“O projeto de reforma da Previdência do governo reduz direitos constitucionais e ameaça a vida de milhões de brasileiros, de modo especial os socialmente vulneráveis”, denunciou Dom Reginaldo Andrietta, Bispo Diocesano de Jales. Segundo ele, “a Constituição de 1988, ainda em vigor, assegurou um sistema avançado de proteção social, conquistado a duras penas pela classe trabalhadora no bojo das lutas pela redemocratização do Brasil. A classe dominante jamais aceitou esse e outros avanços que, em última instância, apenas asseguram as bases para a construção de uma sociedade verdadeiramente democrática e justa”.
Dom Reginado afirma que “os argumentos utilizados para essa reforma previdenciária são enganadores. O déficit alegado é falso. Essa constatação foi feita pela própria Comissão Parlamentar de Inquérito, constatando que a Previdência Social é, na realidade superavitária”. “A Constituição está sendo mutilada”, acrescentou. “Causa espanto o argumento utilizado pelo Presidente da República de que o brasileiro daqui a pouco viverá 140 anos”, destacou o religioso. “O que estão fazendo é insaturar a barbárie. Perde-se a civilidade”, diz.
Ele denunciou o congelamento por 20 anos dos gastos com programas sociais e a recente reforma trabalhista. “Elas ferem gravemente nossa ‘Constituição Cidadã'”, argumentou. “Agora, a Proposta de Emenda Constitucional 287, que reforma a Previdência Social, se for aprovada, dificultará o acesso à aposentadoria de milhões de trabalhadores, especialmente rurais, reduzirá drasticamente o acesso ao Benefício de Prestação Continuada, que é o benefício assistencial ao idoso e à pessoa com deficiência, e cortará pela metade as pensões de viúvas e viúvos”, prossegue.
“Este governo age como Pilatos que ‘lavou as mãos’ na condenação de Jesus. Trata-se da política do ‘Estado Mínimo’ que se exime de sua responsabilidade de proteger sobretudo os mais desvalidos”, apontou o líder da igreja. “O grau de respeito à dignidade humana de uma nação deve ser também medido por seu sistema de proteção social. A Doutrina Social da Igreja é clara na definição do papel do Estado de salvaguardar os direitos sobretudo dos mais pobres, garantindo, por exemplo, acesso a um sistema de proteção social que não esteja submetido à lógica mercantil. Afinal, proteção social deve ser comprada?”, questiona.
O bispo lembrou o evangélio para apontar a resistência do povo. “O livro de Levítico 19,32 exorta: ‘Levante-se diante de uma pessoa de cabelos brancos e honre o ancião…!’ Que tal, então, levantarmo-nos em respeito às pessoas idosas de hoje e de amanhã? Que seja um ‘levante popular’, evidentemente pacífico”, propôs. “Que tal, por exemplo, distribuirmos ostensivamente, ‘santinhos’ com nomes, fotos e partidos políticos dos legisladores que votarem a favor dessa reforma da previdência, denunciando-os em seus ‘currais eleitorais’? David venceu Golias com uma simples funda. A força dos fracos está nas ações simples e contundentes”, lembrou.