BC e tão grande que ele trata a tendência de queda da inflação, observada pelo país nas últimas semanas, como “risco”. A conferir: “Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma queda adicional dos preços das commodities internacionais em moeda local, ainda que parte importante desse movimento já tenha sido verificado; (ii) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada, em particular em função de condições adversas no sistema financeiro global; e (iii) uma desaceleração na concessão doméstica de crédito maior do que seria compatível com o atual estágio do ciclo de política monetária“, diz o BC.
Não há, pelo comunicado do BC, como dissemos acima, nenhuma perspectiva de redução das taxas de juros. “O Comitê avalia que a conjuntura demanda paciência e serenidade na condução da política monetária e relembra que os passos futuros da política monetária dependerão da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos“, conclui o Copom.
AFRONTA AO PAÍS
Esta foi a quarta reunião do Copom neste ano em que as taxas são mantidas. Em todas as ocasiões, o comitê decidiu não alterar o nível da taxa básica de juros. O juro real do Brasil é o maior do mundo. Com a redução da inflação, os juros reais estão subindo, como denunciaram ministros, economistas, empresários, trabalhadores e o próprio presidente da República.
Nesta quarta-feira (21), 51 integrantes do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável da Presidência da República, chamado de Conselhão, se juntaram às críticas e divulgaram uma carta aberta ao presidente do Banco Central e aos diretores da instituição pedindo corte na taxa básica de juro. “É hora de baixar os juros para retomar a atividade econômica, gerar emprego e renda. É urgente uma política monetária adequada”, diz um trecho da carta ao BC, divulgada hoje.
O presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), Luiz França, saiu em defesa da redução dos juros no país na reunião de hoje do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC). “É fundamental que a gente, nesta reunião do Copom, já inicie a redução da taxa de juros no Brasil”, declarou à CNN, após sua intervenção no 4º Fórum de Inovação e Liderança da Incorporação (FILI 2023), realizado em São Paulo, na terça-feira (20).
A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) divulgou nota defendendo a redução dos juros pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central.
De acordo com a entidade, “as elevadas taxas básicas de juros colocaram os juros de mercado nas alturas impactando negativamente a renda das famílias e das empresas. Ao analisar os indicadores recentes de atividade econômica, se observa uma importante desaceleração. Os investimentos em máquinas e equipamentos, já em queda no último trimestre de 2022, registraram queda de 6,5% neste início de ano (jan-mai) podendo comprometer o futuro do crescimento do país”.
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Márcio de Lima Leite, em entrevista ao Canal Livre da BandNews, no domingo (18) advertiu que os juros altos estão sendo um entrave para as vendas. “A inflação caiu, então com isso, os juros reais estão mais caros”.
“Nós não estamos na metade do ano, 14 fábricas pararam as suas produções por demanda. De Janeiro a maio deste ano nós tivemos 14 paralisações por falta de demanda. Agora nós temos mais uma montadora parada, essa semana, então, nós estamos com 15 paralisações. Há uma expectativa de mais três fábricas pararem porque os estoques estão altos”, disse o presidente da Anfavea.
O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloízio Mercadante, afirmou na terça-feira (20), durante a comemoração dos 71 anos do banco de fomento, que o atual nível da taxa de juros do Brasil, em 13,75%, é um obstáculo à função social da instituição e ao crédito em geral, o que resulta na retração do crédito às empresas e no aumento de inadimplência das pessoas físicas e jurídicas.
“A inflação desabou, mas nós estamos com a taxa de juros crescendo em termos reais. Essa taxa de juros é um obstáculo a nossa função social de um banco de desenvolvimento e ao crédito de forma geral”, declarou Mercadante na abertura do evento Nosso Passado, Presente e Futuro, no Rio de Janeiro.
O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes da Silva, divulgou nota nesta terça-feira (20) afirmando que nada justifica o Banco Central manter nesta quarta-feira (21) a taxa básica de juros em 13,75%.
“Este é um momento crucial para a autoridade monetária decidir pelo início do ciclo de baixa da taxa de referência, dando fôlego à economia. Nada justifica o Brasil seguir com o título de campeão mundial de juros reais”, afirma Josué Gomes. “A dinâmica inflacionária está contida. Resta acertar a política monetária, até para termos tranquilidade para darmos atenção aos demais problemas que impedem o desenvolvimento pleno do país”, destaca.
As centrais sindicais voltaram às ruas, na terça-feira (20), em protestos contra juros altos do Banco Central. Em São Paulo, o ato foi em frente à sede do BC, na Avenida Paulista, onde os sindicalistas ressaltaram a urgência de se reduzir a taxa Selic, mantida pelo Comitê de Políticas Monetárias (Copom) do Banco Central em 13,75%.
“Nós, que defendemos um projeto nacional de desenvolvimento, com valorização do trabalho e distribuição de renda, visando combater essa brutal desigualdade em nosso país, não podemos admitir uma taxa de juros brutal dessa que causa o desemprego, que afoga a reindustrialização. Precisamos reduzir as taxas de juros já, para que possamos colocar o Banco Central a serviço do país, da população brasileira. Para que possamos resgatar um programa nacional de desenvolvimento”, afirmou do carro de som o presidente estadual da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Rene Vicente.
As decisões do Copom em manter a Selic em 13,75% foram alvos de críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de ministros do governo. “Apenas o juro precisa baixar, porque também não tem explicação. O presidente do Banco Central precisa explicar, não a mim, porque eu já sei o porquê ele não baixa, mas ao povo brasileiro e ao Senado, [explicar] por que ele não baixa [a taxa]”, disse Lula em entrevista na segunda-feira (19).
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, fez críticas ao Banco Central (BC) nesta terça-feira (20) durante almoço da Frente Parlamentar do Empreendedorismo, em Brasília. “Nada justifica esse patamar de juros”, disse. Rui Costa afirmou ainda que o Banco Central “não está mantendo a taxa de juros” em 13,75%, “está aumentando a taxa de juros” praticada no país.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta segunda-feira (19) que o início de corte da taxa básica de juros (Selic) deveria ter ocorrido em março deste ano. “Pra mim, deveria ter sido em março o início da redução. Vamos ver, vamos aguardar”, disse Haddad, em conversa com jornalistas na Fazenda. Ele disse isso ao ser questionado sobre a previsão do “mercado” de redução em agosto.