“Não foi tão grave assim”, disse o “mito”. Prefeitos denunciaram que os pastores só liberavam verbas em troca de propina em dinheiro, em barras de ouro ou em compra de bíblias. Pastor que recolhia propina depositou R$ 50 mil na conta da mulher do ex-ministro
O escândalo da propina dos pastores no MEC e a prisão do ex-ministro Milton Ribeiro e os demais criminosos deixaram Bolsonaro em má situação. Ele vivia enchendo a boca para dizer que em seu governo não havia corrupção, quando, na verdade, o que existe em seu governo, desde o início, é uma perseguição feroz a quem investiga ou denuncia atos de corrupção.
Na live desta quinta-feira (23), Bolsonaro acabou confessando que exagerou ao dizer que colocava a cara no fogo por seu ministro, quando o escândalo veio à tona. “Eu exagerei, mas eu boto a mão no fogo pelo Milton”, disse. Quando um desembargador “amigo” mandou soltar o ex-ministro, ele já mudou o tom. “Não foi tão grave assim”, disse.
O ex-ministro havia sido flagrado numa reunião com prefeitos no Ministério, que foi vazada, dizendo que o pedido para entregar as verbas nas mãos do pastores propineiros era do próprio presidente.
Bolsonaro saiu em defesa dos pedidos de propina por parte dos pastores. Disse que é uma corrupçãozinha de nada, “sem muita importância”. “Foi só tráfico de influência”, explicou ele, tentando normalizar o crime cometido dentro de seu governo. “Isso é comum”, acrescentou.
Ao mesmo tempo em que ele tenta minimizar o roubo escancarado das verbas da Educação, interfere ilegalmente na investigação, como denunciou o próprio delegado responsável pelo caso.
Não é de hoje que Bolsonaro impede que haja investigação de corrupção em seu governo. Logo que assumiu, iniciou uma perseguição feroz ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeira), órgão de fiscalização de movimentações financeiras suspeitas, que havia denunciado o desvio de recursos milionários da Assembleia Legilativa do Rio (Alerj) pelo seu filho, Flávio Bolsonaro e seu faz-de-tudo, Fabrício Queiroz, no esquema chamado de rachadinha. Enquanto não anulou o órgão não sossegou.
Depois, investiu contra a Receita Federal, que havia revelado a lavagem de dinheiro roubado por Flávio Bolsonaro da Alerj, feita através de compra e venda irregular de imóveis. A receita também descobriu que Flávio usava uma loja de chocolate que ele possuía num Shopping de luxo na Barra para lavar o dinheiro roubado no legislativo fluminense.
O golpe definitivo na Receita, com a mudança, inclusive, da direção do órgão, e até de seu ouvidor, foi quando a instituição, junto com o Ministério Público, descobriu que a lavagem passava também pela milícia de Rio das Pedras, chefiada à época pelo assassino profissional Adriano Nóbrega. A mãe do marginal e a ex-mulher eram contratadas como funcionárias fantasmas do gabinete de Flávio Bolsonaro e repassavam parte do salário para o deputado e a outra parte para a milícia.
Mas não parou por aí a intenção de Bolsonaro em anular os órgãos de combate à corrupção. Havia um esquema de ameaças diretas a quem investigava ou denunciava. Isso ficou claro agora, quando o juiz que mandou prender Milton Ribeiro revelou que sofreu centenas de ameaças.
Outro fato que demonstra essa postura de Bolsonaro se deu no caso do servidor da Saúde, Luiz Ricardo Miranda, que denunciou as propinas na compra da vacina Covaxin, durante a pandemia. Depois de levar as denúncias a Bolsonaro, junto com seu irmão que é deputado federal, foi exonerado e hoje mora fora do país com a família, depois de sofrer ameaças de morte.
Mesmo depois da PF ter pedido a prisão de Ribeiro, por estar convicta de que havia uma organização criminosa organizada, que contava com o respaldo do então ministro, exigindo propina dentro do Ministério da Educação para liberar verba do Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação (FNDE), Bolsonaro disse que continua confiando em seu ex-ministro.
“Continuo acreditando no Milton. Se aparecer alguma coisa, [que] responda pelos seus atos”, disse ele na live. Se aparecer? Ora, o próprio Ribeiro afirmou com todas as letras na gravação que a liberação das verbas passava pelo pastor a pedido de Bolsonaro, o que corrupção em sua forma mais cristalina.
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